É trágico na política assistir a atuação de uma maioria politicamente passiva que trabalha arduamente para afirmar a própria inércia, o distanciamento dessa que é a principal instância transformadora e habilitadora do cidadão, pobre ou rico, em sua escolha soberana sobre como deseja que seja feito o seu presente e futuro.
Ao invés de acompanhar de perto e, se achar interessante, ingressar nos partidos, movimentos sociais e outras associações da disputa democrática, os alheados enfatizam: como a política é nojenta, como se gasta etc.
Nessa lógica, toda obviedade produz elementos para a escandalização da arte de Maquiavel. Recentemente, por exemplo, o Jornal de Hoje publicou que o Deputado Federal Paulo Vagner (PV), pasmem (!), almoça em bons restaurantes, utilizando recurso destinado para tanto (as verbas de custeio não são um privilégio dos legisladores. Vale lembrar que policiais, militares, funcionários de estatais e outros servidores também recebem remuneração extra quando desempenham atividades laborativas distantes do seu domicílio e/ou em situações adversas).
Risível – às vezes, o trágico e o cômico andam de mãos dadas – a onda de indignação verificada nas redes sociais.
Um parlamentar não pode ser pensado pelo que ele come, mas pelo que produz como representante de uma parcela da sociedade. Mas tal dado – também gritantemente evidente – é esquecido em prol do jogo com a ignorância, afirmando a desinformação e amplificando o preconceito contra “os políticos”.
E o enfraquecimento de candidatos eleitos implica no consequente fortalecimento de figuras e organizações, que não passam pelo crivo do voto popular e que não incentivam o ódio contra a política gratuitamente. Talvez seja o que os líderes desses ataques intencionam – deixar um agente escolhido pelo sufrágio universal de joelhos para poder, de modo sorrateiro, impor, à revelia do processo eleitoral e dos cidadãos, a agenda que deseja e obter os benefícios simbólicos e materiais que a operação proporciona. Se não for o diretamente almejado, é o que o desenrolar das fatos irá produzir.
RACISMO DE CLASSE
Notável ver a deslegitimação, até de quem se diz “progressista”, a partir de supostas regras superiores de etiqueta e de fala, de políticos com práticas, costumes e/ou trejeitos das classes menos abastadas. Nesse caso em específico, sempre vi em Paulo Vagner certa verossimilhança ao preconceito que ainda é sofrido pelo ex-presidente Lula.
Não se trata de querer comparar projetos, pois as diferenças e a história de cada um são tremendas. A questão é anterior. É que tem pessoa que não admite sujeito com cara e jeito de pobre na política, dizendo o que ele deve fazer. E aí tanto faz se é de direita ou de esquerda. Se é Lula, Paulo Vagner ou Dagô do Forró.