Esta semana, lendo o livro “Anos 40: viagem à década sem Copa”, do jornalista Roberto Sander, descobri em quem o Rei – título midiático dado a Pelé – buscou inspiração para ser o maior jogador de futebol de todos os tempos. Pelé quando criança e adolescente em Três Corações e, mais tarde em Bauru, tinha como ídolo Tomás Soares da Silva, mais conhecido como Zizinho, atacante do Flamengo e da Seleção Brasileira na década de 40, período onde o futebol brasileiro ganhava contornos de profissionalismo. Não era pra menos, Zizinho foi eleito o melhor jogador da Copa de 1950, ano em que o Rei completava dez anos de idade.
Pois é, ídolo também tem ídolo. Creio que uma das poucas exceções foi Garrincha. Aquele era incrivelmente diferente. Vestir a camisa do time da fábrica de tecidos de Pau Grande, onde nasceu, do Botafogo ou da Seleção não era mais que obrigação. O que ele queria era jogar pelada, disse Ney Castro, autor da biografia do jogador. O que ele queria mesmo era passar por todos os marcadores que aparecessem na sua frente. Não torcia para nenhum time, muito menos tinha ídolo.
Mas voltando ao Rei, há de se destacar que seu reinado nas década de 60/70 serviu de inspiração para muitos jovens jogadores que foram surgindo nos anos seguintes. Um exemplo claro da representação de Pelé para o futebol é que o Doutor Sócrates, ídolo do Corínthians, declarou com todas as letras que era torcedor do Santos devido ao escrete vencedor, comandado por Pelé, que possuía o Peixe nos anos 70. Sócrates teve Pelé como ídolo.
Passeando pela linha do tempo, na mesma época em que Sócrates aparecia para o futebol, outro grande craque se mostrava para o mundo: Arthur Antunes Coimbra, mais conhecido como Zico. O ídolo do futuro ídolo da nação rubro-negra era um nordestino chamado Dida, que atuou pelo Flamengo anos antes que o Galinho. Ainda em Quintino, Zico tentava imitar um camisa 10 que saiu do CSA de Alagoas e brilhou com a camisa rubro-negra na década de 50, conquistando os títulos cariocas de 1954, 55 e 63.
E se Zico teve em que se espelhar, o que dizer dos craques a quem ele serviu de espelho. E que baita espelho. Um espelho mágico. Dois grandes atacantes que marcaram seus nomes na história das Copas do Mundo dos anos 90 e 2000 – Bebeto e Ronaldo Fenômeno – apontaram Zico como referência maior no futebol. Jogava muito, esse Galinho. Pena que eu não vi esse craque jogar.
Com a virada do século, o futebol também parece ter virado de ponta a cabeça. Os ídolos dos ídolos não são mais os ídolos dos nossos ídolos. Ronaldinho Gaúcho é uma espécie de arremedo de Garrincha, não liga muito pro futebol. Certa vez, ao ficar de fora da lista de convocados para a Copa do Mundo de 2010, afirmou que não iria ver os jogos, tinha coisa melhor para fazer. Sobre ter ídolo, o craque disse: “meu maior ídolo é o meu irmão – Assis. Ele é um exemplo de pai, de irmão e de jogador”.
Craques como o alemão Podolski, o espanhol Fábregas e o argentino Lionel Messi apontaram jogadores brasileiros como grandes ídolos. A cada geração os ídolos e seus ídolos se renovam. O alemão revela que “todos os garotos tinham um ídolo, e o meu era Rivaldo”. Rivaldo também inspirou a imaginação de Fábregas: “era um absurdo dentro de campo”. Messi cita Ronaldo e vai mais longe: “ele era o meu herói”.
Por fim, chegamos a última geração de craques. O maior do Brasil no momento é Neymar. Apesar de ser exemplo para uma geração inteira, não sei se ele pode já ser chamado de ídolo. Para mim, não. Nas atitudes deixa muito a desejar, não consegue encantar. Talvez por não possuir referências. Em uma entrevista Neymar afirmou se espelhar nos ex-jogadores Romário e Ronaldo. Alguns meses depois apontou Rivaldo como inspiração. Depois citou Ronaldinho Gaúcho, Paulista, Paranaense, Carioca, Goiano, Mineiro, Baiano, Cearense, Capixaba, Paraense…