Por Marcos Dionisio Medeiros Caldas
Não gosto de hospital. Não gosto de ficar doente. Mas vivemos um tempo doente, num mundo doente.
Para onde nos viramos, reclamações, tanto contra a rede pública quanto contra os hospitais particulares e os Planos de Doença. Para não falar da agonia que é a judicialização da doença.
Um amigo raspou a tacha para pagar um procedimento e está brigando com a Unimed já tem uns bons meses.
Visitando uma amiga dodói, percebi mais uma vez a distância que nossa Cidadania precisa percorrer para divisarmos a aurora. Cidadão e consumidor no Brasil é otário. Simples, assim.
A Constituição Federal que no mês passado fez aniversário (deram até uma comenda a Agripino), o que restou dela, levará anos para sair do papel e contaminar a vida e as políticas públicas com excelência e universalidade.
Reclama-se dos planos de saúde, das seguradoras nos acidentes, do padrão da conexão na Internet, do mínimo do mínimo agora exigido e negado como sempre, dos pacotes de TV à Cabo, tão caros quanto chantagistas quando, para nos oferecer 10 ou 20 canais que queremos, nos empurra 300 de besteirol e do modo de vida mais que doente norte-americano.
Quem nunca esteve à beira de um ataque de nervos com os atendentes robôs da Directv, Sky, À Cabo, Net? Ou quem nunca esteve a ponto de praticar arremesso de celular com raiva da Telern, Telemar, Oi, Embratel, Claro, Vivo, Tim, Vésper, quase aderindo ao som dos atabaques e dos sinais de fumaça para se comunicar?
Ou buscando ser atendido e repetindo ou digitando e redigitando uma centena de vezes o CPF, a opção e… esperando ser atendido pela UOL, Globo, Terra?
Os hospitais e clínicas nos mostram a falência dos Planos de Saúde que foram catapultados pelo egoísmo de parte da sociedade que abriu mão burramente de lutar pelo SUS.
As operadoras insistem em nos fazer de bobos. São sádicas, perversas, escrotas, pra não gastar mais letras.
Canais por Assinatura metem a mão no nosso bolso e muitas vezes nos oferece uma programação que só nos resta assistir a construção de um prédio de não sei quanto andares ou um besta fazendo careta pros jacarés.
Sem nos esquecermos da Caern, Semob, Polícia, Bombeiros, Agências de Viagens, Hotéis, Restaurantes, estamos ainda condenados ao império do desrespeito ao Cidadão e ao Consumidor.
Urge que o Ministério Público e à Justiça botem força na reparação dos vilipêndios que nos são impostos pelos 400 sanguessugas que controlam os preços e a qualidade dos serviços no mundo.
As políticas públicas e as concessões precisam ter a acessibilidade de uma praia num domingo de sol, ser infalível e “transparente” como os vendedores de Picolé de Caicó na hora do sono depois do almoço e a presteza dos grandes funcionários públicos que sabem verdadeiramente o que é “servir ao público”.
Somente uma luta organizada, plural, suprapartidária e com a utilização de boicotes e escrachos poderia dar uma chacoalhada e reequilibrar essa relação entre consumidores e serviços.
Por enquanto, recuso-me a ficar doente e penso que é preciso continuar a aporrinhar os senhores e senhoras do poder como cantava o antes genial Falcão.
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SOBRE O AUTOR:
Marcos Dionísio Medeiros Caldas, advogado e militante dos Direitos Humanos, Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania/RN e do Coordenador do Comitê Popular da Copa – Natal 2014, com efetiva participação em uma infinidade de grupos promotores dos direitos fundamentais, além de ser mediador em situações de conflito entre polícia e criminosos e em situações de crise de uma forma geral.