Por Andrea Monteiro, Professora do IFRN
Dada largada da corrida presidencial, do nada surgiram carros adesivados com palavras de ordem exclamando o “Fora Dilma e leve o PT junto”. Quando eu tinha 16 anos, em Natal aconteceu a movimentação de algumas pessoas distribuindo adesivos com a frase “Fora Collor Já”. Naquela época, a insatisfação em relação ao governo Collor era bastante acentuada, e eu, com a minha total ignorância em relação ao jogo político do país, achei interessante porque quem estava por trás daquele movimento eram pessoas pelas quais eu tinha uma certa admiração. Sendo pessoas próximas, é claro que aquilo era algo bom. O que eu ainda não tinha era a capacidade de entender que mesmo pessoas próximas a nós podem ser contraditórias em suas ações, seus reais interesse e valores. Um dos desdobramentos da insatisfação de alguns setores, naquela época, foi a cassação do presidente. O “Fora Collor” deu certo. Mas me pergunto: o que justifica esse sentimento tão acirrado de insatisfação em relação ao atual governo? Nos últimos 4 anos, vivi a condição de nômade. Passei um tempo em Campina Grande-PB, Porto Velho-RO, Teresina-PE e Petrolina-PE. E gora, estando no RN, quando vejo a distribuição desses adesivos nas portas dos shoppings, a sensação de um eterno retorno toma conta de mim. Durante esse tempo, tive a oportunidade de atravessar várias fronteiras entre Estados do nordeste e as paisagens, fruto das mudanças sociais e econômicas são visíveis. Não há como negar. Estradas, obras de infraestruturas- transnordestina em Salgueiro-, interiorização das escolas técnicas, políticas pública de distribuição de renda – como mecanismo de erradicação da miséria, tendo um resultado positivo no período de seca, impedindo os saques e controlando a migração campo-cidade-, impulso do comércio nas pequenas cidades, ganhos reais de salário, aumento dos empregos públicos, enfim, algumas mudanças sociais e econômicas que coloco apenas com a intensão de levantar elementos para iniciar uma reflexão. Pois bem, uma pergunta provocativa insiste: se, de fato temos, e realmente temos, obras e ações positivas, o que foi que o governo Dilma esqueceu de fazer, ou não conseguiu fazer que justifique esse sentimento de insatisfação e que irrompe com força tal qual um rastilho de pólvora ameaçando o país? Alguns amigos são confiantes e falam que o voto de Dilma está nas pequenas cidades do interior, e como digo, nos últimos anos as mudanças foram significativas nas pequenas cidades. Se a vida melhorou nas pequenas, isso garantiria a vitória de Dilma? Será? Onde está o problema, então? O problema não está na zona rural, não está nas pequenas cidades. Vamos aos dados: 1)Em maio, o TSE divulgou o número de 114 milhões de pessoas aptas a votar este ano; 2) Segundo os dados do IBGE , hoje, a população brasileira é de mais de 200 milhões de pessoas. Desse total, temos a seguinte distribuição por região: região centro-oeste 7,4%, região sul 14,4%, região nordeste 27,8% e sudeste 42,1%. Então, vamos reconhecer que existe um mal-estar, e esse sentimento advém da população das grandes cidades. Devemos levar em consideração que desses 200 milhões de habitantes, 80% vivem nas áreas urbanas. Então, o que está acontecendo nas regiões metropolitanas que justifique a rejeição ao governo? A ferida que se abriu foi gerada pelos problemas surgidos do modelo de crescimento e de urbanização das cidades. O movimento dos jovens nas ruas em junho de 2013 foi um sintoma. Ele trazia consigo o grau da doença produzida pelo estilo de vida pautada no consumo, shopping center, fast food e as sociabilidades virtuais. Em um modelo de cidade contaminado pelo medo, a insegurança, e elevado índice de criminalidade; onde não existe espaço público e gratuito de encontros, ruas ocupadas com os milhares e milhares de motos, produzindo um trânsito lento, barulhento e violento – no Brasil, os números de acidentes e mortes no transito é um dos maiores do mundo. Viver nas grandes cidades brasileiras – Rio, São Paulo, Fortaleza, Recife, Belo Horizonte, é perde grande parte do tempo do dia dentro do carro ou do ônibus na ida para o trabalho ou estudo. Não sobra tempo para as simples coisa que nos dão sentido e satisfação, como: fazer as refeições em casa, acompanhar os filhos e fortalecer nossas relações pessoais. Se alguém disser que faz tempo que não sabe o que é namorar e que a culpa é do governo, não deixará de ter razão. Não creio que discursos contra a corrupção e reforma da política- que soa nos meus ouvidos como puro moralismo- sejam pautas fortes suficientes para marcar um posicionamento contrário ao atual governo. Ao final do dia, o trabalhador, a dona de casa, e os jovens sedentos por juventude, estão todos cansados e incomodados com as questões e os problemas urbanos porque são eles que afetam suas vidas mais diretamente. Agora, construir um mundo melhor em um país gigantesco com o nosso, em um curto espaço de tempo, é tarefa impossível para qualquer governo, dado que muitos desses problemas são de ordem histórica e estrutural. Fico na esperança que o imediatismo não prevaleça na hora de votarmos.