Conforme pesquisa Datafolha, 78% dos manifestantes se declararam apartidários. O dado serviu para aparentemente fortalecer a alegação enviesada de que toda a política está em xeque e tentar apagar o lado em que os manifestantes, de fato, estão.
Mais. Para nomear os movimentos sociais ao sabor das emoções e interesses em disputa. Os neoprogressistas, os mesmos que até ontem vibravam com bombas e balas de borracha contra os estudantes, já arranjaram inúmeras razões: inflação, custo das cidades, Dilma, ética na política e até – pasmem – protagonismo da classe média, que seria moralmente superior.
Menos, pessoal. Bem menos. Saiam desse etnocentrismo nada gratuito. Ninguém grita nas avenidas brasileiras pensando nas eleições de 2014, como vocês. Ninguém sonha com o brado retumbante global.
Em que pese a desconfiança expressada contra os partidos, não se trata de um movimento sem posição, para além do bem e do mal.
Política, como já disse o filósofo Jaques Ranciere, significa tomar parte. Os manifestantes não fogem à regra.
E a pauta é a do combate à desigualdade do acesso aos serviços públicos(?). O que se consagra é a inclusão. O reconhecimento da cidadania e a tentativa de institucionalizar novos canais de participação. É a busca do direito à cidade.
Prova é que a mesma sondagem aponta que a grande maioria tomou às ruas pelo alto preço cobrado pelos meios de transporte coletivos e a sua baixa qualidade.
Não há único cartaz sobre choque de gestão, estabilização da economia, inflação, recomposição da taxa de lucro, ou pelo fim do bolsa família e programas de cotas, coisa que os conservadores tagarelam há dez anos.
Ninguém falou sobre acabar com o pleno emprego e com o salário, que sobe acima da inflação, verdadeira dor de cabeça dos especialistas em economia, que sempre aparecem nos programas de Tv.
Essa agenda, típica do Ancien Regime, lembrem-se, não juntou 20 pessoas na avenida paulista nos protestos que os neoprogressistas apoiaram no início do ano. Esqueceram, né?! Mas nós, não.
Sentimos informar-lhes, neoprogressistas, os atos reivindicatórios não são dominados por nenhuma agremiação, mas tem ideologia clara.
E não é nem nunca foi de direita.
O povo olha para frente, não para o passado.
Acordem.