Depois de 24 horas viajando, cheguei ontem à noite em Aguascalientes – cidade capital do estado mexicano com o mesmo nome. Como de hábito, a primeira coisa que faço ao chegar em local novo é sair sozinha à luz do dia para observar as pessoas, os espaços urbanos, e a sociabilidade nas ruas. Além de parecer sem um “Natal sem praia”, admirou-me o peso das pessoas. Nada contra gordos. Aliás, jogo nesse time já há algum tempo. Mas, ao chegar no hotel, deparei-me com a notícia que o México acabou de ser reconhecido como o país mais gordo do mundo. Conseguiu o feito de ultrapassar os Estados Unidos.
Em 1989, menos de 10 por cento dos adultos mexicanos tinham quaisquer problemas de peso. Hoje, nada menos que setenta por cento da populacao esta acima do peso e um em cada três são obesos . Isso mesmo. Eles estão mais para Diogo Rivera do que para Frida Kahlo. A obesidade infantil triplicou em uma década e cerca de um terço dos adolescentes estão acima do peso. Especialistas dizem que quatro em cada cinco dessas crianças com peso acima da faixa continuarão assim a vida inteira. O México tem atualmente mais de 32% de sua população obesa (contra 28% nos Estados Unidos). Para se ter uma idéia, Brasil e Bélgica estão empatados em 14% de obesidade na população.
As taxas de obesidade têm aumentado consideravelmente desde 1980, quando o consumo de fast-food começou a aumentar na América Latina, e espera-se que esses números subam ainda mais já que tendências de hábitos alimentares na região apontam para um maior consumo de alimentos com altos níveis de gordura saturada. A América Latina também tem um elevado número de pessoas com excesso de peso, o que indica que a tendência de obesidade vai continuar. A projeção para 2020 é de que seis dos 10 países mais obesos serao da região: Venezuela, Guatemala, Uruguai, Costa Rica, República Dominicana e México. Maior acesso a alimentos com elevado teor de gordura e aumento da urbanização – o que resulta em estilos de vida mais sedentários – contribuirão para maiores taxas de obesidade no futuro.
O que é mais preocupante é que a obesidade vive lado à lado com a fome. O governo federal acabou de lançar uma campanha nacional contra a fome – mal que assola grande parte da população mexicana (cerca de 7 milhões de habitantes). Devido aos fatores de risco adicionais associados à pobreza, pessoas com insegurança alimentar e de baixa renda são especialmente vulneráveis à obesidade. Essa parte da população enfrenta desafios específicos na adoção de comportamentos saudáveis. Além disso, têm recursos limitados e falta de acesso a alimentos saudáveis à preços acessíveis. Mesmo quando disponível, a alimentação saudável é muitas vezes mais cara, enquanto que grãos refinados, açúcares adicionados e gorduras geralmente são baratos e prontamente disponíveis em comunidades de baixa renda. Tais alimentos têm qualidade nutricional mais baixa e, por causa do consumo excessivo de calorias, têm sido associados à obesidade. Bairros de baixa renda têm menos recursos de atividade física, incluindo menos parques, espaços verdes, ciclovias, e de lazer, tornando-o difícil de levar um estilo de vida fisicamente ativo. Famílias de baixa renda, incluindo crianças, pode enfrentar altos níveis de estresse, devido às pressões financeiras e emocionais, baixos salários, falta de acesso a saúde, condições precárias de habitação, e outros fatores.