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Desplugados por opção: os novos exóticos na pós-modernidade líquida

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Muito se tem discutido sobre a nova sociabilidade trazida pela difusão das redes sociais, desde seus aspectos utilitários até as questões que se referem à subjetividade dos indivíduos inseridos no contexto. E uma das questões que nos convida para uma interessante reflexão são as mudanças de paradigmas e valores que se referem a privacidade.

Recentes pesquisas expõem um curioso contraste: enquanto alguns exibem espontaneamente sua vida pessoal como meio de afirmação, status e possibilidade de dar vazão a um exibicionismo narcísico. Outros, por opção, vivem uma sociabilidade sem necessidade de expor suas intimidades nas redes sociais, sem nenhuma vontade de exibir seus dotes físicos ou expor suas ferramentas de poder e sucesso.

Esta sociabilidade inclui o usufruto da internet para desenvolvimento educacional/profissional e uso de e-mail. Mas com um estabelecimento bem claro de limite de exposição da vida íntima no espaço público, representado pelas redes sociais.

maNa contemporaneidade acelerada, o indivíduo seletivo e ponderado em suas escolhas e decisões pessoais é tido como estranho (logo avisado: “Vai ficar de fora”.). E quando nos referimos a sociabilidade das redes sociais, a situação se agrava, pois tal atitude é inconcebível para os parâmetros das relações virtuais.

Em tempos de pós-modernidade líquida, de ausência de referenciais sólidos e identidade, a exposição da vida íntima e falta de senso de preservação pessoal também caracterizam a contemporaneidade acelerada.  E principalmente os indivíduos com baixa capacidade de reflexão/julgamento, vazios afetivamente, são os mais vulneráreis a aderir e a canalizar suas carências e emoção adoecida para a interatividade das redes sociais.

Estes que estão cada vez mais expostos a novas patologias sociais, facilmente aderem a pressão por estar on-line 24 horas por dia. E em situações da vida concreta (quando se necessita de segurança pessoal, placidez, inteligência emocional, autoestima e maturidade), encontramos pessoas precárias psiquicamente, medrosas, imediatistas, frágeis, adultos infantilizados, estúpidos, agressivos e vazios afetivamente.

O filósofo Zigmunt Bauman faz reflexão pertinente: “As não-celebridades, os homens e mulheres “comuns”, “como você e eu”, que aparecem na telinha apenas por um momento passageiro (não mais do que o necessário para contar a história e receber o aplauso merecido, assim como alguma crítica por esconder partes picantes ou gastar tempo demais com as partes desinteressantes) são tão desvalidas e infelizes quanto os espectadores, sofrendo o mesmo tipo de golpes e buscando desesperadamente uma saída honrosa e um caminho promissor para uma vida mais feliz”.

Indivíduos vulneráveis aos apelos da indústria do entretenimento e da mentalidade burguesa, precários emocionalmente, que acabam por introjetar em suas inserções nas redes sociais, situações (exibições de poder, sucesso e beleza, etc) e construções artificiais que podem determinar a sua aceitação social.

Muito comum nas redes sociais em tempos líquidos: desejo por visibilidade, aceitação, reconhecimento, busca por vínculo humano que não se conseguiu na vida concreta com pessoas de carne e osso (“olhem para mim: eu existo!!!”, “Veja como sou superior e poderoso!”, “reconheçam que sou gostosa e sofisticada!”).

Na pós-modernidade líquida (num “viveiro de incertezas”) somos estimulados a transformar vínculo em mercadoria, pois vejam aqueles que se regozijam da quantidade de “amigos” que se tem “contato” virtual. Que podem ser descartados em poucos segundos, para logo serem substituídos por outros similares.

Em dias atuais, podemos refletir a partir de expressões invertidas como: “o que você tem a esconder?”. Pois o valioso senso de preservação pessoal faz parte da conduta daqueles que necessitam afirmar sua singularidade, algo que gera curiosidade e incômodo para coletividade que não consegue elaborar reflexões sobre os limites entre o que deve ser privado e o que deve ser público.

Tem-se uma curiosa contradição para se refletir, pois o mesmo sistema que aparentemente agrega e aproxima, caracteriza-se pela desumanização, falta de solidez e precariedade nos vínculos humanos.  São observações que não partem de perspectiva coletiva e generalizante, mais de um olhar a partir da relação dos indivíduos com os grupos a que estão inseridos.

Num presente em que muitos querem visibilidade e holofotes a todo custo, os que não estão interessados (motivações diversas) em expor-se nas redes sociais, recebem pressões veladas e são comumente rotulados de estranhos. Pois se fizermos um retrospecto das últimas décadas, poderemos colher importantes observações sobre estes “estranhos” e os limites entre a vida privada e o espaço público.

Nos diz Zigmunt Bauman: “Agora é a esfera pública que precisa desesperadamente de defesa contra o invasor privado – ainda que, paradoxalmente, não para reduzir, mas para viabilizar a liberdade individual”.

Este texto convida para reflexão sobre alguns aspectos comportamentais observados nas redes sociais, não mencionando o que possa ser citado como positivo (interatividade instantânea e simultaneidade das informações profissionais/educacionais, etc). Estimulando a pensar sobre as consequências positivas e negativas que estão condensadas diante dos aspectos psicossociais. Pois alguém que faz leitura distorcida do texto pode dizer: “Fico direto no Facebook e não sou assim…e este cara cita apenas o que considera negativo”.