De Informações a Desinformações
Por Ivenio Hermes¹
O Nada
A instabilidade na Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social tem ficado cada dia mais evidente. São muitos discursos divergentes, discordantes, informações equivocadas, declarações de desconhecimento, desinformações que estabelecem uma marca registrada na Administração Ciarlini.
Num governo que levasse a sério a questão da segurança de seus cidadãos, teríamos políticas claras, preocupação com recursos e investimentos, e uma comunicação eficaz entre as secretarias. O que temos, são frequentes desencontros em um governo, que chegando aos três anos de gestão, nada promoveu de ações efetivas na segurança pública.
E realmente nada é a palavra exata, pois se adquire viaturas, não planeja a manutenção, se nomeia concursados é para sustentar uma política de interiorização que não existe, se promove operações para a polícia ostensiva realizar, não respeita os estudos dessa mesma polícia para o direcionamento das ações ou o pagamento das devidas diárias aos seus policiais…
Enfim, a Administração Ciarlini desencadeia através da falta de estratégias para a segurança uma verdadeira confusão interinstitucional.
Informações Discordantes
Dentre as principais informações desencontradas que se percebeu nos últimos dias da história da segurança pública potiguar temos:
1- Propaganda Desmentida: a interiorização da polícia civil e a contratação de novos policiais foram provadas como sendo irreais pela própria governadora ao declarar que não sabia onde estavam os policiais civis. Além disso, as delegacias continuam fechadas a noite e no interior, os problemas de efetivo continuam gerando problemas com o uso de policiais militares;
2- Falso Aparelhamento: a Polícia Militar, que mais necessita de viaturas para a realização do policiamento ostensivo, recebeu viaturas novas, contudo, não houve planejamento de manutenção, e atualmente as viaturas novas vão atingindo o limite de quilometragem possível sem serem revisadas para em seguida ficarem paradas nos pátios dos quartéis;
Mas os problemas internos de comunicação da SESED – Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social se apresentam também muito preocupantes.
Desde que assumiu a pasta da secretaria, Aldair da Rocha, se viu preso numa teia de promessas de que seus projetos para a segurança pública do estado seria postos em execução. Contudo, até hoje não sai do papel a Divisão de Homicídios e Divisão de Combate ao Crime contra a Administração Pública por pura falta de destinação de recursos para aquisição de material e contratação de mais homens.
No programa Grandes Temas da TVU, o secretário tentou ser polido em relação à Administração Ciarlini falando que segurança pública iria além da questão de efetivo, mas não conseguiu dar outra explicação para as delegacias fecharem durante a noite ou estar havendo um caos por falta de agentes, escrivães e delegados nas delegacias do interior.
Concorrendo para o agravamento do problema, em Mossoró foi criado um novo Batalhão de Polícia Militar utilizando policiais de outros locais, enfraquecendo o policiamento no local de origem. Portanto, a criação do Batalhão foi uma ação de aparência, sem substância para resolver o problema da criminalidade.
Policiais Militares ficam de braços cruzados em suas bases nas cidades do interior, como Canguaretama, pois não possui viaturas para trabalhar, ou melhor, o Governo do Estado não pagou os postos de combustíveis que abastecem as viaturas e por causa dessa inadimplência não existe a possibilidade da realização de policiamento ostensivo e nem sequer o atendimento de ocorrências.
Episódios Recentes
Duas situações envolvendo a SESED e a Polícia Civil se tornaram clássicas na exposição do problema do discurso dissonante que a Administração Ciarlini tenta ocultar.
1- Na ocasião da troca de delegado geral da Polícia Civil, Fábio Rogério, o então delegado, declarou insatisfação com sua exoneração enquanto o Secretário Aldair da Rocha informava que havia sido um pedido do delegado. Fábio ainda afirmou que não sabia quem seria o novo delegado, porém no dia de sua declaração já havia sido feita uma reunião com Ricardo Sérgio, para informa-lo de ele assumiria a pasta.
A escolha foi feita pela governadora Rosalba Ciarlini e foi contrária ao que o CONSEPOL havia escolhido.
2- Talvez movido pela ansiedade em responder aos anseios gerados pela mídia em relação à morte do advogado Antônio Carlos de Oliveira, levou Aldair da Rocha a informar precocemente que o caso já estava elucidado, contudo os trabalhos de investigação estão em andamento, pois os delegados do caso continuam investigando e afinal, as duas pessoas detidas ainda são consideradas apenas suspeitas.
O repasse de informação feita pelo Secretário ainda teria causado estranheza a Roberto Andrade, delegado que preside o inquérito policial. A informação precipitada teria prejudicado a investigação uma vez que ainda outros mandados de prisão que deveriam ser cumpridos a posteriori poderiam não ocorrer.
Situações assim colocam em dúvida a credibilidade da atual administração em gerir a segurança pública no Estado.
Os próprios delegados que investigam o caso declararam não entender como um experiente delegado da Polícia Federal poderia divulgar informações sigilosas que colocam em risco uma investigação.
De Informações a Desinformações
A Administração Ciarlini realmente não sabe o que faz em relação à segurança pública. O declarado desconhecimento não se atém exclusivamente à polícia judiciária.
No ITEP – Instituto Técnico e Científico de Polícia, material biológico e cadáveres se decompõem em apodrecimento exposto no pátio interno da sede do órgão na Ribeira. Sede essa que já denunciamos em outro artigo por não possuir as condições mínimas de funcionamento sendo inclusive motivo de embargo pelo Corpo de Bombeiros.
Falando do Corpo de Bombeiros, mas desinformações se alastram. Enquanto o Governo diz que o problema do efetivo está resolvido, a Copa do Mundo de Futebol se aproxima e não há mais tempo para renovar mais o quadro. Cumpre lembrar que a última turma de bombeiros foi chamada por força de pressões, inclusive de artigos desse autor como Deixando a fogueira arder que teve uma repercussão nacional, levando a administração do Estado a agir.
Na Polícia Militar não é diferente. O alto escalão luta para conseguir manter o policiamento ostensivo e o atendimento reativo de ocorrências, enquanto o Estado insiste em utilizar esses homens em desvios de função ou não promove o refrigério nas carreiras de praças e oficiais dando a eles a chance de subirem de postos, mas submetendo-os a sobrecarga de trabalho cada dia mais intensa.
São as informações e desinformações que a mídia recebe e divulga diariamente, sendo induzida ao erro, isso quando não há a percepção incontestável de matérias plantadas para gerar uma falsa sensação de o Governo do Estado somente não age porque está atrelado a limites contra os quais nada pode fazer.
Enquanto nada se faz, esse é o retrato do caos se estabelecendo a cada dia na segurança pública em todo o Estado do Rio Grande Norte.
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¹Artigo escrito por Ivenio Hermes e publicado anteriormente pelo amigo e fotojornalista Cezar Alves (Coluna Retratos do Oeste) no Jornal De Fato.