Por Marcos Dionisio Medeiros Caldas
O mundo se volta em homenagens, mais que justas, ao líder sul-africano que passou dois terços da sua existência recebendo insultos de terrorista, tatuagem que procuravam lhe impingir os partidários do apartheid da própria África do Sul e os do chamado mundo civilizado como a França de Chirac ou a Inglaterra de Margareth Thatcher.
Na terra de Black Out, Sérgio Dieb e que adotou Sabino Gentile, os jornais foram ouvir nossos próceres. Davin e Henrique foram elegantes, discretos e precisos.
Já José Agripino e Rosalba Ciarlini, passaram da conta querendo demonstrar o que não são. José Agripino disse que “os atos de militância e as políticas públicas adotadas por Mandela amenizaram os problemas sociais e elevou a África do Sul ao patamar dos países em desenvolvimento emergente, influenciando diretrizes políticas para os demais blocos do globo”. Foi além: Mandela criou exemplos de altivez e humildade vividos no cárcere criando condições para o entendimento pacífico entre brancos e negros que hoje somam para fazer da África do Sul o país que ele conseguiu ser.
A Governadora Rosalba Ciarlini, disse que Mandela “deixou lições de vida, de lutas políticas, da defesa dos direitos humanos e de combate às desigualdades sociais que jamais serão esquecidas”.
Ninguém pode discordar das afirmações.
Mas não sei se é mais comovente a admiração pela altivez e humildade de que tratou José Agripino ou se a admiração da governante potiguar pela luta pelos direitos humanos e contra as desigualdades sociais de Mandela.
Sábios teimosos resgataram as agressões à Mandela e as estão postando no Facebook para que as novas gerações que assistem ao atual espetáculo se apropriem do que foi uma das mais lindas páginas de humanismo, luta e conquista da liberdade de um homem em busca da liberdade para e com o seu povo. E dá uma chacoalhada na unanimidade, denotando de que os elogios gerais traz um muito de hipocrisia, preconceito engasgado e desfaçatez das elites do mundo inteiro e cá embaixo do equador, também.
Bom evidenciar que Mandela viveu mais de dois terços da sua longa vida sob o rótulo de terrorista ou sob os efeitos do apartheid. Nem sempre foi esse herói de todos. Mas um parceiro de muitos pela liberdade e felicidade que será possibilitada algum dia pela égide dos direitos humanos.
O que me causa espécie nas declarações dos dois emblemas do DEM é que ambos sempre se posicionaram na contramão dos direitos humanos, acesso à justiça e inclusão social no Brasil e no RN.
Derrotados na política, no parlamento nunca tiveram dúvidas em ir ao Judiciário esgrimindo teses e argumentos bem clivados por aquele Cabo Austríaco que incendiou o mundo e ainda empalha a coexistência pacífica entre os homens.
Aqui pra nós, nunca pontuaram na defesa dos direitos humanos. Um tem como principal marca parlamentar o voto de louvor pela realização de uma novela da Globo e o outro sempre na linha de frente pela liberação dos Bingos, por exemplo.
Não bastasse a longa jornada contra a inclusão social, acesso à Justiça e direitos humanos para os humilhados, ofendidos e periféricos, as duas personalidades que se dizem carpideiras do encantamento de Mandela e o governo do qual uma é comandante e o outro tutor, são responsáveis por um ato administrativo perverso e que me veio a memória de pronto quando li a correta matéria do Jornal de Hoje sobre Mandela na edição da Sexta-feira.
O Governo do DEM nunca foi afeito a realização de conferências setoriais ou Inter setoriais. Quando as realizou foi forçado pelo que resta de sociedade civil organizada… e teimosa.
Nunca demonstrou respeito pelos participantes voluntários, nem qualquer entusiasmo, muito menos compromisso com as decisões.
E este ano, às vésperas da realização da Conferência de Promoção da Igualdade Racial, o Governo do DEM que a havia convocado, seguindo o calendário nacional, a desconvocou.
Não existe conferência mais ou menos importante. Todas procuram adensar o debate sobre os temas elencados e é um rico momento de diálogo, reflexões e articulação entre a sociedade civil e o poder público.
O que danado teria levado o Governo do DEM a desconvocá-la? A crise econômica do bode na sala? E porque as demais como estavam previstas foram realizadas mesmo com a sofreguidão do ritmo da vida atual do RN? Porque somente a de promoção da igualdade racial foi cancelada pelo Governo? E realizada pela Sociedade Civil e reais parceiros.
Claro que nenhuma resposta será coerente. O que o governo do RIO GRANDE DE MORTE protagonizou com seu ato de desconvocar a citada conferência foi um crime lesa humanidade estribado no mais abjeto preconceito.
O sempre presente deputado Fernando Mineiro na Assembleia lamentou o cancelamento, pelo governo do RN, da III Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial, que seria realizada em Natal nos dias 29 e 30 de Agosto e que tinha como consigna a Democracia e Desenvolvimento sem Racismo: por um Brasil afirmativo.
Assim, o povo do DEM deve seguir coerentemente no rumo do obscurantismo porque sempre primaram, trilharam e querem nos impor. Vade retro.
Todos os seres de paz e boa vontade podem e devem chorar e sentir a partida de um dos mais ilustres seres humanos: MANDELA.
Nas perorações, todavia, ao povo do DEM convém ter um cadinho de coerência, para continuarem na história como herdeiros de Margareth Thatcher, J. Chirac e Berlusconi e não como farsantes que procuram surfar a notícia do momento.
Por Mosquito
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SOBRE O AUTOR:
Marcos Dionísio Medeiros Caldas, advogado e militante dos Direitos Humanos, Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos/RN e Coordenador do Comitê Popular da Copa – Natal 2014, com efetiva participação em uma infinidade de grupos promotores dos direitos fundamentais, além de ser mediador em situações de conflito entre polícia e criminosos e em situações de crise de uma forma geral.