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ROLEZINHOS: A REVOLTA DA RALÉ

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Por Alex Galeno, 

Professor do Depto de Ciências Sociais da UFRN

 

Quando os Luditas sabotavam o trabalho quebrando máquinas, durante a Revolução Industrial na Inglaterra, os capitalistas se enfureciam de ódio e os tratavam como baderneiros: gentalha de revoltados que não queria o progresso da economia e da sociedade. Àquela época reinvindicavam melhores condições de trabalho e temiam que o processo de mecanização do trabalho gerasse desemprego.
Bem distantes dos Luditas, assistimos hoje aos revoltados do Rolezinho, que enfrentam os capitalistas, mas sem apresentar pautas de reinvindicações. São movidos pela potência de um nada de vontade – não confundir com uma vontade de nada. Uma espécie de metafísica política que perturba a racionalidade do capital e os conservadores de esquerda e de direita, tributários da explicação lógica e racional.
Como classificá-los? Não são Black blocs porque não portam máscaras e são mais diversos em vestimentas e comportamentos. E têm como local central de encontro e manifestação os Shoppings centers, os Palácios de Cristal do consumo. Ou ainda, templos contemporâneos e assépticos da euforia da compra e de visibilidade.
Os Rolezinhos são da geração Polegarzinha (Michel Serres). Usam a internet e fazem de seus celulares próteses de sociabilidade e de formação de comunidades para lutarem pelo nada de vontade.
Como meninos e meninas de classe média, também fazem Flash mobs dentro dos templos de consumo, mas para logo se dispersarem.
Também diferem das típicas manifestações do MPL (Movimento do Passe Livre), pois parecem representantes da periferia econômica que ascenderam e que advogam um lugar ao sol no mundo do consumo. Querem ser vistos e reconhecidos.
Certamente os governos de Lula e de Dilma são responsáveis, em parte, pelos Rolezinhos, pois são pobres que desejam ir às compras. E vão. Não necessariamente para comprar, mas para serem notados coletivamente. Uma espécie de matilha consumérica. São homo consumericus ou consumidores emocionais fiéis àquelas marcas portadoras de status (Lipovetsky). Se são consumidores, então por que assustam os capitalistas e ou às elites? Simples. Para as elites, os Rolezinhos podem dispor de recursos para consumirem roupas da Nike ou smartphones da Apple, ao mesmo tempo em que carregam com eles o estigma da pobreza. Não os aceitam como iguais. E assim os tratam não como consumidores e cidadãos, mas como homo sacer (Agamben) advindos da periferia urbana.
Sujeitos sem qualidades e, portanto, descartáveis socialmente. Um exemplo típico é o tratamento que dão ao ex-presidente Lula. Um retirante nordestino que organizou trabalhadores e os representou na presidência mas, como aos Rolezinhos, as elites econômicas, políticas e culturais destilam ódio de classe contra ele.
Desejaria que as manifestações dos Rolezinhos se traduzissem em
resistências concretas contra alguns monopólios capitalistas da comunicação: TIM, CLARO, OI, VIVO. Cito esses porque estão diretamente ligados ao mundo da telefonia e, portanto, aos seus objetos ou ferramentas de mobilização: celulares. Mas, claro, Rolezinhos contra a Rede Globo de Televisão e em lojas que não respeitam o consumidor, serão sempre bem-vindos.