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Estatística x ciências sociais? Quem lidera a confecção de uma sondagem eleitoral?

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images (3)Os sofistas se tornaram amplamente conhecidos pelo diálogo socrático – O sofista – escrito por Platão no século V a. C. Eles também ganharam notoriedade por serem acusados de lançar questões baseadas em falsos argumentos. Contemporaneamente, quando alguém desenvolve uma “pergunta enviesada” é logo chamado de sofista. Esta denominação tem suas limitações e também o seu “quê” de verdade.

O fato é que as “falsas questões” não foram apenas desenvolvidas por aquele grupo de gregos. As indagações viciadas, que se baseiam em noções infundadas, estão presentes em todos os espaços da nossa sociedade, e, inclusive, no acirrado mercado de trabalho. Uma, por exemplo, sempre me chamou a atenção – quem lidera a efetivação da pesquisa eleitoral? É o estatístico ou o cientista social?

Há quem defenda que a pesquisa de opinião deva ser empreendida por um estatístico, já que, sem sua contribuição no momento da construção de uma amostra que respeite a representatividade do universo de entrevistados e a posterior tabulação dos dados coletados, o resultado não aparece ou é obtido de modo inadequado. Para os estatísticos, sondagem é uma questão numérica.

Já os cientistas sociais tendem a atribuir maior importância ao momento em que a coleta de dados é desenvolvida e a maneira como os resultados são analisados. As informações só podem ser coletadas se é feito uso de toda uma metodologia clara e objetiva. Os números não falam sozinhos. Eles precisam ser refletidos, dizem os sociólogos, antropólogos, politicólogos, economistas e psicólogos que fazem parte do processo de pesquisa.

Até aqui seguimos cada um dos argumentos bem de perto. Porém, se sua compreensão sobre a confecção da pesquisa eleitoral tem um ponto de vista correto, ela é ao mesmo tempo insuficiente e incompleta, pois nos mostra somente um dos aspectos da realidade multidisciplinar das sondagens. É preciso que se entenda que um levantamento, para atingir critérios mínimos de objetividade e representatividade, deve atuar de maneira a privilegiar a composição de uma equipe aberta.

Assim, bem longe de existir entre o estatístico e o cientista social o antagonismo tantas vezes imaginado. Na realidade, a pesquisa de opinião é obra de um olhar, que deve respeitar a síntese de múltiplas determinações. Em matéria de sondagem não pode existir reserva de mercado. E mais: número não é sinônimo de reserva do estatístico e, muito menos, relação social e política do cientista social. A própria separação estabelecida aqui é relativamente arbitrária.

A pesquisa só é efetivada se estiver munida pelos métodos estatísticos, que permitem reduzir as incertezas e compor de maneira representativa à amostra; e pela visão analítico-contextual capitaneada pelas ciências sociais. A objetividade quantitativa gerada pela estatística deve se aliar à imparcialidade contexto-social agregada pelas ciências sociais.

Portanto, o que importa é desfazer a indagação sofista construída em torno da “ciência líder” da sondagem e re-pensar o levantamento como o resultado de um conjunto de contribuições profissionais e de seus conhecimentos constitutivos. A qualidade do trabalho realizado dependerá, em grande medida, dessa concepção de partida.