Por Filipe Mendes e Ivenio Hermes
Aos Que Veem Noites Iluminadas
Alguns amanheceres não são precedidos de noites de sono, alguns sóis nascentes iluminam conscientes insones que passaram as noites desfazerem-se em luzes inquietantes, que reclamam o corpo cansado para as obrigações do cotidiano, sem pedirem desculpas e sem tampouco as aceitarem, seja qual for a razão para o não repouso, para o não fechar de olhos e para o não sonhar com um dia melhor.
Os notívagos de natureza ou que foram impulsionados para a vida da noite em função da ocupação ou do lazer, oportuno resultado de sua própria opção, tendem ao hábito de encarrar o sol como a inversão formal de seu turno de descanso, e a escuridão da noite, como o chamado para a labuta e os conclaves do prazer.
Os condicionados ao dia e à normalidade dos labores e afazeres se defrontam com o pânico do enfrentamento da luz, como seres infringentes de alguma lei natural, como pseudovampiros que não são contra a luz, mas que gostariam de mais noite ou mais oportunidade de conciliar o sono.
Aos que lutam contra insônia, dentro de cada receita experimentada, nem sempre sábias palavras são o suficiente e nem sempre os doutos remédios surtem efeito.
A esses, na companhia de si mesmos, e na experimentação de uma convivência com seu interior, resta a companhia das recordações, das imagens do passado e do futuro, imaginado em centenas de possibilidades, da oportunidade do autoconhecimento e do desfrutar das poesias.
Boa insônia
Mais uma vez sem sono
Desta vez só pelo medo
Medo de não poder viver
Ao exagerar no sonhar
Pode parecer ansioso
Mas não é negação
De fato é ansiedade
Por ficar muito tempo
Na demasiada tranquilidade
Isso é só busca de estabilidade
Quem fica demais a sonhar
Da vida não está a se deliciar
Os sabores doces e insossos
Atrofiados ficam os músculos
E sem firmeza ficam os ossos
Vale a lei do uso e desuso
Isso tudo pode ser previsto
Apenas pelo equilíbrio
Do desequilíbrio mútuo
E por tempos eu tinha dormido
Sendo assim, não dormirei tanto
Pelo menos por enquanto..
Asônia
Meu dia foi cheio
Andei, parei e sorri
Minha mente e corpo
Exaustos ainda não estão
A ética da noite e dia
Faz-me almejar dormir
Não há cansaço para sono
Tampouco desejo para sonho
Por que não consigo isso?
Não posso ou não preciso?
Isso tudo está além de tudo isso
Nem um bom nome eu achei num livro
Apenas restou um sentido
Eis o significado do título
Não haver sono nisso.
Ensônia
Conseguir dormir é um segredo
Baseado na espontaneidade
Quanto mais pensamos
Ou temos pensamentos
Menos sono nós teremos
É sempre árdua a posse do tesouro
O perigo desse segredo é o meio
Pensar em não pensar é pensar
Então, o segredo desse segredo
Sempre esteve em entendê-lo
Mas entender é fruto do pensar
Para isso devemos refletir
E possivelmente concluir
Que o segredo está em agir
Por isso há tantos a dormir.
Ode à Insônia
Despertarei cansado…
Não vou nem despertar!
Como sequer me incomodo
Sem nem o sono vou conciliar?
Ao fitar o nada na escuridão do quarto
Deitado retorno o olhar ao meu interior
Esquecendo do dia todo até o labor
Imerso na imensidão do meu eu abstrato
A pobre noite antes plena de monotonia
Em reflexão agora se revela oportuna
Onde havia a perda quiçá haverá fortuna
Aquisição possível de inestimável sabedoria
Despertarei como os sábios?
Tolo sei que não vou levantar!
Afinal a insônia muda de lábios…
Foi proveitosa para nela meditar
___________
SOBRE OS TEXTOS:
As poesias Boa insônia, Asônia e Ensônia são de autoria de Felipe Mendes
O texto Aos Que Veem Noites Iluminadas e a poesia Ode à Insônia são de autoria de Ivenio Hermes
___________
SOBRE OS AUTORES:
Filipe Mendes é um pensador, escritor e poeta contemporâneo, que compartilha sua rebeldia poética diariamente através de haicais, poemas, poesias e textos poéticos em sua Fanpage O Alquimista das Palavras disponível em https://www.facebook.com/OAlquimistaDasPalavras onde o redescobrimento da essência humana é o mote criativo.
Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.