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O erro de Mineiro que Fátima não pode repetir

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O ano eleitoral se aproxima e, com ele, a chamada “guerra” das pesquisas.

A ex-governadora Wilma de Faria largou na frente na tentativa de consolidar o próprio nome a partir da publicação sistemática de números, bastante fermentados e seletivamente publicizados (cadê a taxa de rejeição da senhora Wilma?), diga-se de passagem.

A estratégia, nesse momento, não visa sensibilizar o eleitor. Até porque o efeito seria zero. Hoje, tirando quem cuida mais diretamente da política (jornalistas, candidatos, lideranças, assessores, militantes), quase ninguém quer saber de eleição. As pessoas têm outras urgências.

O que se procura, através da veiculação das sondagens, é criar aquilo que a cientista política germânica, Elizabeth Noelle Neuman, chamou de espiral do silêncio. Ou seja, produzir uma onda de opinião positiva alicerçada num suposto verniz de verdade estatística.

O objetivo fundamental é constranger partidos, obter a melhor coligação, ganhar manchetes honrosas em jornais, empolgar a militância a botar o nome na rua. Não raro, bombar na arrecadação financeira para a campanha.

Mas há, conforme o cientista político Jorge Almeida, autor do livro “Como vota o brasileiro”, um mal estar histórico da esquerda em relação a tal tática. Com consequências deletérias para os seus candidatos.

O ranço persiste ainda hoje. Na eleição de 2012, por exemplo, o deputado estadual Fernando Mineiro (PT), então postulante a prefeito de Natal, subestimou o impacto eleitoral dos levantamentos e arcou com o desenrolar da disputa.

O cenário se aproximava do risível. Recapitulo: os três principais institutos da cidade, todos eles trabalhando para algum candidato, colocavam Mineiro no chão. Uma empresa de pesquisa dava como certa a vitória de Carlos Eduardo Alves (PDT) em primeiro turno. Os demais cravavam um cenário mais apertado, mas caso o segundo pleito ocorresse, seria composto, com folga, por Carlos Eduardo e Hermano Morais, este último uma aposta pemedebista.

A cantilena estatística foi até um dia antes da votação, quando a escolha do eleitor já se encontra bem consolidada e os erros de pesquisas tendem a ser menos significativos – CEA ultrapassando os 40%, Hermano com cerca de 20% e Mineiro e Rogério Marinho (PSDB), disputando a terceira posição num patamar de 10 pontos. Um instituto de conduta ainda mais heterodoxa chegou a pregar Mineiro em quarto lugar, atrás de Rogério poucas horas das urnas serem abertas.

O resultado envergonhou os institutos: Carlos Eduardo Alves obteve 36% dos votos e Hermano e Mineiro ficaram praticamente empatados acima dos 20 pontos. Hermano foi para o segundo turno por uma diferença de apenas meio ponto. Como num piscar de olhos, Mineiro recebera mais de dez porcento do que aquilo dito pelas empresas de sondagens.

Fato: os outros três candidatos não tinham interesse no fortalecimento de Mineiro, uma saída à esquerda. CEA, Hermano e Rogério não queriam Mineiro no segundo turno. CEA porque achava mais fácil bater o pemedebista, Hermano porque preferia ele mesmo participar da disputa e Rogério porque via em Morais um aliado no plano estadual (PSDB e PMDB eram da base de Rosalba). E os institutos, trabalhando para esses candidatos, cuidaram de manter, ao menos nas pesquisas, Mineiro como um candidato sem condições objetivas de vencer.

Mineiro foi bastante prejudicado, perdeu musculatura. Um conjunto de natalenses, se baseando nos índices das pesquisas, praticou o “voto útil”. Ao invés de votar em seu candidato do PT, preferiu ir com Carlos Eduardo, opção considerada competitiva mais próxima de suas inclinações ideológicas.

Pelos levantamentos que fiz durante o pleito municipal de 2012 e que serão publicados na minha tese de doutorado no início do próximo ano, cerca de 4% de pessoas declaradamente petistas afirmaram que não votariam em Mineiro, mas em CEA.

As pesquisas tiraram Fernando Mineiro do segundo turno. Em parte, também, pela sua própria “culpa”. Mineiro tinha pleno conhecimento, há quase um mês antes do pleito, que os dados afiançados pelos institutos estavam completamente enviesados. Há mais de 20 dias da eleição, ele sabia que já estava colado em Hermano Morais.

(Portanto, a justificativa dada pelos institutos de que Mineiro cresceu nos últimas dias se configura como falsa).

Fernando Mineiro subestimou o potencial da informação e decidiu mantê-la como de foro interno. Pagou pela decisão. E o mais irritante, conforme um amigo petista, foi ouvir nas ruas: “teria votado em Mineiro, se soubesse que ele tinha chance”.

Fátima Bezerra, provável candidata ao senado, não pode cair no mesmo erro.

SELO DE QUALIDADE: MAS PARA QUEM?

A associação que concentra os cinco institutos de pesquisa do Rio Grande do Norte, tentando cartelizar o mercado está pensando em lançar um selo. A ideia é recuperar a credibilidade das pesquisas, através da ênfase na conduta ética e nas práticas fundamentadas na técnica qualificada.

Sobre isso, tenho uma história a contar: fiz uma pesquisa, em 2012, no município de Pendências para quantificar a corrida para prefeito e vereadores na cidade. Conforme meus levantamentos, o candidato da oposição estava dez pontos atrás do gestor que buscava a reeleição.

O empresário que encomendou a sondagem ficou tão estupefato que disse: não irei lhe pagar por isso. Não tem como isso ser verdade. Os dois principais institutos do RN deram o prefeito 30% na frente. Você deve ter errado.

Aberta as urnas, o prefeito ganhou por uma diferença arredondada de 9% e o cliente, envergonhado, resolveu me pagar pelo serviço.

São os donos desses institutos que erram em 20% em plena semana da eleição, que falam agora em recuperação da credibilidade.