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De quem é a culpa…

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Puppets_by_aruguchichiPor Francisco Canindé dos Santos (publicado originalmente no Blog do Ivenio Hermes)

No facebook há uma postagem cuja figura retrata um homem super bem vestido, segurando uma coleira que estar presa num policial com pode de cão de guarda. A charge também está acompanhada de um comentário que relaciona o conteúdo do desenho com o que está ocorrendo atualmente na cidade de Natal em relação às tarifas de ônibus utilizados pela coletividade.

É que as empresas responsáveis pela prestação de serviço de transportes públicos resolveram aumentar a passagem dos coletivos. Sempre que isso acontece, o fato causa indignação nas camadas economicamente mais baixas, que na maioria das vezes, deixam a revolta a cargo de pequenas murmurações, mas depois aceita as novas condições, devido a um pensamento conformista que convence a opinião pública de que não adianta fazer nada, e o negócio é aceitar calado.

No entanto, diferentemente do que pensa o senso comum, fabricado pelo ideário capitalista, vários estudantes se organizaram num manifesto para protestar contra o abuso econômico dos grupos que controlam o setor de transportes urbanos.

Reuniões, passeatas e divulgação nas redes sociais foram alguns dos meios encontrados por essa turma para combater a injustiça. Só que surgiu um obstáculo na luta: a força policial, que sob a “justificativa” de que a ordem pública estava sendo ameaçada, recebeu ordem das autoridades competentes (ou seria incompetentes?) para frear o movimento. E como era de se esperar, os policiais usaram métodos violentos para enfrentar uma multidão que ao invés de armas de fogos, portavam cadernos e livros nas mãos. O ato de covardia é explicado pelo fato de que as lutas que envolvem as questões sociais ainda são marginalizadas por muitos setores da nossa sociedade. Por incrível que pareça, existe uma fantasia coletiva de que, invadir as ruas e soltar gritos de protestos contra a ordem econômica vigente é a mais pura baderna, coisa que só poderia vir de vândalos ou então de uns desocupados que não têm o que fazer.

No caso da #Revoltadobusão, como sempre, a mídia, presa aos interesses das classes dominantes, entrou em cena para deturpar as manifestações, expondo as notícias, de modo que a sociedade não veja com clareza, o desenrolar dos acontecimentos; então a causa da luta sofre discriminação e preconceito por parte de muitos.

Do outro lado, os verdadeiros vilões da história (que em nome do lucro, exploram a população através de um serviço público) ficam nos bastidores, como se estivessem imunizados de qualquer tipo de culpa. O que é perfeitamente esperado, pois no dia em que descobrirem quem são os donos da situação, o povo estará de posse da chave que abre todas as prisões, mantidas pela opressão e exploração.

Spangel_Puppets_by_sueworldEnquanto isso, o Estado assume a frente das circunstâncias, tomando todas as dores das elites econômicas, e colocando tropas para combater os inimigos da conjuntura construída pelas classes dominantes. Daí, cabem todos os recursos possíveis, que vão desde a agressão física, até o festival ideológico que transforma, no imaginário social, os movimentos de protestos em uma ameaça perigosa para a sociedade.

Nesse quadro, o governo é um boneco de fantoche do poder econômico, sem a autonomia necessária para decidir o que é válido para o bem da coletividade. Em outras palavras, um sistema que deveria existir em prol do interesse público, abandona essa função para proteger o lucro de uns poucos. Karl Marx dizia que o Estado era um instrumento das classes dominantes. Parece que o barbudo tinha razão, pelo menos, nesse caso.


Francisco Canindé dos Santos é escritor com dois livros publicados, formado em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela UFRN.