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A Rússia e a (im)provável nova Guerra da Criméia

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Por Thadeu de Souza Brandão

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A história se repetiria duas vezes, uma como tragédia e a outra como farsa, parafraseou Marx em seu “18 Brumário de Luís Bonaparte”, acerca do golpe executado pelo sobrinho do ex-Imperador Napoleão, Luís Bonaparte, sagrado Imperador dos franceses como seu tio, quase cinquenta anos antes. Citando corretamente Marx:

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. (…) Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (MARX, 1997, p. 21).

As circunstâncias impostas pelo presente levaram ao malogro Bonapartista, em contraposição à tragédia anterior. O que temos no quadro de hoje, na Velha Europa? Temos um ranço de disputa imperialista, cuja matiz russa remonta não à URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) mas, ao velho Império Czarista e sua amplitude geográfica e de povos. A Ucrânia, desde a formação do Império Russo, sempre foi uma área de interesse imediato: terras férteis e localização fundamental junto ao lago eslavo: o Mar Negro.

Invariavelmente, os ucranianos sempre foram alvo de intervenções e dominação direta russa. A debácle da URSS fez emergir uma série de nacionalismos locais e, dentre eles, o ucraniano. Este, a fim de se proteger da Rússia, se aproximou da Europa Ocidental (leia-se Alemanha, Inglaterra e França). Afinal, os “bárbaros do Leste” são uma ameaça sempre potencial ao Oeste.

O que há de novo neste front afinal? Pouquíssima coisa, afora o contexto e as “circunstâncias” que os atores políticos (indivíduos e nações) estão jogando este velho tabuleiro. Apesar da globalização e do propagado “livre mercado”, o acesso territorial aos portos, a tubulações de petróleo e à terras férteis ainda é fundamental para a manutenção de grandes nações. A Rússia, potência militar e nuclear, ainda que decadente, impõe à forma antiga (lembrando Hitler em 1938 e seus argumentos para a ocupação da Tchecoslováquia e os Sudetos) suas intenções “diplomáticas”. A Europa responde também à moda antiga, com a variante que não responde sozinha, mas apoiada pelos Estados Unidos, na defesa da “liberdade e da democracia”. Os argumentos são mutuamente anulados, afinal, para se invadir uma nação bastam os argumentos do estuprador. Ilegítimos, é claro.

A Criméia e sua população majoritariamente russa e pró Rússia tende ao separatismo. Ao contrário da Chechênia, este interessa à Rússia e desfalca os interesses ocidentais. Teremos guerra? Improvável. Naquele já distante 1853 o Império Russo disputou com o Império Britânico e Francês a posse da estratégica porta do Mar Negro. Era a época do “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, como apontou o título do livro de Lênin. Hoje, a dinâmica da guerra é financeira, como mostram as “retaliações” e ameaças de um lado para o outro. Quanto a ter guerra ou não, sigo o palpite de que “Paris não vale uma Missa”. Estarei errado? Aguardemos.

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SOBRE O AUTOR:

Thadeu de Sousa Brandão, Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Professor de Sociologia da UFERSA e Consultor de Segurança Pública da OAB/RN.

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OBRA CITADA:

MARX, Karl. O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. 7ª Ed. Tradução de Leandro Konder e Renato Guimarães. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

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DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:

É autorizada a reprodução do texto e das informações em todo ou em parte desde que respeitado o devido crédito ao(s) autor(es).

BRANDÃO, Thadeu de Souza. A Rússia e a (im)provável nova Guerra da Criméia. Disponível em: < http://migre.me/idVOy >. Publicado originalmente no Blog do GEDEV em: 09 mar. 2014.