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A Coisa Aqui Tá Preta

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A propaganda manipuladora no país do futebol

Por Ivenio Hermes

Existem ocasiões em que, mesmo buscando nossos refúgios e escapes da realidade através de nossos entretenimentos prediletos, não conseguimos deixar de nos sentir estapeados no rosto pela falta de respeito com que somos tratados por algumas pessoas que deveriam estar assegurando o respeito que nos falta.

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Vemos nossa liberdade sendo violada por escutas ilegais, por invasões de nossos e-mails, de nossos perfis privados nas redes sociais, e isso tudo sem que ninguém se importe. Por outro lado, poderosas revistas saem publicando matérias que criminalizam as condutas de minorias, dos moradores das periferias, dos movimentos sociais, enquanto dramatizam a mesma conduta de seus patrocinadores e apadrinhados, transformando-os em heróis, cujo comportamento questionável e de mau gosto é justificado por diversos fatores irrelevantes, numa afirmação disfarçada de que os fins justificam os meios.

A verdade é que embora tenhamos evoluído como nação, ainda estamos presos dentro de uma ditadura velada que nos é imposta por uma parte da mídia que age de forma manipuladora e desviadora do problema social real, levando os marginalizados a serem criminalizados pela mesma conduta na qual os poderosos e famosos são colocados como pobres coitados e dignos de pena, induzindo os leitores à discriminação. Contudo, todo tipo de discriminação é uma forma de incitar a violência.

Aqui na terra tão jogando futebol

Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll

Uns dias chove, noutros dias bate o sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

(Música Caro Amigo de Chico Buarque)

Capa 01
Crime para os marginalizados…

O novo instrumento dos poderosos é realmente a mídia. O quarto poder como veículos de divulgação de massa, por onde passam vão deixando rastros de manipulação e subversão. Os valores morais, os conceitos de liberdade, a igualdade, tudo vai sendo direcionado para idiotizar as pessoas, usando da teledramaturgia com suas mensagens subliminares e dos jornais que induzem os menos avisados a enxergarem a notícia pelo olhar conveniente dos ditadores midiáticos.

As grandes empresas de telecomunicação estão nas mãos de poucos que utilizam os amplos recursos, e sua capacidade de penetrar nos lares dos brasileiros, para impor sua ditadura disfarçada, com uma hegemonia política que torna os mandatos eletivos num negócio de família.

Capa 02
Drama para os famosos…

Enquanto o crime rola solto e a morte ronda nossas casas por culpa daqueles que mais investem em arenas de futebol e em propaganda para garantir suas reeleições ou a manutenção no poder para aqueles que garantirão sua boa vida às custas do dinheiro público, enquanto vemos corruptos enriquecendo, saindo impunes ou recebendo penalizações irrisórias pelos males causados ao povo brasileiro, penas tão tacanhas que até zombam de nossa “justiça”, a única forma de suavizar esse desgosto e essa sensação de impotência é através do futebol, da cachaça, dos cultos e missas, das lutas do campeonato de UFC, dos shows de rock, pagode, samba, forró, música gospel e outras “fugas” da realidade, cada grupo dentro de suas possibilidades financeiras e culturais.

Realmente a coisa aqui tá preta, e continuará assim, pois é conveniente manter o povo como gado nos currais eleitorais e que somente votam nas propagandas de fachada, sem saber como exercer seus direitos, pois a educação basilar que leva o homem a pensar e questionar a sociedade em que vive, procurando transformá-la com suas atitudes racionais, não recebe o investimento necessário para modificar a mentalidade dos futuros cidadãos brasileiros.

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REFERÊNCIAS:

BUARQUE, Chico. Meu Caro Amigo. Letra e música, composição. Disponível em < http://letras.mus.br/chico-buarque/7584/ >

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.