A democracia turca está sendo testada. Mas não é sobre ela que quero dissertar. A ideia é questionar a nossa (baixa) cultura política local, que não aceita o povo na rua, que regula – no sentido de minimizar – a cidadania.
Ao ver a imagem acima, não posso deixar de perguntar – e se essa manifestação estivesse ocorrendo em Natal?
Teríamos editoriais inflamados, trarando estudantes como criminosos?
Um juiz federal entraria numa seara em que sua família tem interesses econômicos diretos?
Ele impediria o protesto?
Mandaria a polícia “conter” os “revoltosos” em favor dos “cidadãos de bem” da cidade?!
O fato é que tem gente em Natal, que se pudesse, cercearia toda e qualquer forma de “mistura” (palavra sempre utilizada pela classe média tradicional local, para enfatizar que um determinado espaço está muito “misturado”, ou seja, que há sujeitos pobres também presente e não apenas os “seus”).
Alias, não dá para esperar muito de uma classe social, que só se revolta quando começa a passar ônibus coletivo em “suas praias”, ou quando “essa gente” – como eu li num jornal – também deseja usufruir dos parrachos de pirangi.
PS. Certa vez, ouvi uma conversa de amigos, que falavam: “Pirangi não presta mais, não”. Por que? “Porque está passando ônibus coletivo”. O moço falava isso, fazendo bico para um casal que lanchava na areia daquela praia.
Com certeza, a Turquia não é aqui.