Mais uma vez o preconceito racial foi elevado ao pódio das telas das TVs do mundo. Desta vez, o caso aconteceu no metrô de Paris, após o primeiro jogo – aliás, um joguinho chato – entre Paris Saint Germain e Chelsea, pela Ligas dos Campeões da Europa. Foi na volta pra casa que um grupo de torcedores do time inglês impediu que um negro entrasse no vagão, chegando a empurrá-lo para fora, sob gritos de ‘Somos racistas! É dessa forma que gostamos’.
Não foi a primeira vez – muito menos será a última – que o racismo figura no futebol. São muitos Aranhas e Daniéis Alves espalhados pelo planeta. Casos como esse do metrô de Paris são corriqueiros no dia a dia desse mundo arraigado de males, que já escravizou negros e índios, exterminou judeus e jogou bananas para seres humanos evoluídos. É um mal da sociedade, não do esporte.
O preconceito está em tudo. Você também, em algum momento da sua vida, deve ter cometido algum ato. A sociedade cria estereótipos a todo o momento. Todo político é corrupto, todo médico é doutor, quem é da Petrobras rouba, policial é violento. E assim vamos julgando e praticando nossos pecados. Soube de um caso em que um diretor de alta administração de uma grande empresa tentou proibir os funcionários de baixo calão de utilizar o mesmo banheiro em que os chefes faziam suas necessidades. O que ele pensa? Tem fezes de ouro?
No futebol, já vi torcedor espanhol jogar banana para jogador brasileiro. Já soube de um torcedor que proclamou palavras racistas para um goleiro negro de um time daqui de Natal e acabou preso. Quem não se lembra do caso Aranha, goleiro do Santos? Teve um caso recente no campeonato paraibano também. Um torcedor do Santa Cruz foi detido por chamar o treinador de goleiros do Lucena, time rival, de macaco. Ele teria gritado “cala a boca, macaco” duas vezes. Foi autuado por injúria racial e corre risco de reclusão de um a três anos e ainda pagar uma singela multa.
E olha que eu não fui muito a fundo na questão. Apenas citei casos recentes de grande repercussão. Se sairmos mais longe, nos longínquos anos de 1940, quando o futebol brasileiro se abreviava aos principais centros do país – Rio e São Paulo – o Fluminense, que era modelo de clube organizado, cometeu um ato que nos dias de hoje seria no mínimo um crime. O futebol acabara de se formalizar como profissional no Brasil e a cartolagem tricolor, composta por aristocratas e elitistas, utilizaram o fato como desculpa para que os jogadores negros não ingressassem pelo mesmo portão das Laranjeiras que entravam os brancos. Com o profissionalismo, os atletas – incluindo os negros – se tornaram funcionários e, portanto teriam que usar a entrada de serviço. Dessa forma, a elite branca do Fluminense não era “obrigada” a cruzar com negros durante os jogos – apesar de estarem nas arquibancadas vibrando com os gols e espetáculos dos jogadores negros.
Por fim, é certo que o racismo no futebol sempre aconteceu. Mesmo que o presidente da Fifa afirme que não há espaço, ele sempre encontra uma brecha. Em Barcelona, Natal, na vizinha Paraíba ou no metrô de Paris, eles vão continuar ocorrendo em grande número. Mas se serve de alento, entendo que houve um avanço significativo na reação – tanto das autoridades, como popular. No episódio da entrada de serviço do Fluminense nada foi dito, nenhuma atitude foi tomada para desfazer a injustiça cometida por sócios esnobes da época. Mas que bom que hoje temos quem nos ampare – não sou negro, mas sou um ser humano como os negros também são -, temos estrutura para repelir e acima de tudo leis para castigar os criminosos.