Por Thiago Linhares
(Professor de Sociologia e Rodoviário)
Após a conquista do Flamengo da Copa do Brasil de 2013, circulou pelas redes sociais um texto intitulado “potiguariocas”, texto esse, creditado ao Juiz Paulo Maia, resgata uma velha discussão do “torcer pelos nossos times”.
É fato que este assunto sempre volta à tona quando algum clube de expressão nacional garante alguma conquista dita como significativa (fala ai dos campeonatos estaduais), onde as ruas se tomam por gritos e fogos de artifício em pleno nordeste brasileiro.
Ora, sei que o texto que expressa emotivamente a opinião de um Juiz (deve ai, talvez, tamanha repercussão e credibilidade do texto), tem de fato seu lado motivacional, mas parando para pensar, é correto nos afundarmos em um sentimento tão bairrista? Muito embora muitos tipos de torcedores sejam terrivelmente chatos e incômodos, não creio que o fato se dá, pois, aquele individuo torce por um time “estrangeiro”.
Sempre vi e percebi o futebol como algo plural e multiplicador. Plural, pois não necessariamente se escolhe time por etnia, classe social ou por simples determinismo geográfico. Ora, alguns já me vieram com a ideia de “você não imagina como eles te chamam lá fora” ou então “olha, eles não querem que você torça pelo time deles”. Ou seja, um discurso que traz o ódio e o preconceito… mas como devo responde-lo? Com mais ódio e preconceito? Construindo fronteiras onde a limitação geográfica do meu Estado determine para onde devo torcer? não obrigado.
Pois o futebol é multiplicador, ou é errado dizer que existem crianças no Japão que torcem para Corinthians ou São Paulo? (Sim, para acabar com a ideia que nordestino é subserviente por este motivo). Que na Rússia não existe um garoto fascinado pelo Neymar e torce para o Barcelona, como temos aqui alguém faz o mesmo por cauda do brocador(não quero entrar não discussão de gosto). Fato é, que não existe nada no mundo que mais multiplique sentimentos em comum, independentemente de qualquer fator cultural que o futebol.
Ora, o futebol, elemento da nossa cultura vivido em nosso cotidiano, entranhado nas esferas sociais brasileiras talvez como em nenhuma outra cultura. Agora, chamo uma nova reflexão… Se devemos viver e amar loucamente este amor de esquina, por que não para outros pontos da nossa cultura. Vamos esquecer esta tal de axé baiano e suas micaretas e vamos viver o boi calemba, desligar aquele show dos gringos dos Gun’s e dançar um verdadeiro Fandango em Touros (não foi dito que o que vale é estar presente, no estádio, então?), tira o DVD de samba, o de pagode carioca, e valorizar o pastoril.
Portanto, acreditar somente que o amor verdadeiro não pode passar da esquina, não passa de um bairrismo protecionista que não leva a discussão nenhuma, pois nenhum pensamento egoísta segregatório, nunca construiu. Quem quiser fica esquina que fique, mas não justificado por recíprocas bairristas.