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A Realidade do Estado Elefante

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O Estado Elefante1Investimentos em Segurança Pública no RN (PT 1)

Propaganda

Diante do Caos que a mídia tenta inserir os movimentos sociais de manifestantes no Brasil inteiro, Os problemas de segurança pública, saúde e educação não são unicamente culpa da União, mas a sociedade brasileira está sendo tangida como gado, sem vontade própria, por caminhos que a impede de ver o que está acontecendo.

A projeção do problema para uma visão estratificada da realidade tem impedido as pessoas de perceberem a propaganda oculta nos telejornais que passam o dia inteiro ressaltando mais o vandalismo, os saques e os malfeitores imiscuídos nos movimentos de protesto, do que propriamente na valorização da atitude única de sair para as ruas e bradar seu descontentamento. Quando tem que mostrar algo, a mídia tendenciosa tenta apontar um único culpado que possa servir como bode expiatório. Como fez com policiais há algumas semanas, depois fez com os manifestantes, algumas emissoras de televisão, jornais e alguns blogueiros pagos, ao perceberem a hostilização com que os manifestantes direcionaram à eles, tratou de conseguir logo outro culpável potencial e encontrou a figura perfeita, a ex-guerrilheira, a primeira presidente, ou presidenta, num processo que intitulo de “Dilmização da Culpa”, criteriosamente a mídia desconfigura o clamor público e direciona o ódio para Dilma Rousseff.

Ninguém mais se lembrava das motivações originais. O protesto abordou múltiplos descontentamentos e começou o esquecimento em protestar contra as atitudes dos governantes e dos representantes estaduais, dos prefeitos e vereadores que estão confortavelmente aproveitando esse momento para ficarem calados e impunes por seus erros.

Estão todos aguardando que no jogo decisivo da Copa das Confederações que será disputado pelas seleções do Brasil e da Espanha, a seleção brasileira vença e aplaque um pouco o desgosto brasileiro através do patriotismo esportivo, que até nisso é manipulado em nosso país, que valoriza mais um único evento esportivo do que os Jogos Olímpicos.

Elephant_Parade_by_EredelEnquanto isso

No Estado Elefante (como é conhecido o Rio Grande do Norte por seu mapa cujo contorno se assemelha a figura de um elefante), em meio aos protestos que estão ocorrendo, novas propagandas falaciosas apresentadas pelo Governo Estadual sobre seus investimentos começam a ser veiculadas. E algumas pessoas esquecem que foi num movimento contra o aumento do preço da passagem de ônibus, a #RevoltadoBusão, que tudo começou em Natal, que se tornou uma das capitais mais inseguras do país.

Na primeira #RevoltadoBusão, foi justamente a falta de investimento nas polícias estaduais que convenientemente colocou a Polícia Militar como a bola da vez no ranking dos culpados. Ninguém teve coragem de dizer que a falta de acompanhamento psicológico num grupamento que está em constantes ações de pronto emprego, que a falta de treinamento continuado e respeito ao policial que o colocou em uma situação de estresse para o qual não estava mais preparado.

Foi essa mesma falta de investimento que impediu que houvesse uma equipe de inteligência da Polícia Civil para plotar ações de vândalos, arruaceiros e saqueadores dentro dos movimentos e buscar neutraliza-los para não macularem o clamor estudantil por uma passagem que ele tivesse mais condições de pagar. E notem que esse trabalho preventivo não teria o viés de criminalizar os movimentos sociais como foram tanto criminalizados pela mídia na época, mas sim evitar justamente que a maioria pagasse pelo erro de poucos.

Nesse clima de insegurança e de polarização de dois grupos antagônicos, os manifestantes e a polícia militar, o governo municipal e o estadual prosseguiram incólumes com suas imagens “fotoshopiadas” para aparecerem como inocentes nas propagandas.

Nos últimos meses, nada progrediu em termos de Segurança Pública no Estado do Rio Grande do Norte que fosse decorrente da iniciativa do Governo Estadual e não demanda de outros órgãos e entidades que se preocupam com a taxa de homicídios que, na proporção que se encontra, antes de julho de 2013, terá chegado ao total de homicídios cometidos no ano inteiro de 2009.

mamut_26fev2013_by_vanontp-d5w9e3sRedundantemente outra vez

Embora parecendo redundante, é preciso lembrar que a taxa de homicídios está desenfreada e sem nenhuma previsão de investimento para baixar esses índices. Em 2012 foram 940 homicídios cometidos no Estado Elefante, sendo 444 cometidos somente em Natal.

E novamente o Governo do Rio Grande do Norte acessa com uma medida pífia e não fundamentada em estudos, que virá em forma de uma nova nomeação tapa-buracos para a Polícia Civil, isto é, novamente nomeações escassas apenas para repor a vacância gerada por aposentadorias, exonerações e falecimentos. Serão apenas 3 (três) delegados, 9 (nove) agentes e 8 (oito) escrivães de polícia civil para um Estado que acabou de extinguir o Núcleo de Investigação dos Crimes de Alta Tecnologia (Nicat), através da portaria normativa publicada na edição da sexta-feira, dia 28 de junho no Diário Oficial do RN.

Voltando aos índices de homicídios, em 14 de abril de 2013 o Rio Grande do Norte já conseguiu chegar à metade dos crimes cometidos durante o ano inteiro de 2012, ou seja, dos 940 crimes de 2012, 470 foram cometidos antes de terminar o primeiro quadrimestre de 2013.

A realidade que solapa o rosto da sociedade potiguar é terrivelmente cruel para ser contraposta com ações ineficazes em promover a segurança no Rio Grande do Norte. Apenas em Natal, o número de homicídios de 2012 foi de 444. Em 27 de maio de 2013 já haviam sido praticados 222 assassinatos, ou seja, 50% do total cometido em 2012.

Tabela HD

A tabela acima é apenas uma das poucas evidências de que se está deixando de enxergar a situação do Estado nas manifestações públicas, para simplesmente culpar o bode expiatório mais conveniente.

Elephant_by_narvilsMais do mesmo

Na sequência desse artigo, abordaremos a falta de aplicação de recursos em segurança pública a despeito do que está sendo veiculado nas propagandas pelo Estado. Apresentaremos uma tabela, mostrando que do recurso de três milhões e duzentos mil destinados para obras e instalações, mesmo depois do artigo de nossa lavra chamado 7ª DP: Retrato do Caos mostrando o descaso com as instalações dessa delegacia, a despeito de tantas outras, nenhum gasto desse tipo foi realizado em todo o Rio Grande do Norte.

Chega de mascarar os erros do Governo do Rio Grande do Norte através dessa “Dilmização da Culpa”, afinal, #OElefanteAcordou.

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves.

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CONSULTOR ESPECIAL DESSE ARTIGO:

Marcos Dionísio Medeiros Caldas é Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (RN) e da Coordenação do Comitê Popular Copa 2014 – Natal.

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REFERÊNCIA:

¹ Homícimetro é o nome dado pelo Fotojornalista Cezar Alves para um possível marcador de número de homicídios que funcionaria como um relógio digital, instalado em algum local de grande visibilidade, para alertar a população do descaso com a segurança pública.

Cezar Alves em Retratos do OesteArtigo escrito por Ivenio Hermes e publicado originalmente em parceria com o amigo e fotojornalista Cezar Alves (Coluna Retratos do Oeste) do Jornal De Fato.