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Quando a arrogância sobrepuja a sensibilidade

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O recente episódio da professora universitária (RJ) que postou em sua conta no facebook ,uma foto acompanhada de um sicomentário irônico à respeito da vestimenta de um passageiro, foi profundamente revelador. Um curioso contraste, expondo que mesmo graduados, letrados e “eruditos” mantém em seus hábitos e olhares cotidianos, a mentalidade escravocrata e elitista.

Muitos acreditam que o conhecimento e a qualificação educacional podem libertar o indivíduo da ignorância e torná-lo mais ético e humanizado, mas no caso da referida professora, que reflexões podemos fazer?

Neste lamentável episódio está presente inclusive um menosprezo pela ética, pois nem mesmo cuidado de não expor opiniões pessoais que possam ser comprometedoras, como o preconceito da professora e seus colegas pelos mais pobres, quando questiona se o aeroporto tinha se tornado uma rodoviária. Cristalizou-se na sociedade brasileira uma mentalidade que define lugar para tais tipos físicos e condições econômicas, tais lugares são para pobres mal vestidos (rodoviária) e outros para gente “bonita, elegante e sofisticada” (aeroporto).

Não existe surpresa neste lamentável caso porque este é o pensamento majoritário, esse é o pensamento inclusive dos mais pobres, em que todos que fazem parte desta cadeia de relações de poder, reproduzem o pensamento das elites. A professora universitária (que faz parte da elite do saber) não teve o cuidado de “camuflar” seus reais pensamentos (preconceituosos) e nem pensou no constrangimento das consequências de tal ato.

A tal professora e seus colegas graduados (inclui-se um reitor!) pareciam estar à vontade conversando em espaço privado, pois tem se cristalizado na sociedade contemporânea a banalização do mal, das agressões à diferença e exposições preconceituosas. E por este motivo, a professora e tantos outros, que na hora de receber as consequências do ato, responde: “Foi um mal entendido! Não quis ofender ninguém peço desculpas!”.

O que poderíamos esperar de uma professora universitária (já que a mesma tem acesso ao conhecimento) seria no mínimo uma melhor compreensão do que é a sociedade brasileira e toda a sua complexidade, que envolve os hábitos, relações de poder, preconceitos, concentração renda, mudança e permanências que fazem parte do cotidiano. Mas neste episódio, a mesma revelou o preconceito cristalizado e que é comumente reproduzido nos hábitos cotidianos (sejam por pobres, ricos, negros, brancos, homo ou heterossexuais).

Este episódio nos faz refletir sobre a relação entre diploma universitário, ética, integridade e ignorância. O acesso ao conhecimento não é uma ferramenta determinante para que o indivíduo torna-se um ser social melhor, apenas relativa. Pois se este acesso vem acompanhado de uma formação ética e moral precária, com freios psíquicos frágeis, o resultado é exatamente o de episódios como este ou do infeliz desembargador.

No que se refere à construção de mentalidades e posturas, podemos afirmar que este é um processo pessoal, subjetivo e particular. Existem indivíduos e singularidades que se relacionam com a coletividade, que irão se portar conforme o resultado de seus processos de construção de personalidade.

A universidade está integrada à sociedade e naturalmente é um cenário de reprodução das relações de poder do cotidiano dos grupos humanos. Os que a frequentam, os que têm acesso ao conhecimento não estão isentos dos ímpetos de arrogância, vaidade, preconceito e narcisismo.

Diploma universitário não produz sensibilidade. Apenas reforça o que está de acordo com formação moral, ética e psíquica do indivíduo. Mas o ser humano é imprevisível e o conhecimento pode ser uma ferramenta para mudança do campo psíquico e comportamental.

Pergunto ao leitor: O que significa para você alguém ter o que conhecemos como curso superior?