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Bebendo o Defunto Vinicius de Moraes em Nazi

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VíniciusNo dia da morte de Vinicius, lembro muito bem, saí de Candelária para bebemorar a morte de Vinícius na meladinha de Nazi. Nazi tinha comido alguma coisa assim assim e estava ruim do “estrombo” e avisando que fecharia mais cedo. Disse a ele que iria buscar um remédio e ele disse que não precisava pois tinha em casa. Mesmo assim fui numa mercearia na Gonçalves Ledo e comprei Chá de Boldo. Depois de tomar o chá com pouco tempo ele disse que se sentia melhor. E a gente foi pedindo meladinha e levando a homenagem a Vinícius na valsa.

De quando em quando ele parava o olhar no ar e nós temíamos “é agora que vai fechar”. Ajudou muito na procrastinação a presença de Edmilson, do Ducal e Dedé, da Secretaria de Finanças do Município, já veteranos em domar a fera. Nessa época acho que ele não usava os cartões de advertência. Quando deu 20h, ele bateu as mãos e anunciou a rodada final, da qual participou ainda o poeta Bosco e um professor de Geografia que já chegara mais calibrado do que Vinícius nos seus melhores dias. O professor com o nível do combustível alto começou a insistir por outra saideira e Nazi firme na luta e adotando os procedimentos fechatórios.

Houve ainda muita insistência pela exceção de mais uma meladinha, reclamada pelo Professor, decisão que acompanhávamos na esperança de uma jurisprudência que nos brindasse com mais uma dose. Mas na hora de fechar e de aplicar o Cartão Vermelho, Nazi era peremptório. Alto, o professor esquecia a geografia espacial e apelava para uma geografia emocional, achando que comoveria Nazi e seus anos de balcão. Já do lado de fora, o professor ainda se fazendo de rogado disse: vai fechar mesmo e onde é que eu vou beber? Não gosto de escrever palavrão, mas resgato na íntegra a fulminante resposta: “no cú fela da puta”.

Porta arriada, cadeado encaixado, um boa noite e um até amanhã. Fomos chorar o poetinha noutras biroscas até pegar o plantão e ainda beber o defunto poeta na esquina do Seu Marcelino que, mesmo fechado, não se furtava a nos servir cervejas, involuntariamente, posto que Carlos Fidel e Dailto, seus filhos, eram dos mais entusiasmados em beber o poeta.

Vocês podem até se assustarem como me lembro desses detalhes, já eu, me assusto mesmo, é em perceber que se passaram 33 anos da morte do poetinha Vinicius de Moraes.

 

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SOBRE O AUTOR:

Marcos Dionísio Medeiros Caldas. Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (RN) e da Coordenação do Comitê Popular Copa 2014 – Natal.