O conhecido Bispo de Hipona, Santo Agostinho (350-430) escreveu em sua obra “Cidade de Deus”, publicada em 426, o seguinte: “dois amores distintos fundaram duas cidades distintas: o amor a si mesmo levado ao desprezo de deus fundou a cidade dos homens; o amor a deus levado ao desprezo de si mesmo fundou a cidade de deus”. Dois amores distintos, duas cidades distintas.
Pois bem, na última semana causou frisson e incomodo no meio político a inserção partidária do Partido dos Trabalhadores que alertava para os possíveis “fantasmas do passado”que voltariam a assombrar o país caso candidatos da oposição viessem a ser eleitos. A oposição e a imprensa que a sustenta viram na peça publicitária a repetição de algo que o próprio PT havia sido vítima em 2002: aestratégia do medo. Mas, a nosso ver, tal como os dois amores elencados por Santo Agostinho, trata-se aqui de dois medos diferentes.
Em 2002 a atriz Regina Duarte apareceu em nossas telas para anunciar seu medo com a possível eleição de Luis Inácio Lula da Silva. Seu medo devia-se ao fato de que o Brasil, segundo ela, “pode perder toda a estabilidade conquistada” (a de se perguntar que estabilidade, uma vez que o país havia quebrado três vezes e solicitado ajuda ao FMI por três vezes), Lula não era mais conhecido por ela, havia mudado, e “isso dá medo na gente”, segundo a namoradinha do Brasil. Seu medo estava na possibilidade e no desconhecimento, em outras palavras, era um medo de possibilidade, de provável. O amor aqui, para usar os termos do Bispo de Hipona, é um amor por uma futuro que poderia acontecer, sem indícios calcados no real.
Em 2014, a propaganda do PT é diferente. O partido fala da volta de coisas que o partido combateu em suas gestões: desemprego, inflação, diminuição da pobreza. É no real que a propaganda se ancora, não na possibilidade. Lula cuidou de aumentar a renda, combater a inflação e aumentar a oferta de emprego. O candidato primaz da oposição, Aécio Neves já falou abertamente de tomar “medidas impopulares” para governar o país (quem se prejudica com isso? Não são exatamente aqueles que estão representados na peça publicitária?) e seu guru econômico já falou em salário mínimo “muito alto”. Logo, há um solo no qual a inserção petista se ancora.
Dois argumentos distintos, dois medos distintos, dois brasis distintos.