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#RevoltadoBusão é o movimento que defendo. O fascismo-golpista, não!

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Ainda procuro compreender – como todo mundo – o que vem ocorrendo no Brasil e, em especial, em Natal-RN, cidade que resido. Participei das primeiras plenárias e manifestações da #RevoltadoBusão. Gostaria de estabelecer algumas comparações com o que vi ontem (20) em Natal e o que aconteceu nos primeiros protestos.

POR QUE DEFENDI E DEFENDO A REVOLTA DO BUSÃO

01 – O movimento tomava suas decisões em plenária, que era o instrumento que dava a “linha” dos atos. Seguindo sua lógica de funcionamento, havia espaço para a discussão e avaliação, no qual quem quisesse poderia se inscrever e falar – partidário, apartidário, simpatizantes, sindicalistas, membros de movimentos sociais, entidades estudantis, anarquistas, marxistas, liberais, etc.

Só depois de muita conversa e debate uma pauta era submetida à votação. Uma pessoa dizia: “há esse caminho e esse outro. Quem prefere X levanta o braço. Pronto. Agora quem prefere Y levanta o braço”. As decisões nunca foram tomadas a partir do controle do partido Z ou B. Militantes e não militantes tinham direito a um voto, é válido repetir. Pessoas de partidos estavam ali, como qualquer cidadão. No entanto, nenhuma agremiação decidia os rumos individualmente. A plenária, sim.

 

482601_258514367620600_958103552_nPlenária da Revolta do Busão

 

02 – Nos protestos de rua – eu fui ao primeiro –, todos obedeceram à prerrogativa tirada em plenária de que não haveria violência. “Se a gente se exaltar, perdemos a cabeça e o apoio da opinião pública”, disse uma jovem. A institucionalização desse ponto de vista foi fundamental para que os mais exaltados fossem contidos durante a primeira passeata. Havia um controle institucional – via votação – das ações.

03 – Depois dos atos, em mais uma plenária, uma pauta foi construída e a #RevoltadoBusão recebeu a contribuição de outros movimentos sociais, o Grito da Seca e o MST, por exemplo. Em que pese o ódio pela covarde violência policial sofrida no protesto inicial, não ocorreu ataque a terceiros ou ao patrimônio público, ou mesmo privado nas manifestações posteriores. Cinco mil pessoas andaram até a governadoria pela Br-101 e um único papel não foi rasgado, sequer.

04 – O movimento tirou uma comissão composta por anarquistas, partidários, não partidos, membros de movimentos sociais e da própria RevoltadoBusão enquanto novo movimento social e foi conversar com Sávio Hacrakt, chefe do gabinete civil da prefeitura. Soube depois que ele elogiou os estudantes porque a conversa foi civilizada e propositiva.

05 – A mídia não apoiava a #RevoltadoBusão. O consenso dos jornalões locais era o de que só existiam ali vândalos, arruaceiros e vagabundos. Falaram em lucro dos empresários, inflação, direito de ir e vir, capuz, enfim, tudo para sofismar contra o movimento. No trato pessoal, alguns jornalistas me disseram: “Daniel, aquilo é um bando de maconheiro, defensores de homossexuais, uns sem-futuro que querem tomar conta da cidade. A polícia agiu corretamente. Não sei porque você se junta com aquele ‘povo’. Vá ganhar dinheiro que é melhor. Deixe aquele ‘povo’ se fuder para lá”.

 

images#RevoltadoBusão, MST e Grito da Seca se uniram num segundo ato – nenhuma ação de violência foi registrada

 

06 – Por achar que a pauta era justa, que o movimento tinha um conteúdo construído democraticamente e a forma de protestar era válida, apoiei (e apoio) a #RevoltadoBusão, tanto que isto foi visto na minha coluna na Carta Potiguar. O movimento se espalhou pelo país.

O QUE NÃO DEFENDO NOS PROTESTOS

01 – De repente, tudo virou. A mídia, que escondia a violência policial e tratava a todos como rebeldes sem causa, começou a apoiar. Vibrei. Mas não deixei de criar uma impressão negativa. Mais. Saquei o lance dos nada bobinhos.

02 – Uma pauta nova começou a ser insuflada. Em que pese o próprio instituto DataFolha (!) ter mostrado que maioria paulista queria diminuir tarifa e transporte de qualidade (uma cidade melhor), agora a história era a de que “O Brasil tinha acordado”.

