Carlos Drummond de Andrade, poeta tímido, lacônico e enigmático, me concedeu uma curta entrevista que talvez frustre alguns de seus leitores, perturbe alguns outros e reitere a admiração de muitos. Fiz algumas perguntas sobre a grande Musa da Poesia, que é – antes de tudo – o Amor (do espírito e, sobretudo, do corpo). Selecionei alguns excertos de nossa conversa. Confira.
Rodrigo Sérvulo: Drummond, meu amigo, sabemos que o Amor – inspiração de muitos poetas – é percebido de forma singular, pois vai do metafísico à carne. Me diga, pois, através do seu óculos de poeta, o que é o Amor.
Carlos Drummond: “Amor – pois que é a palavra essencial (…) Quem ousará dizer que ele é só alma? Quem não sente no corpo a alma expandir-se até desabrochar em puro grito de orgasmo, num instante de infinito? O corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta à origem dos seres, que Platão viu completados: é um, perfeito em dois, são dois em um… (…) Amor, amor, amor – o braseiro radiante que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.”
RS: E para esse amor ser completo… se é que existe essa completude?…
CD: “Amor não é completo se não sabe coisas que só o amor pode inventar.”
RS: E, pensando essa poesia na prática, qual o melhor lugar para se fazer amor?
CD: “O chão é a cama para o amor urgente, amor não espera ir pra cama. Sobre tapete ou duro piso a gente compõe de corpo e corpo a úmida trama. E pra repousar do amor, vamos à cama.”
RS: Vamos falar de mulher? Qual a parte que você mais prefere no corpo feminino?
CD: “No corpo feminino, esse retiro – a doce bunda – é ainda o que prefiro. A ela, meu mais íntimo suspiro, pois tanto mais a apalpo quanto a miro.”
RS: Diz para mim, o que você não pensava e lhe pegou de surpresa quando você fez amor pela primeira vez?
CD: “Nunca pensei ter entre as coxas um deus.”
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*** Todos os trechos do autor foram retirados do livro de poesias “O amor natural”, 2º edição, Rio de Janeiro: Editora Record, 1993.