Pilares da Arquitetura Social Potiguar
Por Ivenio Hermes
Existem muitos Rio Grandes do Norte. Alguns mais visíveis e outros menos, e até tanto, que se tornam invisíveis. São minorias sem voz, sem representatividade e sem alguém que as defenda, pois os próprios gestores públicos se tornaram opressores em uma ditadura de descaso e mentiras que poucos têm coragem de denunciar.
Dentre os que guardam um sentimento de dever, com uma coragem marcante, Marcos Dionisio Medeiros Caldas é uma dessas pessoas que dispensam maiores apresentações, cujo trabalho não tem seu real teor registrado nas atas das muitas reuniões que participa, pois ele as preside, convoca, divulga e faz tantas coisas ao mesmo tempo, que ele mesmo teria que fazer o registro.
É por isso que me sinto na obrigação de falar um pouco desse advogado e militante efetivo dos direitos humanos, participante ativo de uma infinidade de grupos promotores dos direitos fundamentais, cujo trabalho é muitas vezes desmerecido pelo desconhecimento.
As Ferroadas do Mosquito
Marcos Dionisio nasceu em 23 de maio de 1961 em Natal/RN, é graduado em Direito pela UFRN, servidor público estadual desenvolvendo suas atividades laborais no Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial (NUCAP) do Ministério Público Estadual, e em seu trabalho, ele ainda encontra tempo para participar de eventos e reuniões como Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania e escrever suas mordazes análises que são publicadas em sua página pessoal no facebook e republicadas em diversos blogs.
Em uma das poucas vezes que assisti algum telejornal, pois não gosto da forma tendenciosa e editada que a maioria deles tem, fui despertado para uma chamada interessante que falava de um sequestro e cárcere privado, cujo perpetrador estava numa casa cercada por policiais que haviam chamado um defensor dos direitos humanos para ajudá-los.
Lá estava Marcos Dionisio agindo como negociador num evento de crise, com perigo de reação que poderia colocar em risco a vida da refém, do sequestrador e do próprio negociador. Para sorte de todos, o caso acabou bem e deixou um exemplo para todos aqueles que criticam que direitos humanos é o “direito dos manos”, numa alusão pejorativa ao senso comum que dissemina a ideia de que esse trabalho visa apenas defender criminosos.
No ativismo que Marcos Dionisio promove no mundo real e no virtual, podemos ver inúmeras ações em prol da defesa das minorias, inclusive quando essas minorias são policiais, demonstrando seu interesse como visto em 16 de novembro de 2012, quando ele publicou em sua linha do tempo: “Lamentável o atentado contra o agente de polícia Civil, Valdir Freire. Desejo rápido restabelecimento e punição para os agressores. Minha solidariedade a sua família e ao SINPOL”.
Nesse ano de 2013 foram diversas intervenções em busca dos direitos dos policiais civis e militares, sempre atuando como observador, crítico e analista de conjuntura política.
Mas sua preocupação social vai além.
Seu olhar humanizado e realista paira sobre diversos temas polêmicos, inclusive sobre o que acontece em sua grande paixão pelo futebol, como em 6 de maio de 2012 quando ele disse: “Torça para o seu time, vibre, chore ou sorria. Mas antes de ser Americano ou Abecedista, VOCÊ É UM SER HUMANO. Por um DOMINGO DE PAZ no futebol”.
Mosquito, seu apelido antigo, pode ter sido oriundo de uma brincadeira de amigos, mas faz jus ao inseto pelas “ferroadas literárias” contidas em seus textos, que são permeados de cultura e que não temem quem levará a ferroada sem antídoto de suas palavras sinceras, pois seus escritos são apartidários, apolíticos e doem em quem deve doer. A ferroada do mosquito já atingiu autoridades nacionais e estaduais, na maioria das vezes sem a intenção de causar dano, mas de procurar alertar o “atingido” para o comportamento que estava adotando.