03 – Os especialistas prescritivos da realidade, que atuam como se estivessem apenas descrevendo-a, começaram a exaltar o antipartidarismo, a ladainha de que o movimento não tinha dono e que era para ir para a rua mostrar uma “insatisfação”, sei lá agora contra o quê.

04 – Na mesma velocidade com que vândalos viravam mocinhos, era imposto de fora para dentro um novo sentido aos protestos. A luta não era contra a desigualdade, pelo direito à cidade, pelo direito de ir e vir, por uma nova relação entre prefeitura e empresários de transporte público. Agora, o alvo são os “políticos”, a “corrupção” e pela ética na política.

05 – Fiquei me perguntando: quem é a favor da corrupção? Quem é contra a ética na política? A pauta era contra tudo e, ao mesmo tempo, contra nada. Muitos apareceram meio que numa democracia de carnatal.

06 – Se desenvolveu uma “salada do fim do mundo”, juntando, numa grande desonestidade intelectual golpista, inflação (que nunca saiu do centro da meta), juros altos (para acabar com o pleno emprego e abaixar os salários dos trabalhadores, que vêm crescendo acima da inflação), o chamado custo das cidades (para quem?), ataque aos partidos (em especial, os de esquerda. Por que, será?) e uma suposta piora das condições de vida dos brasileiros, em que pese todos os dados mostrarem o contrário (gosto muito de pensar racionalmente os fatos). De repente, o alvo deixa de ser a desigualdade e busca legítima por melhores condições de vida e passa a ser um irracional “descontentamento”.

07 – Fui para o ato de ontem já com extrema desconfiança, mas ainda com forte otimismo, pois imaginava que a formação das redes locais de mobilização (o protesto de ontem foi mobilizado também via #RevoltadoBusão) ainda conseguiriam manter a coerência dos protestos. Desapareceu hoje.

08 – Vi pessoas empunhando bandeiras pró-ditadura militar sendo respeitadas. Não queria agressão contra elas. Muito longe disso. Mas chama atenção o fato de ninguém questionar essa, digamos, “pauta”. Enquanto isso, amigos e personalidades históricas da esquerda apanharam de gente com bonés militares. Bandeiras pró-ditadura não foram criticadas. Símbolos de partidos que ajudaram a construir a democracia no Brasil, sim. Militantes de partidos, de sindicatos, entidades estudantis ou de movimentos sociais, que abriram o debate debaixo de porrete da polícia desde o início e que convidaram os “apartidários” a participar dos protestos foram cerceados. Os “apartidários”, em especial, os que acordaram ontem, não. Pior: ainda impuseram sua forma de tomar partido para quem pensa de modo diverso.

 

image_previewMilitantes de partidos e organizações sociais fazem cordão para se defender na avenida Paulista, em São Paulo – Foram atacados por Skinheads neonazistas armados com facas

09 – No fim, vi o quanto as nossas elites pelo Brasil afora, tentando, eles sim, instrumentalizar os protestos, foram irresponsáveis em deslegitimar todas as entidades, que estiveram desde o início, construindo com hematomas e muito suor o movimento, deixando o cenário aberto para todo tipo de irracionalismo e vandalismo como o que aconteceu ontem e vai acontecer enquanto os protestos seguirem esse formato. Sem o controle institucional da comissão organizadora (plenária), o espaço ficou aberto para todo tipo de ressentimento, irracionalismo, vandalismo e violência, tal como ocorreu ontem.

10 – Vou ficar com o filósofo Adorno, que ao analisar um levante, disse: jamais apoiarei um protesto que queima livros, bate em outras pessoas e depreda uma universidade. Só não vi livros ontem sendo queimados. O resto sim. Endosso movimentos sociais com causas. Não endosso irracionalismo.

TÔ FORA

11 – Mais. Eu não apoiarei nenhum protesto que nega instrumentos democráticos em sua formação, apóia a acefalia e bate em pessoas porque estas estão com bandeiras e cartazes. Isso para mim é fascismo.

12 – Apoio a #RevoltadoBusão. Esta atitude golpista do #BrasilAcordou, não. Até porque eu não estava dormindo e tenho certeza que meus amigos da #RevoltadoBusão também não.