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Por Fábio Farias, Jornalista
O vídeo tem menos de um minuto. Nele, o humorista Fábio Porchat tripudia com os habitantes de Natal. Diz que, apesar da beleza da cidade, nela só há gente feia. Quase uma “casa de praia do demônio”. Por essa característica, Natal deveria se chamar, segundo ele, Halloween.
Mais engraçada que a piada – que sim é muito boa – é a reação de parte das pessoas. Muita gente levou a troça a sério e ficou realmente irritada com o que o humorista disse.
Isso tudo ao ponto de pedirem boicote do show que ele pretende fazer na cidade no dia 22 de maio.
Em tempos de “O Gigante Acordou” não me surpreenderia de ver gente fazendo um protesto formal contra Porchat. E nem me surpreenderia se, na Câmara Municipal, proporem algum tipo de menção tipo persona non grata para ele.
É interessante essa reação ao humor.
Trabalhar com comédia é sempre andar numa linha tênue entre o ofender e o ser engraçado.
Muitas vezes para ser engraçada, a piada tem um certo caráter ofensivo. É normal. Piadas com gaúchos, por exemplo, sempre questionam a sexualidade dos homens de lá. Os portugueses, então, sempre colocados como burros.
E até em Natal, essa cidade melindrosa, há troça com os mossoroenses. Ou são matutos, ou não muito inteligentes, ou feios ou comem sanduíche com garfo e faca.
Tudo motivo de piada.
Assim como são as charges, as piadas são uma versão distorcida da realidade. Há um exagero e este exagero é que faz com que cada um de nós gargalhe ao ouvir uma história dessas.
Isso não significa necessariamente que a história, causo, ou piada é real. Ela é uma ficção para entreter fazer rir e só, passou.
Imagina se todos os gaúchos se unissem contra as piadas dos gaúchos. Ou se todos os paraibanos proibissem a entrada de humoristas que fazem troça com eles. Ou se os portugueses baixassem uma lei que proibiria piadas de portugueses em terras lusitanas?
Seria uma situação tão ridícula, como é essa reação a piada do Fábio Porchat com os natalenses.
O mais irônico é que o humor está no ridículo, o que acaba fazendo disso tudo, inclusive essa equivocada reação negativa, algo cômico.
Com um bônus: e ainda mostra o grau de província que a cidade mantém.