Por Ivenio Hermes e Filipe Valentim
Perdendo a identidade
Sob a possibilidade de manter uma distância confortável dos problemas dos outros, e uma aproximação sugadora da felicidade que esses mesmos outros exibem, muitos recorrem à facilidade das amizades virtuais, que nem sempre se solidificam no campo material e nem se sustentam nos momentos de necessidade em que percebemos o quanto precisamos uns dos outros.
E nessa atmosfera, acumulam-se as amizades baseadas na coleção de perfis (nem sempre verdadeiros), cujas fotos (nem sempre reais), que são responsáveis pelo repasse de informações (nem sempre verdadeiras) e que nem foram lidas por inteiros e nem seu conteúdo considerado, apenas pelo simples fato de possuir imagens atrativas (nem sempre reais).
Perdendo a identidade, como meros repetidores, alguns vagam sem saber o que buscam, pois não sabem no que creem, nem o que devem saber, apenas temendo a opinião dos outros ou sem nem saber o que temer.
Devo ser?
Andava lembrando meus feitos
Alguns com e outros sem efeitos
Por que crer no valer?
O que se pode valer?
No que crer?
Devo crer?
Talvez as águas inacabem
Talvez eu nunca desmorone
Talvez eu caia e me levante
Eu não sei o que você sente
Por que queremos saber?
Por que querer?
Devo saber?
Não há mais medo
Na verdade, perder o medo
Não me fez deixar de temer
Agora eu temo o próprio medo
Por que não ser amedrontado?
No que devo ter medo?
O algo ou o temível?
Devo temer?
Fantasmas Cibernautas
Nessa cultura de manter distância ou aproximação dos outros de acordo com a própria conveniência, a verdadeira sabedoria sucumbe ante à imitação do saber de outrem, mimetizando comportamentos considerados mais aceitáveis do que outros. O que importa é angariar simpatizantes, ampliar o leque de perfis colecionáveis e compartilhar frases de autores desconhecidos ou até de conhecidos, mas que pouco se conhece de suas ideias, do contexto em que foram formadas e suas frases proferidas, ou mesmo se elas pertencem de fato àquele autor a quem foram atribuídas.
E como fantasmas cibernautas vagando pelas páginas da internet, pessoas perdem o tempo dedicando a ler conteúdos densos e duráveis, na prática busca de imagens atrativas, de frases que não as representam…
A essência se perde… Pessoas se tornam falsos sábios e desconhecem o que verdadeiramente são… Vazios de ideias… Repletos de emoções… Sem tempo para perceber que aquilo que elas mesmas postam, não condiz com sua realidade nem com seu comportamento.
Sábio
Eu não sei
Ser sábio
Por já ser
Eu já sei
Ser sábio
Por não ser
Ser sábio
É ser o não ser
Que sabe do saber.
Pressupostos…
Não devemos nos deixar guiar por conjecturas da realidade enlatada, que está disposta na imensidão do cosmo cibernético, pois nossa viagem maior está em conhecermos a nós mesmos, explorarmos nosso eu real e demonstrá-lo em ideias e ideais firmes e com propósitos bem definidos.
Se somos repetidores, que sejamos daquilo que realmente conhecemos, conscientes da realidade e não baseados em pressupostos de sabedoria.
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SOBRE OS AUTORES:
Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Colaborador e Associado Pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial.
Filipe Mendes é um pensador, escritor e poeta contemporâneo, que compartilha sua rebeldia poética diariamente através de haicais, poemas, poesias e textos poéticos em sua Fanpage O Alquimista das Palavras onde o redescobrimento da essência humana é o mote criativo.
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DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:
É autorizada a reprodução do texto e das informações em todo ou em parte desde que respeitado o devido crédito ao(s) autor(es).
HERMES, Ivenio; VALENTIM, Filipe. Fantasmas Cibernautas em Pressupostos de Sabedoria. Disponível em: < http://j.mp/PW24c5 >. Publicado em: 20 mar. 2014.