Domingo é dia de final na província do Rio Grande aqui do Norte. Não é exatamente uma final de campeonato onde o “tudo ou nada” entra em cena proporcionando boas histórias e personagens marcantes, já que o sistema de disputa é pontos corridos, mas é o jogo que vai decidir o campeão do primeiro turno do campeonato estadual.
Alecrim e América duelam na Arena das Dunas pela ultima rodada do turno e, como chegaram até aqui nas duas primeiras colocações, decidem o título num jogo com conotação de final de campeonato.
E dia de decisão é diferente. Ser campeão é bom demais. Eu sei que o Alecrim não é tão forte como em anos passados e que um Clássico-Rei possui um apelo infinitamente maior, mas não há como negar que o clima de ansiedade e tensão de uma final acaba sempre existindo.
É o dia de sair de casa vestido com as cores do seu time do coração. É o dia de apostar na fé para que o seu artilheiro esteja num dia abençoado ou mesmo para que seu Santo de preferência isole a baliza do teu goleiro pra não passar nem pensamento. É o dia de ativar o modo máximo do nosso sistema nervoso. A flor da pele. É dia de aflorar as mais diversas emoções e os mais estranhos sentimentos. Sem dúvida, alguém vai deixar o estádio sorrindo, pulando e vibrando pela vitória feito uma criança que ganha um pirulito em dia de Cosme e Damião, enquanto o outro vai amargar e lamentar as chances desperdiçadas.
E quem já teve a oportunidade de vivenciar – como eu tive – os meandros do meio futebolístico, já sentiu essas emoções estando dos dois lados. Seja entre milhares de torcedores apaixonadas na arquibancada, dentro do vestiário na hora da oração final antes de subir pro campo ou a beira do gramado, vivendo cada segundo que antecede a peleja, é incrivelmente difícil explicar o que se sente.
A minha passagem pelo futebol é repleta de boas histórias. Perdi as contas de quantas finais pude efetivamente participar. Lembro que fomos campeões em cinco delas – quatro estaduais e uma vez brasileiro – e disputamos no mínimo umas sete finais, sem contabilizar as disputas de finais de turnos, fases e torneios menos importantes. Uma dessas eu guardo com nitidez na memória e tenho certeza que vou levá-la até o fim da vida: o jogo do acesso no Brasileiro da Série C de 2007.
Aquele foi um ano especial para todos. Depois de uma temporada desastrosa em 2006, havíamos conquistado o titulo estadual, mesmo não tendo um grande time, passando por cima de todos na superação. Na final, uma goleada de 5 a 2 com um show de Wallyson que dispensa apresentações. E o acesso à Série B, no fim do ano, mesmo sendo de uma divisão inferior, representou a redenção. Foi o ano da volta por cima.
Lembro que Natal respirava aquela final. O ABC precisava vencer o Bragantino, que viria a ser o campeão, e torcer para um tropeço do Atlético/GO. Na partida anterior havíamos perdido exatamente para o Atlético, o que nos deixava em situação delicada para a rodada final. Na véspera do jogo decisivo tive uma conversa rápida com o volante Jean, um dos destaques daquele time. Desabafei. Não acreditava que conseguiríamos o acesso. As palavras da resposta de Jean foram: “Acredite! Vai dar certo! Nós vamos ganhar”.
A vitória sobre o Bragantino e a derrota do Atlético para o Barras do Piauí selou a vaga do ABC na Série B. Entrei em campo chorando, atravessei uma multidão de torcedores que haviam pulado o alambrado e consegui chegar ao vestiário. Ao entrar, Jean apontou para a minha direção, me cumprimentou e entusiasmado falou: “Eu te disse! Deu certo! Nós ganhamos”.
Até hoje não consigo explicar o que senti naquela noite. Só sei que vivi aquilo intensamente e posso afirmar com todas as letras que ser campeão é bom demais.