Casos de Outra Metrópole Dispersa
Por Ivenio Hermes
Mossoró há muito tempo já não pode ser um problema isolado, sua capacidade de influência como grande centro urbano e cultural, é ampliada pela formação plural de seus habitantes, e como em todas as grandes regiões metropolitanas, mantêm os municípios próximos circulando em sua órbita.
Uma Nova Região Metropolitana
Para efeitos deste estudo, consideraremos como “região metropolitana” apenas os municípios que fazem limite direto com Mossoró, ou seja, Tibau, Grossos, Areia Branca, Serra do Mel, Assu, Upanema, Governador Dix-Sept Rosado e Baraúna.
Apresentando um índice acima da média nacional, que é de 25,4 homicídios por cem mil habitantes, a assim chamada Região Metropolitana de Mossoró apresenta índices preocupantes. Em primeiro lugar, aparece Serra do Mel com 37,75 homicídios por 100mil-hab, não muito atrás temos Baraúna, também com um alto índice, apresentando 34,16 cvli/100mil-hab. Essas duas cidades juntas acumulam 17% dos cvli da região, somando-se com Mossoró, que tem 59% (15,70 cvli/100mil-hab), alcançamos a marca de 76% do total de cvli cometidos na região.
Os dados das demais cidades: Areia Branca, Assu e Governador Dix-sept Rosado, como podem ser observados no gráfico, completam as informações com os 24% restantes. Vale ressaltar que Tibau, Grossos e Upanema ainda não inauguraram o mapa do crime.
Desses Crimes Violentos Letais, depuramos um outro dado alarmante: a idade das vítimas. Em Mossoró temos o maior índice de assassinato de jovens, do total dos crimes, 16 foram cometidos contra menores, ou seja, 70%. Os outros 30% se dividem entre Assu, com 1, Areia Branca com 2 e Baraúna com 4 assassinatos de jovens.
Numa rápida projeção de dados, posicionando as atuais políticas públicas para a Região, o crime continuará ganhando força, pois as ações previstas na Gestão de Rosalba Ciarlini, tão somente visam o corredor turístico da Copa do Mundo de 2014, que não beneficiará essa região que possui aspectos peculiares. Um deles é o relevo e a formação de Serra do Mel, cujo emaranhado do desenho urbano/rural de suas regiões administrativas, propiciam refúgio e abrigo para pessoas com condutas desviantes.
Além disso, Mossoró, Baraúna e Tibau tem em seu mapa político uma divisa com o Estado do Ceará, precisamente o município de Aracati, que também pode ser usado com meio de acesso e de fuga, haja vista a grande extensão de área divisional além das estradas e rodovias policiadas.
Nessa plêiade de fragilidades, a Região Metropolitana de Mossoró, merece bem mais que a mera divisão de um batalhão em dois e sem acréscimo de policiais.
Crimes nos Bairros
O ano de 2014 inaugurou a violência em grandes números nos bairros de Mossoró, e mesmo em alguns dias quando a paz parece reinar, é apenas o efeito estufa de uma violência prestes a eclodir.
Foram 14 homicídios praticados na Zona Sul e um índice de 18,86 cvli/100mil-hab, sendo Belo Horizonte o bairro mais violento, com 43% dos crimes e 70,63 cvli/100mil-hab. Na Zona Norte ocorreu 10 homicídios, gerando um índice de 13,06 cvli/100mil-hab, e aqui destacamos o bairro Santo Antonio, onde concentra 80% dos crimes, com taxa de 41,87 cvli/100mil-hab.
A Zona Oeste também apresenta 10 homicídios, divididos entre Santa Delmira com 4 (40% dos crimes da região) e Abolição e Vila Maísa com 3 crimes e 30% cada um, apresentando uma taxa de 12,13 e 77,52 cvli/100mil-hab respectivamente. A Zona Leste apresenta o menor número de crimes: 6 homicídios, com taxa de 8,16 cvli/100-hab.
