Caro Eduardo Rocha, sou um admirador convicto de seu trabalho por tudo que já fizestes pelo meu time do coração. Comemorei, saí às ruas e vibrei feito uma criança quando o meu América subiu para primeira divisão. E mais: por alguns instantes fui o homem mais feliz do mundo quando conquistamos a Copa do Nordeste de 1998. Tenho muito a te agradecer.
Mas peço que não me leve a mal. Não concordei quando você disse que a escalada da violência é o principal culpado pelo desinteresse do público nos estádios do Rio Grande do Norte.
Você tem absoluta razão quando diz que a violência desmedida de falsos torcedores, sujeitos que promovem badernas e arruaças, afasta as pessoas dos jogos. Não há como negar. Inclusive, nos últimos dois clássicos, eu mesmo fiquei em casa vendo pela televisão. Mas não é só isso.
Meu amigo Eduardo, estamos de fronte de um círculo vicioso. Uma crise que começou quando o futebol resolveu ser profissional e nossos clubes continuaram com gestões amadoras, não empresariais, sem responsabilidade orçamentária e com ambientes políticos conturbados. Há de se convir, Eduardo, que muitos dos nossos torcedores deixaram de ir à campo por não suportar tantas notícias negativas nos bastidores dos nossos clubes.
Outra coisa, Eduardo, é que muito endividado, a situação se torna insustentável e, na tentativa de controlar as finanças, nossos gestores precisam reduzir os investimentos no departamento de futebol. Com isso, o elenco enfraquece e os resultados não vêm. Surgem os jejuns de títulos e os rebaixamentos. Os resultados ruins afastam os torcedores e os patrocinadores.
Além do mais, no passado eu ia aos jogos para assistir meus ídolos. Hoje, no time atual, não tenho ídolos para assistir. Creio que isso também afasta nossos torcedores do estádio, Eduardo.
E com esses elencos fracos e a ausência de craques e ídolos, posso listar mais um motivo forte para nossos torcedores desistirem de ir à campo: a baixa qualidade dos jogos. Eduardo, entre um forró na sexta noite ou um cinema no sábado à tarde, não tenha dúvida que o campeonato potiguar fica pra escanteio. Pense nos torcedores mais jovens, que não viveram os tempos de glórias do América. Esses, sem dúvida, vão preferir assistir um clássico paulista ou um jogo do Barcelona de Messi, Neymar e Suarez no horário nobre da TV. E se por acaso eles ainda optem por nossos clubes, eles podem ver os jogos pelo pay per view. Quer motivo melhor pra ficar em casa!?
E tem mais Eduardo. Na época em que um Clássico-Rei lotava o Machadão numa tarde de domingo, eu pagava R$ 10,00 para entrar. Ao lado estavam advogados, médicos, juízes, pedreiros, garis e desempregados. Todos tinham condições de frequentar os estádios, caro Eduardo. Ingresso caro afasta até o mais apaixonado torcedor do estádio.
Eu sei que a sensação de insegurança realmente é um fator de alto impacto para tirar nossos torcedores dos jogos. Mas não posso negar que mesmo que resolvêssemos o problema da violência de hoje em dia, o preço injusto que pagamos pelos ingressos já seria o suficiente para limitar a presença de torcedores nos estádios. Afinal, e eu sei que você deve concordar comigo, o pão de cada dia é mais importante que torcer por qualquer time de futebol.
Enfim, Eduardo. Gostaria de deixar claro que sei da sua capacidade para levar nosso América ao topo novamente. Sou seu aliado nessa batalha até o fim. Mas espero que entenda que o torcedor não vai voltar aos estádios apenas com a punição dos falsos torcedores. De nada vai adiantar prender os baderneiros se não eliminarmos tanto desequilíbrio, dívidas e derrotas dos nossos clubes.
Ass.: Um torcedor inteligente.