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O Governo Dilma, a Reaproximação com os Intelectuais e a Imaginação para Pensar a Nação

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Mangabeira Unger

Na semana que passou, foram significativos os gestos do governo Dilma em direção a uma reaproximação com a elite intelectual do país. Depois de um período de rupturas e distanciamentos com intelectuais que ajudaram na construção dos ideais do Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação, e que contribuíam no passado para alimentar a imaginação política do PT (a exemplo de Sergio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e Celso Furtado), o PT e o governo Dilma resolveram trazer para dentro da gestão governamental nomes de peso das ciências humanas.

Primeiro foi Roberto Mangabeira Unger na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Com o histórico de ter lecionado na Universidade de Harvard, referência mundial nos estudos de filosofia política e teoria da democracia, citado por Jürgen Habermas e outros gigantes da intelectualidade mais cosmopolita, Mangabeira Unger é um intelectual que cultiva uma visão de totalidade dos problemas e impasses civilizatórios do Brasil.

Em seguiJesséda, o sociólogo potiguar Jessé Souza foi para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o que pode representar um distanciamento inédito com o economicismo que reinava nas interpretações e diagnósticos de problemas sociais. Souza, também a exemplo de Mangabeira Unger, é um intelectual com sólida formação teórica, um dos cientistas sociais brasileiros mais criativo na atualidade e com visão de totalidade sobre os dilemas da sociedade brasileira.

Por último, a nomeação de Renato Janine Ribeiro no Ministério da Educação. Dos três intelectuais mencionados, Janine Ribeiro foi e é a maior e mais impactante surpresa política. Professor titular da Universidade de São Paulo, referência nacional em ética e teoria política, Janine Ribeiro também é conhecido pelo seu forte engajamento na esfera pública, onde costuma publicar artigos de opinião principalmente sobre a política no Brasil. Respeitado tanto por políticos do PT quanto do PSDB, Janine Ribeiro também é um intelectual brasileiro que não se furta a pensar o Brasil a partir de um olhar de totalidade.

Mangabeira Unger (SAE), Jessé Souza (Ipea) e Renato Janine Ribeiro (MEC). Três intelectuais de peso agora fazem parte da gestão governamental do país. Os três, mais Juca Ferreira no Ministério da Cultura (MinC), podem representar o núcleo forte da representação intelectual no governo Dilma. E todos com imaginação para criação e inovação política. Assim como a política de valorização dos pontos de cultura e da riqueza multicural e étnica brasileira tem sido a principal contribuição de Juca Ferreira na gestão do MinC, Mangabeira Unger, Jessé Souza e Janine Ribeiro podem possibilitar inovação na gestão de políticas públicas do país. Certamente, não falta imaginação intelectual e política aos três.

Por fim, convém também dizer algumas palavras sobre a maneira como a imprensa brasileira tem noticiado a nomeação de Renato Janine para janine ribeiroa pasta responsável pela política nacional de educação. Em um breve sobrevoo sobre o conteúdo das manchetes, artigos e editoriais de jornalismo que tratam da indicação do novo ministro da educação, é marcante a ideia de que se tratou de uma indicação “técnica” ou “não-política”. Ainda capturados por uma visão valorativa e dual da relação entre e “política” e “técnica”, os jornalistas parecem ainda incapazes de reconhecer a natureza “política” na escolha de Renato Janine Ribeiro. Apesar da não filiação “partidária” do novo ministro da educação, é de conhecimento público a sua identificação ideológica com a afirmação ética do liberalismo político (este, nem sempre converge com o liberalismo econômico) e com a politização permanente do social na esfera pública.

Janine Riberio, em seus escritos, não somente tem abordado as implicações éticas das práticas de corrupção nas instâncias públicas e privadas, mas também amplia a reflexão sobre a relação ética que a sociedade brasileira estabelece ou/e deveria estabelecer com os seus “bens comuns”, a exemplo do grau de democratização do social – educação, saúde, uso público dos serviços de equipamentos urbanos e, claro, o próprio sentido cultural e prático de democracia.  É um intelectual que eleva o debate na esfera pública brasileira, justamente porque solicita de todos nós uma sensibilidade com a justiça como o cultivo da obrigação cívica que devemos ter com o bem comum. Em tempos de ódio com o “outro” diferente e ignorância generalizada sobre nossos bens sociais, Renato Janine Ribeiro representa uma aposta política e ética alta na busca de reconstrução dos consensos civilizatórios mínimos em nosso país. Em relação ao ponto de partida, Janine Ribeiro está no lugar certo para reconstrução de consensos civilizatórios. Agora, de fato, a expressão “pátria educadora” pode fazer sentido.