Entretanto, a surpresa fica para a Zona Rural, atingida com 4 homicídios, apresentando a elevada taxa de 190,48 cvli/100mil-hab. Mossoró, diferentemente de Natal, conta com uma Zona Central e esta não escapou da violência, pois já conta 3 crimes, com destaque para o bairro Paredões que acumula 2 deles, gerando uma taxa de 23,96 cvli/100mil-hab, ou seja, 67% dos crimes da região.
O padrão interno da cidade concentra maior número de homicídios de jovens na Zona Sul, que retém 30% dos crimes (13 cvli), seguida de perto pelas outras zonas em escala de redução de incidência quanto mais se aproxime da Zona Central. Isso se deve à soma de forças com a Guarda Civil Municipal, que vive uma situação de enfrentamento heroico da criminalidade, pois esses homens não possuem o direito ao porte de arma completo.
A contribuição da Guarda Municipal de Mossoró para o controle de ações criminosas, para paz e a ordem social é muito relevante. Mulheres e homens são profissionais qualificados e devidamente preparados para ampliar a segurança do cidadão mossoroense. Em suas rotinas de trabalho, além de fazerem a segurança patrimonial de prédios e obras de arte da prefeitura, como praças e monumentos, os GM fazem detenções de drogados, conduzem criminosos, impedem brigas, recuperam e redistribuem documentos perdidos, entre outras ações, constituindo-se em força essencial para a segurança e legitimam-se no contato cordato com a população em geral.
Valorizar essa Guarda Municipal dando aos seus homens condições de trabalho com equipamento e segurança, pode ser uma solução extra a ser adotada em Mossoró.
No próximo trimestre…
Atualmente, a população da Região Metropolitana de Mossoró é expectadora de cenas de violência e barbárie, contando e somando casos de uma outra metrópole dispersa e esquecida, sendo em alguns deles até protagonista e coadjuvante, sendo vitimizada por criminosos que não poupam munição nos crimes mais assustosos contra a vida.
Foram três meses em que essa região viu grandes ações da Guarda Civil Municipal, das polícias Civil e Militar, ações da Polícia Rodoviária Federal, do Ministério Público e da Polícia Federal, sem que com isso houvesse sensível resultado, mesmo com ações corajosas dos operadores de segurança pública, o que volta à máxima afirmativa de que há falta da presença do policiamento de primeiro impacto, a atividade ostensiva, e do policiamento de continuidade, a atividade de investigação e de produção de provas pelo setor técnico-científico.
O primeiro trimestre deixou para trás um saldo de 73 mortes na região, sendo 44 somente em Mossoró, e o novo trimestre se inicia com 8 crimes violentos letais intencionais, sendo 3 em Mossoró.
Novas e urgentes políticas de segurança pública devem ser adotadas além do corredor de segurança da Copa, pois o crime tende a migrar para as regiões mais frágeis. Essa análise empírico-estatística da violência homicida tem o objetivo de dar um novo alerta para o quadro de insegurança em todo o Rio Grande do Norte, que precisa esvaziar essa represa de violência caudalosa que descaracteriza e desfigura o pacífico povo potiguar, fazendo uma falsa propaganda de nosso povo, nossos costumes e nossa terra. E como diz Marcos Dionisio Medeiros Caldas, Presidente do Conselho Estadual de Direito Humanos e Cidadania do RN, “é imprescindível desautorizar o Rio Grande de Morte”.
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AGRADECIMENTOS:
Ao advogado Marcos Dionisio Medeiros Caldas que me oportunizou a parceria para trabalhar nessa pesquisa e todas as outras relacionadas à violência homicida através do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania/RN.
Ao jornalista Cezar Alves que não poupa esforços e consubstanciar informações para as pesquisas da violência homicida.
À cientista política Sáskia Sandrinelli pela dedicação a esse trabalho como revisora e editora.
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SOBRE O AUTOR:
Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Colaborador e Associado Pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial.
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DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:
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HERMES, Ivenio. Violência Homicida no RN: Uma análise empírico-estatística (Parte 2). Casos de Outra Metrópole Dispersa. Disponível em: < http://j.mp/OlDpfe >. Publicado em: 08 abr. 2014.