Desde o início discordei das teses espontaneístas-autonomistas do movimento, mas como foi tirado em plenária, respeitei.
O movimento tentou – e conseguiu – negar todas às instituições partidárias e não partidárias, que quiseram ajudar e que se identificavam com a Revolta do Busão. Rejeitou bandeiras. Acharam que bastava a presença, que resolveria.
Mais complicado ainda, além de não afirmarem instituições, não trataram de construir uma.
Sem anteparo institucional – como em São Paulo e seu MPL, por exemplo -, viraram presas fáceis. Nem uma comissão formada o pessoal tinha para dar entrevistas, espalhar mais fortemente a nossa real opinião, firmar posição política, etc.
Uma paranoia sobre instrumentalização atravessou a cabeça do pessoal. Esqueceram de perceber que as plenárias, através do voto, fariam o controle social, impedindo qualquer partido de, individualmente, se apropriar dos protestos (penso que eles não tinham nem essa intenção).
Resultado: a revolta do busão foi sim instrumentalizada, mas pelo discurso mais atrasado de Natal. Hoje, leio “ativistas” (jeito limpinho de não falar “militante”), pedindo o retorno dos generais e alegando que protestos sinalizam isso.
E o vandalismo? Colaram na gente e não em quem, de fato, o incentivou desde o começo.
As figuras das agremiações mais reacionárias do Estado usam o movimento para atacar o inimigo deles – um partido de esquerda, que se este último não tivesse chegado ao poder, talvez boa parte dos estudantes da Revolta do Busão não estivessem nem na universidade, mas em algum subemprego sem direitos.
Fica uma lição: não adianta querer negar a política sob a ingênua concepção de que todo mundo vai ser bonzinho com você e reproduzir, literalmente, tudo o que você está tentando dizer nas ruas. Os agentes sociais tomam parte e constroem máquinas de guerra, conforme Deleuze (ou máquinas políticas, na acepção de Weber), para fortalecer seus ideais e ganhar mentes alheias.
A sociedade é entrecortada por diferentes classes e instituições, que tem seus interesses objetivos e antagônicos, muitas vezes, com a busca por conquistas sociais.
Negar as instituições abre espaço para que, no primeiro momento e sem o nosso controle – como aconteceu -, um protesto seja reapropriado e apresentado com um sentido que não o que a gente queria, sonhava.
O irônico disso tudo – os militantes, que apoiaram desde o início, apanharam de quem agora se diz acordado, mas antes endossou a repressão policial. O DEM deu entrevista saudando os protestos. Enquanto isso, partidos de esquerda figuraram para toda a cidade como expulsos daquilo que seus membros também ajudaram a construir. Nossa pauta foi engolida e em seu lugar surgiram meninos com bandeiras do Brasil, caras pintadas e cartazes ditatoriais.
Aprendamos com essa porra toda (frase retirada de um cartaz de uma manifestante)!!!!
PS. autonomismo não é negar sindicatos, partidos, entidades, etc, até porque, na prática, você perde o controle sobre elas e fica a mercê de qualquer coisa. Mas sim o modo como você constrói uma instituição. Partidos, sindicatos, movimentos sociais, entidades estudantis, enfim, todas as forças alinhadas com a Revolta do Busão devem ser chamadas para dar sua contribuição. A plenária faz o controle social e não deixa que ninguém, individualmente, direcione ações. Ou será desse jeito, ou da próxima vez, os estudantes irão apanhar novamente, para a classe média reacionária da cidade entrar na avenida e brincar de Carnatal.
PS.2. Não nos rendamos ao moralismo de direita, que prega uma coisa que não cumpre. Criminaliza a política, mas não deixa de utilizar todas as suas forças para atingir seus interesses elitistas. Política não é só “sacanagem”, mas também realização. Fora dela, só a violência. Vamos vomitar o opressor que está dentro da gente.
PS.3 Dilma disse que receberá lideranças para o diálogo. Ah, vocês são contra isso e vão perder mais essa oportunidade.