Pelé, entrando na onda do revisionismo histórico em curso, falou que não jogara a Copa de 1974 incomodado que estava pelo fato do Brasil viver numa Ditadura.
Eu era menino lá por Santos Reis e acompanhava tudo do futebol pela Placar e pelas rádios locais, onde pontificavam Hélio Câmara, Roberto e Franklin Machado, Rubens Lemos, Cassiano Arruda, Cezar Rizzo, Batista da Fonseca, Souza Silva, José Augusto e Celso Martinelli ( o homem que revolucionou o nosso rádio esportivo) e do Rio de Janeiro, através de um Rádio Motorola que era minha Internet.
Foi feita toda uma comoção para fazê-lo jogar e ele sabidamente negou-se a voltar à seleção. Argumentava que queria ser lembrado no auge da sua carreira e não como um mais veterano se arrastando em campo e vivendo da fama. Bem informado, diferente de Zagallo e Parreira, acho que sabia também da revolução em curso da Laranja Mecânica e por isso sentou-se em cima dos louros de 1970 e da sua carreira vitoriosa.
Na vida como na área Pelé, sempre foi um grandíssimo oportunista. Se no futebol o adjetivo o credenciou a ser o maior jogador de futebol, na vida os tristes espetáculos e falas que protagonizou, durante e depois da carreira, foram até mesmo afastando o craque dos Brasileiros.
Lembro , inclusive, de uma Placar onde Pelé criticava a URSS por esta recusar-se a disputar a repescagem para a Copa de 74 (Alemanha), contra o Chile por conta, dentre outras razões, pelos episódios dantescos do Estádio Nacional do Chile para onde havia sido marcada a partida e local também, onde o que melhor havia na sociedade chilena padecera torturas e encontrara à morte.
Onde Victor Jara virou mártir da música, do engajamento e da civilização, perecendo com um violão posto, sobre o que restara do seu corpo, por um oficial da DINA.
Sempre ao dizer que não gostava de política, Pelé mostrava de maneira inequívoca de que lado estava. E sorrindo ao lado dos maiorais da época, com aquele sorriso que vendia de pilhas a vitamina C, suas falas e seu comportamento sempre foi no sentido de ajudar na alienação da população. Nunca se preocupou também com a sorte dos companheiros de profissão. Quando Afonsinho esgrimia uma rebeldia possível contra a lei do passe e o obscurantismo da época, ele pianinho pianinho, continuava a enriquecer e a servir a ditadura.
Quando a panela de pressão explodiu e as massas ganharam às ruas em busca das diretas, sua frase mais lembrada pelos idiotas da época era a de que O POVO NÃO SABIA VOTAR que repercutiu tanto quanto a que afirmara de que não havia racismo no Brasil.
Vez por outra , Romário se refere a ele como um grande poeta, calado.
Para tentar reposicionar seu comportamento na época, Pelé diz que a filha de Geisel lhe fez um apelo para que jogasse a Copa de 1974 na Alemanha e que ele recusara descontente com a Ditadura.
Por esta época, a filha do ditador Ernesto Geisel dera uma entrevista dizendo-se fã da música de Chico Buarque. O fato não escapara ao poeta e maior brasileiro vivo, que valendo-se do pseudônimo de Julinho de Adelaide, clivou um verso direto ao ditador de plantão na música Jorge Maravilha: “ Você não gosta de mim / mas sua filha gosta”.
Na onda revisionista em curso, Pelé, atropela sua trajetória e tenta dá um trato na sua imagem dizendo que não atendeu à filha do ditador. Devia permanecer como grande poeta do qual nos fala Romário, calado.
Deve ficar como maior jogador de futebol. E só. O que fez com sua filha a quem recusou reconhecimento até a hora da morte e a quem, oportunisticamente, no velório enviou uma coroa de flores que foi recusada pelos verdadeiros entes querido, nunca o credenciou nem a aproximar-se de um Roberto Carlos ( nesse estrito comportamento de reconhecer seus filhos) quanto mais de Julinho de Adelaide e Chico Buarque. Tem cabimento Pelé querer ser Julinho de Adelaide ou Chico Buarque?