“GardeNau em Guerra!!!
todos a bordo à tripulação
entre caos imagético e canção.
quebraram nossas pernas de pau!”“Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.”
O processo de okupação é território de transformação e construção política, social e cultural fértil, que dissemina vírus de uma contínua incomodação, é um “pela ordem da baixaria”, um espaço marginal.
Um rio, fluído, flexível, corrente de possibilidades que chegam às suas margens e contaminam de expressão, de imagem e de transições. Okupar é produzir caos, é resistir frente a ordem do que vem de cima, é união, é solidariedade, é amor.
E o que é a ordem se não a perpetuação de uma lógica purista e estática?
A crise, instaurada, é o caos que move, que transforma, que atua sob vias subversivas e expostas, visa uma alteridade frente a lógica instaurada em que uma vidraça e uma parede vale mais que uma idéia e um corpo, em que espaços, corpos e territórios são violados sob ordens repressivas. A ala dos castradores de conceitos.
O corpo. Tão moralmente violado, cheio de pudores e de panos, excluído de nossa percepção cotidiana, expulso de nossos olhares mais sensíveis.
O corpo, separado dicotomicamente das ideias.
O corpo quer respirar.
O artista sempre foi marginal, está alheio a ótica da sociedade do capital. Quanto vale sua arte? Quanto vale sua subjetividade? Quanto vale sua vivência? Prêmios? Editais? Chamadas? Processos seletivos? Cachês? Quanto vale sua arte? Ela é sua?
Ser artista é transformar a poética do cotidiano em uma narrativa pessoal e, contraditoriamente plural. É questionar, é romper, é devastar com imagens. Ser artista é não determinar. É não se reconhecer. Ser artista é caos, conflito, paixão, ódio, é deixar-se ser.
Instituições.
Higienizam a arte e o processo de aprendizagem tal como já institucionalizaram você. Apaga-se o pixo, determina um conflito entre intervenções urbanas ao gritar: ISSO É ARTE, ISSO NÃO. E daí que não seja arte? E daí que a intenção seja nem ser? Quem são os donos das ruas? Do concreto? Quem é o dono de mim?
O grito diante do horror, do que seus olhos não querem e não costumam enxergar.
A revolta popular e o sentimento de indignação adentra espaços institucionalizados e normatizados que reproduzem uma educação bancária e práticas de reprodução de desigualdades sociais são comuns.
As paredes institucionais e os docentes da castração falam: um saber é mais privilegiado que o outro por disseminar lógica de controle social. Um saber vale mais que o outro.
Capitalizaram seu saber.
Cidade.
Natal é uma cidade burguesa, dominada por oligopólios das mídias, é uma cidade ainda numa lógica do coronelismo em que famílias detém e direcionam como os fluxos urbanos da cidade devem girar através do domínio de jornais tradicionais de largo alcance e das constantes frases de repúdio que se preocupam em apontar um descontrole social ou histeria de grupos de “vândalxs”. As mentes reacionárias tagarelam inversão de valores e cresce o discurso em que o oprimido é o opressor, do autoritarismo que parte de antíteses em discordar de discursos totalitários, de opressor que vira vitima.
Cresce o alcance da tentativa de um discurso coerente, coeso, puro que visa “construção” por vias que excluem o poder popular e a livre expressão da baixaria.
Natal é uma cidade tirana.
Tritura, viola, rasga e personifica seu ódio em ruas, dos gabinetes, dos camarotes e das coberturas em Ponta Negra ou Petrópolis.
Natal é uma cidade covarde.
Esconde favelas, comunidades, vilas e morros.
E a arte.
A arte foi e continua sendo usada por ditadores que nos diz o que é o belo, doutores de uma estética perdida e dominada por alienados que disseminam discursos que reproduzem desigualdades e tratam de forma racista, homofóbica, machista – e, por vezes, fascista -, práticas sociais que oprimem e tentam tornar débil a força do poder popular.
Não a arte de vanguarda! Dotada de pretenciosismos e falsa efemiridade.
A arte não é o que, é quando, e não é.
Liberdade à arte!
Liberdade ao corpo!
Liberdade às ideias!
Liberdade ao povo!
Liberte sua cidade, ou pelo menos, suas ideias.
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