Muita gente ainda não consegue entender o que é um Ponto de Cultura, buscam compreender o que é esta política cultural idealizada por Gilberto Gil quando Ministro da Cultura, este que trouxe para sua gestão o entendimento mais correto da palavra “Cultura”, um entendimento no sentido antropológico, nas suas mais diversas facetas, que abarca não só as manifestações artísticas, mas também étnicas, tradicionais, populares e contemporâneas.
Enquanto muitos se limitam a entender que a Cultura somente é feita por artistas profissionais, intelectuais, em eventos megalomaníacos, existem culturas pulsantes acontecendo na base da sociedade, em bairros periféricos, comunidades rurais, e longe das tradicionais casas de espetáculo em que a maioria da população não tem acesso. São estes os Pontos de Cultura. Entidades (registradas ou não) que desenvolvem ações culturais contínuas e que nunca tiveram nenhum apoio financeiro por parte do Estado, mas que a partir do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura, começaram a ter suas ações reconhecidas e premiadas. Com verba para compra de equipamentos multimídia, valorização de seus profissionais, dos Mestres Griôs. Verba que ajudou ao fortalecimento de sua imagem na sua própria comunidade, com possibilidades de expandir a Economia Cultural do seu território. Em suma, os Pontos de Cultura são ações que já existem, com um caráter aglutinador, e que vão além de atividades artísticas, atuam também como movimentos sociais, servindo como espaço importante de discussão e de formação cidadã.
A cidade do Natal precisa entender a importância dessa política cultural para o seu desenvolvimento. Nossa juventude negra e periférica necessita e anseia por opções de vida que não chegam até ela, e a necessidade é premente, e infelizmente os jovens não podem esperar que o Estado crie novas possibilidades para eles. Considero que uma ação emergencial seria a valorização desses Pontos de Cultura, Quadrilhas Juninas, Grupos de Dança e de Teatro, Bandas de Música, grupos de Cultura Tradicional, Hip-Hop, Artistas visuais, Cineclubes, Espaços de Cultura Digital e qualquer outra manifestação que se apresenta no seio da nossa Cultura.
A Arte e a Cultura devem ser opções para os nossos jovens, não devem ser empurradas de goela abaixo, sem considerar suas especificidades e condições culturais de cada território. A jovem menina do Bairro de Mãe Luiza precisa se reconhecer enquanto sujeito e enquanto uma fazedora de Cultura, se não outras opções aparecerão e serão empurradas de goela abaixo desta jovem garota, como o Crack e a exploração sexual, a primeira opção que é distribuída a preço de banana em portas de escolas e que causa uma falsa e momentânea sensação de prazer e que acaba com inúmeras vidas e destroem famílias inteiras, e a segunda que é distribuída nas rádios mais populares da cidade (em forma de música), por “gringos” que por aqui chegam, propagada pela Cultura de Massa que mercantiliza o corpo feminino e que o transforma num objeto banal e naturalmente violado.
Fortalecer a Cultura de um povo vai além de empoderar artistas, essa ação remonta em seu povo o desejo de ter e valorizar sua identidade. Precisamos que os Potiguares acendam em si a chama de nossa Cultura, que zele por ela e a exiba como seu principal troféu, que vistamos a camisa da nossa bandeira e que falemos de nossos mestres e Griôs com um orgulho latente. E que, por fim, possamos nos olhar e ver em nossas rugas os traços do nosso povo e de nossa característica cosmopolita, tudo isso fruto de nossas rusgas dialógicas acontecidas ao longo dos séculos.
*texto produzido para o jornal do Mandato do Vereador Hugo Manso