Por Wellington Duarte, Professor de Economia da UFRN
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Os pais e a visão dos namorados
Amanhã as lojas, restaurantes, supermercados e motéis estão em polvorosa. É, enfim, o Dia dos Namorados. Dia especial para presentear a amada e, obviamente, ser presenteado. Tudo muito romântico, embora a própria data se reporte não a um momento único em que duas almas se encontraram e essa intensidade, ocorrida em determinado dia, acabou por ser celebrados pelas hostes enamoradas. A realidade é menos romântica.
Datas comemorativas não nascem do sentido do fato que o gerou, mas de como a sociedade os incorpora. Assim é o Dia das Mães, Dia da Criança e outros dias espalhados pelo calendário. Sem poderem ser “feitos” feriados, o que geraria júbilo nacional, estas datas acabam por incendiar o imaginário das pessoas e esvaziar seus bolsos.
O que dizer então desse dia tão feliz para alguns, e que causa uma certa inveja em outros?
Uma olhada mais criteriosa e veremos que a data, no Hemisfério Norte, aquele que fica acima da linha do Equador, é comemorada em 14 de fevereiro em referência ao Dia de São Valentin, cuja origem é tão controversa que a Igreja Católica desde 1969 desconsiderou a data[1].
A quem diga que a Igreja Cristã fez uma espécie de “adaptação” às festas pagãs romanas[2] e no século V o papa Gelásio declarou o 14 de fevereiro como Dia de São Valentim, embora na França e Inglaterra o dia fosse observado como o dia de fornicação das aves. E no dia da fornicação das penígeras os apaixonados enviavam carta às futuras amantes. Romantismo emplumado.
Nos EUA a data começou a ser comemorada, através do envio de cartas românticas no início do século XVIII e disseminou-se rapidamente, tornando-se uma data comemorativa, fazendo os comerciantes ianques, que de bestas nada tinham, eleger a data como uma possibilidade muito boa de abocanhar grana dos apaixonados.
No Brasil, coube ao senhor João Agripino da Costa Dória Neto, conhecido como João Doria, a paternidade desse dia. Em 1949 ele era presidente de uma empresa publicitária que representava a Exposição Clíper, uma loja da década de 40 em São Paulo. Para alavancar a vendas no mês de junho, que não tinha nenhum feriado comercial, ele criou o slogan “não é só com beijos que se prova o amor”. A data escolhida foi 12 de junho, que antecede a comemoração de Santo Antônio, considerado um “santo casamenteiro” pelos católicos. Com isso a empresa conseguiu um prêmio de agência do ano.
Só no final da década de 50 é que a data passou a ser uma referência no calendário comercial e recebeu uma “benção oficiosa” da Igreja Católica, já que a data estava “encostada” ao Dia de Santo Antonio. Uma mão lavou a outra.
Dia dos namorados e as escolhas
O fato é que a data remete a todos para as compras, para a fornicação glamourosa e para uma reflexão sobre o sentido do namoro, como um elemento que permeia nossas vidas e que possibilita a ampliação, ou não, dos nossos horizontes.
[1] A Igreja Católica reconhece a existência (lendária é verdade) de três santos de nome Valentinus. O primeiro deles teria sido um padre que vivera no século III em Roma e que se rebelara contra uma ordem doida do imperador maluco, Claudius II, que simplesmente proibiu o casamento entre os jovens, por considerar os soldados solteiros melhores no combate. Doido de pedra. Um outro Valentim teria sido um romano, sacrificado por ajudar na fuga de cristãos, perseguidos em Roma. E uma terceira lenda, fala sobre um Valentim que, preso, apaixonou-se pela filha do carcereiro e, antes de ser sacrificado, escreveu-lhe uma carta com uma dedicatória romântica.
[2] Refere-se especificamente as festas de Luperci, uma ordem de sacerdotes romanos, que prmoviam comemorações ritualísticas em homenagem a Rômulo e Remo, e que usavam o couro das cabras sacrificadas, banhadas em sangue, para bater suavemente nas fogosas romanas, que acreditavam tornarem-se férteis com essa “lapada”. No final das festas rapazes e raparigas se encontravam e passavam a ser casais.