Henrique Alves e Wilma de Faria, postulantes ao governo e senado, respectivamente; entraram na fase final de pré-campanha, tentando construir uma armadura contra o debate e a comparação entre os candidatos e seus projetos (ou falta deles). O primeiro momento de apresentação dos nomes que compõem a coligação foi rapidamente substituído por uma retórica contrária aquilo que Henrique e Wilma vêm chamando de radicalismo. “O Rio Grande do Norte não quer radicalismo”, “união para fazer o Rio Grande do Norte crescer sem radicalismos” e por aí vai. Mas afinal: o que isto significa? Nada. Não há proposição. Só estratégia. Uma defesa que visa se transformar, ao mesmo tempo, em ataque aos oponentes.
Ao utilizar essa palavra-gatilho, Alves e Maia querem, logo de partida, evitar a confrontação entre as chapas, os integrantes e suas trajetórias. É um escudo. Um modo de não responder a nenhum questionamento, cercear o escrutínio de intenções e das histórias de construção da atividade política dos concorrentes. O objetivo é entrar no pleito sem nenhuma explicação, sequer, a emprestar.
Henrique Alves inundou a imprensa nos últimos meses com uma suposta base desenvolvimentista em que ele aparece como o benfeitor de tudo e de todos. Mas o grupo de oposição pode fazer uma pergunta que qualquer eleitor em algum momento fará: e porque não propôs e executou antes quando foi governo pelos mais de quarenta anos? Henrique tem a resposta na ponta da língua: isto é radicalismo. A mesma indagação Fátima poderá direcionar para Wilma, sua adversária no pleito ao Senado. E a esquiva não será lá muito diferente: radicalismo.
O antídoto será ainda mais utilizado quando acontecer a inevitável acareação no tocante aos aspectos éticos. A vida pregressa, digamos. Quem terá a tranquiliadde de afirmar que é ficha limpa? Quem está, de fio a pavio, atravessado por escândalos? São quesitos em que Henrique e Wilma levam clara desvantagem. E a contrapartida virá em tempo real: radicalismo.
Há outro sentido que o uso do enquadramento radicalismo deseja progredir. Uma pecha para o Partido dos Trabalhadores que já se encontra num passado bem distante: a de que o PT é isolacionista e sectário. E mais: justificar a estranha união entre o PMDB de Henrique e Garibaldi, o PSB de Wilma de Faria e o DEM de José Agripino Maia, algo que o norte-riograndense vem tendo dificuldade de deglutir. O eleitor, ao contrário do que muita gente imagina, raciocina, tem senso de história e desconfia da formação da coligação baleia liderada pelo bacurau. Por que se juntaram depois de décadas de disputas? Por qual razão Wilma de Faria abriu mão da candidatura ao governo do RN para se encaixar, um pouco tortamente, na asa de Henrique? Resposta: o fim do radicalismo. Todas as possíveis contradições serão varridas para debaixo do tapete. Ou melhor: do tampão discursivo.
Em resumo: através da acusação de radical, Henrique e Wilma querem calar a dissonância, estancar a própria discussão e aterrar qualquer iniciativa alternativa de mostrar um outro modo de fazer política e lutar pelo Rio Grande do Norte no Senado federal. Sem eleição, sem acirramento Henrique e Wilma atropelam. Não porque são os melhores, sim pela estrutura política e financeira que conseguiram reunir em torno do chapão.
Mas o feitiço pode se voltar contra o feiticeiro. Afinal, até agora há uma atitude extremista bastante clara: a de encaminhar um pleito ao completo arrepio da competição, cortando a cabeça de todo e qualquer oponente. A procura de ganhar sem democracia. Há algo mais radical do que isto? Ao contrário do que as práticas de Henrique e Wilma deixam entrever, será o eleitor, em seu protagonismo soberano, que irá dizer quem é radical e quem merece seu voto.