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A Gestão das Cartas

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House of Cards (5)Factoide na Mudança da DEGEPOL[1]

Por Ivenio Hermes

Jogo

Há algum tempo venho descrevendo como se processa a política utilizada pela atual administração estadual, sem descartar as outras áreas, na segurança pública.

Como num jogo de cartas, a Administração Ciarlini passou mais de 50% de seu tempo à frente do Estado do Rio Grande do Norte blefando sobre as ações que adotaria em relação à segurança pública.

A estratégia é simples: passar a maior parte da administração fazendo captação de recursos enquanto a segurança pública se deteriora a ponto de chegar a um nível caótico, cujas soluções parecem impossíveis e num arroubo de “salvador da pátria”, apresenta uma solução final, que por certo agradará aos eleitores de memória curta que aplaudirão e chegarão às lágrimas diante das urnas para garantir poder.

House of Cards (4)Cartas

Entretanto, no momento de apresentar finalmente o jogo para a grande batida e assim a vitória da rodada, é necessário um plano de contingência para mostrar que o Governo não agiu antes porque não possuía verba para investir nas soluções pretendidas.

Para a Administração Ciarlini a desculpa da falta de verba não é sustentável diante das soluções que lhe foram apresentadas para evitar que a crise na segurança pública potiguar se ampliasse tanto que viesse a se transformar num caos.

Entrincheirada pela Lei de Responsabilidade Fiscal e outras desculpas superficiais e sem justificativas, o governo do estado precisa de culpados para imputar a culpa pela inércia da metade inicial da sua administração. Esses bodes expiatórios não expiam nenhuma culpa, afinal, a inação que levou ao índice exorbitante de mortes e crimes violentos no Estado Mamute nunca será punida.

Contudo, mesmo sem receber parte da culpa que os responsabilize de fato, a figura dos gestores começa a cumprir seu papel no jogo da ineficiência administrativa.

House of Cards (2)Trunfo

É o momento de jogar na mesa as cartas trunfo, isto é, é o momento de exonerar os culpáveis.

O Delegado Geral da Polícia Civil, Fábio Rogério, foi quase totalmente inexpressivo durante sua passagem pelo cargo que ocupava desde maio de 2011 até a data de hoje quando foi exonerado do cargo. Eleito pela maioria dos representantes do Conselho de Polícia formado por outros delegados, Fábio agora percebe que a falta de ação diante do órgão que chefiava, a falta de busca por soluções e até mesmo a ausência de uma argumentação mais sólida com a Governadora não lhe garantiram a permanência no cargo, apenas o tornaram o trunfo perfeito a quem imputar a culpa pela ineficiência administrativa do estado.

Agora indignado, Fábio declarou para o Portal BO: “Acabaram com a democracia do Conselho de Polícia, porque o fui mais votado pelos colegas”.

Ele não percebe que não existe mais democracia desde que:

  • Ele deixou de lutar pelo fortalecimento da Polícia Civil;
  • Ele não evidenciou esforço em mostrar para a Governadora que os concursados mereciam respeito e eram o refrigério para uma polícia cheia de problemas de efetivo;
  • Ele passou a se sentir confortável no cargo de chefia a ponto de não se indispor com a gestão administrativa do Estado do RN para não incorrer no risco da perda de seu status e outros.

Agora, o delegado Fábio Rogério deixa o cargo dizendo que não sabia quem o substituiria, mesmo tendo certeza de quem ocupará o cargo a que tanto se apegou.

House of Cards (1)Blefe

Sentindo-se traído pelo jogo da Administração Ciarlini, o delegado Fábio Rogério Silva não segurou a insatisfação com sua exoneração, tanto que expôs seu descontentamento que não combina com o factoide utilizado pela Secretaria de Comunicação do Governo do Estado que afirmou que o delegado informou à governadora que gostaria de retornar a integrar à equipe da Força Nacional dando ensejo e fundamento à sua retirada do cargo.

Inclusive, teria sido após esse desejo de retornar para a Força Nacional manifestado por Fábio que motivou uma reunião nos escalões da segurança pública do Rio Grande do Norte e levou o secretário Aldair da Rocha, Secretário Estadual de Segurança Pública e Cidadania a informar que haveria mudanças na Polícia Civil. Mas Aldair não sabia que Fábio exporia as cartas desse blefe.

E a coisa já estava tão prevista que logo depois da exoneração de Fábio Rogério o nome do delegado Ricardo Sérgio Costa Oliveira, da Academia de Polícia, já saltava para a pauta da nomeação.

Agora somente resta a publicação no Diário Oficial para a confirmação do fim dessa etapa do jogo.

House of Cards (6)Rodada

A próxima rodada desse jogo poderá trazer mudanças sensíveis para a segurança pública potiguar. Enquanto ela não sai, deixo algumas perguntas para reflexão:

  1. Será que o delegado Ricardo Sérgio Costa Oliveira, que já foi da Academia de Polícia, lutará pelo fortalecimento da polícia civil? Ou continuará ele calado como já se manteve diante de fatos como o não pagamento da bolsa para os alunos do curso de formação?
  2. Será que o secretário Aldair da Rocha, Secretário Estadual de Segurança Pública e Cidadania imagina que ele pode se tornar uma carta a ser utilizada para compor o baralho de culpados pela insegurança estabelecida no Rio Grande do Norte? Terá ele ouvido falar que sua substituição já é considerada e que o Coronel Araújo, atual comandante geral da Polícia Militar já é o “secretariável” em pauta?
  3. Será que alguém acredita que verdadeiras políticas de segurança pública estão sendo planejadas dentro da Administração Ciarlini ou a maioria percebe que é somente estratégia de manutenção do poder que ora se planeja nessa administração?

Que as cartas da rodada sejam jogadas na mesa.


[1] Artigo escrito para o amigo e fotojornalista Cezar Alves, originalmente publicado em sua coluna Retratos do Oeste no Jornal de Fato.