Eu lamento pela morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade.
Lamento cada vida que se vai devido ao conflito cotidiano de luta entre os poderes.
Lamento por cada vida em situação de submissão movida pelas questões do capital e da reprodução cotidiana de lógicas opressoras.
Lamento pelos males que adentram nossa sociedade de forma tão profunda que na atualidade fingimos não reconhecê-los, como o racismo apontado na carne negra pregada em nossos postes; a homofobia que acorrenta nossa libido em uma falsa moral hetero-normativa; os conflitos por terra que envolvem vidas, histórias não-contada em livros didáticos e sofrimento dos povos indígenas, quilombolas, sem-terras e outros que buscam por moradia em meios urbanos; a xenobobia que representa uma ignorância imensa em um país tão plural como o Brasil, entre os países latino-americanos, entre o mundo limitado por fronteiras econômicas e mercantis; o machismo presente na morte sangrenta de cada mulher e na violência sexual ao forçar que nossas pernas sejam abertas contra nosso desejo; e os outros males que adentram nossas mentes como a doença do “cidadão de bem” ou a do falso-pacifismo “de direita” que contamina em sua mais profunda ignorância política.
Lamento pelas comunidades que têm suas casas e sua subjetividade violada por agentes do Estado, pelas milícias ou por traficantes, estas mesmas, que perdem filhos para os grupos de extermínio que atuam em nossas terras e debaixo de nossos narizes afim de defender uma política do lucro.
Lamento por jornalistas que enfrentam diariamente um trabalho que muitas vezes que não acreditam e se submetem a serem maquinarias do poder covarde e manipulador do monopólio da imprensa, seja local, nacional ou internacional.
Lamento cada prisão e pelas pessoas, que em pleno estado de consciência, gritam “marginal!” como se nós não estivéssemos na fronteira do poder, como se nós não fôssemos marginais detentores de uma insignificante e medíocre vida econômica – alheios aos números de grandes corporações e presos em um sistema em que precisamos trabalhar para viver e viver para trabalhar.
Lamento pela bala perdida, certeira e lançada não apenas pela polícia militarizada, mas pelo que ela se apresenta: um fuzil em defesa de coisas e não da vida.
Lamento por essa cegueira social em que o feio é mensurado através de uma ditadura da beleza.
Lamento por nossa cultura engessada e nossas paredes históricas não ressignificadas e esquecidas.
Eu lamento muito. E de verdade. E por muitas coisas.
Mas não, nunca em situação vertical de caridade e sim numa relação horizontal de solidariedade.
E digo, para todxs nós: coragem.
Empoderamento.