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A Intermitência da Segurança: Breve Estatística Sobre Perdas Eternas

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Por Ivenio Hermes

As frias informações traduzidas em números não são capazes, mesmo sendo números que são, de quantificar a intensidade da dor de quem parte, não para outra parte qualquer desse mundo, mas para outra parte, também qualquer, além do que a vida.

Diante das perdas que se numeram, os habitantes das terras de Poti choram as mortes que já somam 382, ceifadas por crimes violentos letais intencionais.

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“A propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem.” José Saramago (As Intermitências da Morte)

Dos 43 municípios que compõem a Região Agreste, 9 já inauguraram sua temporada de perdas com 26 vidas, e a Região Central, que possui 37 municípios, em 11 já houveram 21 vítimas de crimes violentos letais intencionais.

A maior região do Estado é a Oeste, com 62 municípios e destes, 22 perderam 88 vidas, sendo que Mossoró, a maior cidade do grupo, possui 38 perdas causadas pela violência homicida.

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“A morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por isso seja triste.” José Saramago (As Intermitências da Morte)

Na Região Leste, embora com menos munícipios em sua composição, pois são apenas 25, possui o maior número de perdas de vidas, já somam 245. Esse número emblemático se dá pela sua densidade demográfica, proximidade da capital. Dos 25 municípios, 9 fazem parte da Grande Natal, a Região Metropolitana, que concentra as dores de 236 perdas de vidas humanas.

Os dois únicos municípios da Região Metropolitana que não são parte da Região Leste são Monte Alegre e Vera Cruz. Essas duas cidades pertencem à Região Agreste e suas famílias ainda não choram perdas em 2014, e esperemos que assim continuem.

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“A prudência só serve para adiar o inevitável, mais cedo ou mais tarde acaba por se render.” José Saramago (As Intermitências da Morte)

A Capital do Estado sozinha já sofreu 139 perdas de vidas em assassinatos, e o limite prudencial continua sendo o alegado bloqueador da prudência em salvar vidas, afinal, como disse Saramago (2005), essa prudência toda somente adia o inevitável, isto é, fazer o que é certo para evitar mais perdas.

E assim na Capital Potiguar, dividida em quatro zonas, temos o seguinte índice de perdas:

Zona Norte 57

Nossa Senhora da Apresentação com 17, Pajuçara com 12, Lagoa Azul com 10, Potengi com 7, Igapó com 6 e Redinha com 5.

Zona Sul 18

Pitimbu com 5, Lagoa Nova e Neópolis com 4 em cada, Ponta Negra com 3 e Nova Descoberta com 2.

Zona Leste 16

Mãe Luíza com 5, Rocas, Cidade Alta, Petrópolis, Areia Preta e Alecrim, cada um com 2 cvli e Tirol com 1.

Zona Oeste 46

Felipe Camarão com 13, Bom Pastor com 7, Quintas e Dix-Sept Rosado com 6 em cada, Planalto com 5, Cidade da Esperança com 4, Nazaré com 3, e Cidade Nova e Guarapes com 1 em cada.

E infelizmente, ainda temos mais duas perdas cujos bairros não foram determinados.

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“Aí está uma palavra que soa bem, cheia de promessas e certezas, dizes metamorfose e segues adiante, parece que não vês que as palavras são rótulos que se pegam às cousas, não são as cousas, nunca saberá como são as cousas, nem sequer que nomes são na realidade os seus, porque os nomes que lhes deste não são mais que isso, os nomes que lhes deste.” José Saramago (As Intermitências da Morte)

E o cidadão potiguar continua ouvindo promessas de boas novas, enquanto a morte segue seu curso implacável e auxiliada pelos que não mantém a palavra verdadeira, ceifa vidas antes do tempo.

A Despedida

A foto acima de O Câmera, transmite o efeito devastador no semblante do pai diante do corpo sem vida do filho, pois pra ele, seu filho nunca será estatística. Essa imagem icônica retrata o resultado da impunidade que impera, culminando nesse momento onde se mistura o reconhecimento do filho, a dor da perda, a bênção final e a despedida de um pai impotente diante da morte.

Com a segurança pública potiguar incursa numa intermitência prolongada, nomes se transformam em rótulos indigentes ou em frias e momentâneas estatísticas pós final de semana, que mesmo que tragam alguns nomes, sua breve passagem pelas notícias nem quinze minutos de fama conquistam, pois logo serão números perdidos em tabelas no mapa da violência.

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CITAÇÕES:

SARAMAGO, José. As Intermitências da Morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 208 p. (Prêmio Nobel).

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Colaborador e Associado Pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial.

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DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:

É autorizada a reprodução do texto e das informações em todo ou em parte desde que respeitado o devido crédito ao(s) autor(es).

HERMES, Ivenio. A Intermitência da Segurança: Breve Estatística Sobre Perdas Eternas. Disponível em: < http://j.mp/1gvVu6M >. Publicado em: 24 mar. 2014.