Por Ivenio Hermes
No Sábado de Aleluia, dia 19 de abril de 2014, o Rio Grande do Norte chegou à marca dos 500 crimes violentos letais intencionais, mas as festividades religiosas não foram o suficiente para arrefecer o ímpeto da criminalidade, tornando esse feriado da Semana Santa, o mais violento do ano.
A Violência No Feriado Religioso
Continuando seu curso, a média homicida se manteve acima de 4 assassinatos por dia, mantendo uma linha de tendência que pode suplantar o número de assassinatos do ano de 2013.
Os 23 crimes violentos letais intencionais que ocorreram no feriado da semana santa desse ano, se concentraram em 10 cidades, como mostra o infográfico acima. Não esquecendo que em menos de 48 horas após a divulgação do homicímetro contabilizando 500 cvli, mais 18 crimes letais aconteceram, numa média estarrecedora de 9 crimes em menos de dois dias.
O alarme dessa constatação é grande e ainda se acumula ao dado de que somente na capital do estado foram registrados 11 assassinatos, fazendo com que Natal some individualmente 48% do total.
As demais cidades, ainda bem, ficaram longe de alcançar essa marca, mas em Mossoró, Assu e Parnamirim aconteceram 2 homicídios cada, ou seja, 9% e somando entre elas mais 27% dos crimes letais do feriado prolongado. As cidades de Caraúbas, Touros, Nísia Floresta, Goianinha, Extremoz e Ielmo Marinho, tiveram 1 crime violento letal intencional cada, concluindo a contagem dos crimes deste feriado.
Num breve comparativo com mesmo período no ano de 2013, no qual ocorreram 12 assassinatos, constatamos um aumento de quase 100% em um curto período de tempo, apenas um ano.
Na imagem acima, os crimes letais provocados pela violência homicida foram separados pelos respectivos dias em que ocorreram, onde se percebe que o clímax da violência foi justamente o sábado (18/04), quando houve homicídios em 7 das 10 cidades participantes do teatro criminal do feriado. Foram 10 assassinatos em um único dia, contabilizando 44% dos crimes ocorridos no feriado.
Foram 3 homicídios em Natal, 2 em Assu e 1 em cada uma das demais cidades restantes.
No mesmo ritmo continuou o fim de semana. No domingo ocorreram 8 assassinatos, e pasmem, 5 deles em Natal, culminando com a morte de uma menor, na segunda-feira dia 21 de abril, no bairro Dix-Sept Rosado, supostamente vítima da violência feminicida de seu namorado, crime que encerrou nossa contagem para esse artigo.
Antes de encerrar o feriadão, pois hoje ainda é feriado, comemorativo ao Dia de Tiradentes, ter saído de 495 (que era o número antes do início do feriado), e chagado à marca de 518 cvli, no maior feriado religioso nacional, nos leva a refletir sobre os freios morais, sociais, legais e outros que não estão mais funcionando no seio de nossa sociedade.
Os algozes não foram tocados pelo significado do período e sentenciaram suas vítimas mesmo assim, numa contagem de 23 vidas ceifadas em 82 horas compreendidas entre a 0h de sexta-feira e às 10hs dessa segunda-feira.
Nos 10 assassinatos ocorridos no sábado dia 19, na capital do estado, Natal, destacamos o bairro Lagoa Azul, onde foram registradas 3 ocorrências, fazendo com que a taxa por cem habitantes chegue a 25,54, ultrapassando a média nacional de 25,3 cvli/100 mil hab. Ainda na Zona Norte da cidade, tivemos um crime em Potengi e 1 em Nossa Senhora da Apresentação, que chegam a 17,22 e 26,7 cvli/100 mil habitantes respectivamente, sendo o último também acima da média nacional.
Na Zona Sul, um crime ocorrido no bairro de Nova Descoberta.
Na Zona Leste, também um crime, ocorrido no bairro de Mãe Luíza, que é conhecido por seu elevado índice de violência que já atingiu 47,21 cvli/100 mil habitantes e sendo destacado em outros artigos. Finalmente, na Zona Oeste, tivemos ocorrência de crimes em três bairros, Dix-sept Rosado (segunda-feira pela manhã do dia 21/4), Nazaré e Cidade Nova, com 1 crime em cada.
Considerações Finais
Os crimes violentos letais intencionais reafirmam a característica migratória de suas ocorrências buscando este ou aquele local onde a presença do Estado não está bem estabelecida ou é indiferente. Destarte, as ocorrências se mostram pulverizadas em todas as regiões onde haveria uma presença mais significativa de ações de policiamento e combate ao crime, e também adotam comportamento semelhante no restante do Estado.
As probabilidades de aumento desse quadro são perceptíveis nos crimes contra a vida que não atingiram o intento letal, ou seja, as tentativas de homicídios, cujo número elevado de 19 não se consolidaram por acaso ou pela atuação das equipes de socorro médico. E a incidência de tentativas de homicídio tem sido destaque principalmente em Mossoró e Macaíba.
O feriado religioso foi ineficaz para deter a violência homicida e os criminosos não estão alheios à promessa de paralisação dos motoristas do transporte coletivo e de policiais e bombeiros militares para o dia 22 de abril. Após cinco dias sem trabalho, a sociedade potiguar aproxima-se de um dia que pode ser outra amostra do caos em que a segurança pública potiguar está inserida.
Resta ao cidadão rogar por um entendimento entre representantes do governo e das categorias afetadas, pois nesse momento a sociedade civil deseja que o curso das águas caudalosas do Rio Grande de Morte seja freado.
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SOBRE O AUTOR:
Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Colaborador e Associado Pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial.
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DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:
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HERMES, Ivenio. Águas Caudalosas do Rio Grande de Morte: A Violência na Semana Santa. Disponível em: < http://j.mp/1l1688y >. Publicado em: 21 abr. 2014.