Seus 140 caracteres do twitter buscam dar rápidas acordadas esclarecedoras sobre os diversos assuntos que são abrangidos pelos direitos humanos, numa busca incansável para elucidar a verdade, reacender a chama humana e mobilizar as pessoas para a defesa do direito dos esquecidos periféricos marginalizados pela sociedade, como as vítimas da desapropriação da COPA, a falta de investimento em transporte público moderno e de qualidade, a mortandade que atinge o Rio Grande do Norte descrito em seus textos como o Rio Grande de Morte.
Mesmo sendo vítima de uma doença quando era criança que o deixou sem enxergar bem com um dos olhos, mesmo tendo problemas de saúde causadas por lesões de esforço repetitivo, o mosquito ainda utiliza seus próprios recursos financeiros para se deslocar para os eventos e pagar sua conta telefônica, pois ser Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania não é uma atividade remunerada, é um sacerdócio e uma atividade de militância que o deixa mais horas fora de casa do que as horas que tem que estar presente em suas atividades no Ministério Público.
Em uma de suas postagens no facebook, datada de 17 de março de 2012, está uma das tônicas de sua militância, o combate à corrupção. Nela ele disse: “Saudando os Delegados na primeira I Consocial refleti que a corrupção é o pai e a mãe de todas das violações de direitos humanos, assim como a Consocial vem a ser o pai e a mãe de todas as conferências. A caminhada árdua é como a flor de Drummond que teimou e nasceu no asfalto. Transparência, superação da corrupção e a construção do efetivo controle social é a nossa bússola, é a nossa meta”. Noutra, de 31 de dezembro de 2011, ele citou: “Um Mário Quintana para encerrar o ano e o mesmo Quintana para começar. Feliz 2012 para os amigos e amigas e até, para os inimigos que eles também são filhos de Deus, irmãos da terra”.
Pilares da Arquitetura Social Potiguar
Conheci pessoalmente o detentor do codinome “Mosquito” há mais de dois anos. Fomos apresentados na abertura da 6ª Mostra de Direitos Humanos e Cinema da América do Sul pelo Deputado Estadual Fernando Mineiro, que na ocasião disse que precisávamos fazer algum trabalho juntos, e eu, como defensor do uso dos direitos humanos como instrumento de aferição da qualidade de trabalho policial, fiquei empolgado com a possibilidade.
Um ano depois, encontrei o “mestre”, como o chamo mesmo que ele se incomode com o tratamento, em uma audiência pública promovida por Fernando Mineiro, e ele me chamou num canto e disse que estava com a ideia de fazer um trabalho e contava com minha colaboração, eu não imaginava o tamanho do desafio, e agora, após alguns meses, ele me oportunizou a possibilidade de produzirmos alguns artigos e textos juntos, foi autor do prefácio do meu livro Crise na Segurança Pública Potiguar, publicamos o livro Caos no Estado Elefante e ainda tenho a honra de publicar em primeira mão seus artigos no meu blog.
De quando em vez, tenho a oportunidade de leva-lo em casa e nessas ocasiões temos qualitativas conversas, trocamos informações e eu, como bom aluno e observador, absorvo um pouco do conhecimento que ele me proporciona. Acho até engraçado quando ele agradece a “carona”, pois eu sinto vontade de agradecer a chance de aprender.
Marcos Dionisio Medeiros Caldas não é de se ufanar por seus feitos, ele divide com as pessoas o espaço nas mesas de debate nas quais participa, as coloca ao seu lado para que elas tenham mais visibilidade, dá a chance para humildes falarem, e isso, eu mesmo já senti na pele quando ele me chama para estar ao seu lado em importantes eventos.
Minha admiração por Marcos Dionisio Medeiros Caldas, o Mosquito, fica registrada nesse texto, pequeno diante do “marco que Marcos é”, aliás não um simples marco, mas um dos verdadeiros pilares da arquitetura social potiguar.
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SOBRE O AUTOR:
Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.