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#RevoltadoBusao: Reflexão sobre poder e violência

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É preciso estar atento e forte: não temos tempo de temer a morte


Um antigo compositor baiano já dizia: Atenção/ Tudo é perigoso/ Tudo é divino maravilhoso.  
Parece que a #RevoltadoBusao acaba de chegar nesse estágio de luta social, assemelhado às lutas dos estudantes, mundo afora, não apenas agora mas, também e principalmente em 1968.  Copiamos bem o Maio de 1968.  Inclusive na repressão.
A violação dos nossos direitos como cidadãos chegou às raias do absurdo.  Não bastasse a violenta repressão da primeira das marchas da #RevoltadoBusao em 2012.  Não foi suficiente a violenta ação da PM que destruiu o fim do percurso do Baiacu na Vara no Carnaval da Redinha em 2013.  Não foi o limite a repressão policial da quarta-feira nas ruas de Natal – inclusive com iniciativas para que nada fosse registrado em foto e filme, incluindo o confisco ilegal da câmera de um fotógrafo amplamente registrado.
Ontem, no fim da tarde, os estudantes realizaram uma reunião pública no Centro de Convivência da UFRN.  O objetivo era discutir os próximos passos do movimento.  E não é que apareceu por lá uma viatura do Bope?  Mais que isso: os Policiais foram acompanhados por seguranças do Campus até onde se guardam os registros de filmagem das câmeras de segurança da UFRN.  Supostamente, em busca de imagens que identificassem os estudantes.  Ao menos assim foi entendido por quem estava no local.
É no entanto necessário destacar que o episódio pode ter estado relacionado a um roubo sofrido por uma estudante da Universidade – e que a PM estivesse ali em busca de seus assaltantes.
Entretanto, ainda assim, há aí uma irregularidade.  A UFRN é área federal sobre a qual não há jurisdição da Polícia Estadual.  A entrada de uma viatura do Bope, no mesmo momento em que ocorre uma assembleia da #RevoltadoBusao, constitui sim uma irregularidade a ser explicada pela UFRN e pela própria PM.  Impossível não imaginar na cena uma tentativa de intimidação.
Ainda mais quando os relatos intimidatórios parecem ser ainda mais graves.
Relatos que dão conta de que manifestantes estão sendo abordados e suas identidades fotografadas.  Além disso, há informações sobre uma milícia de policiais montada para ameaçar de morte – e, se necessário, ir às vias de fato – os supostos líderes do movimento.
Tenho lido o francês Michel Foucault, que dedicou boa parte de suas pesquisas a analisar as relações de poder na sociedade.  Uma de suas ideias parece combinar com o nosso atual momento.  Para Foucault, o recurso à violência repressiva é indicação de que se perdeu o poder.  Ou seja, o Estado só parte para a violência quando não possui mais nenhum poder.  A violência, então, não manifesta poder, mas a falta dele.
O governo do DEM, quando estabelece o padrão repressivo na relação com os movimentos sociais e protestos como a #RevoltadoBusao, deixa evidente duas coisas: teme a democracia e sente-se enfraquecido diante da luta social.
Por isso mesmo, a violência da PM indica a falta de inteligência política por parte de quem dá as ordens.  O raciocínio, rasteiro, é que a porrada eliminará o protesto.  Isso pode ser suficiente para dispersar um protesto – mas fará com que o próximo seja ainda mais fortalecido.
Ainda mais que isso: os excessos das ordens – a violência – vazam.  E na disputa política, a imagem da instituição sairá, cada dia, mais arranhada.  Não há visão de fundo, de horizonte.  Olha-se o momento presente, festeja-se uma vitória parcial, mas não se compreende que a disputa é política.  É de poder.  E na disputa política, um movimento reprimido é um movimento que se fortalece, que amplia suas bases de apoio, que angaria apoios.  Que vence a disputa, política, no fim de tudo.
Micarla está aí, que não nos deixa mentir.
A visão política de quem dá as ordens é, incrivelmente, limitada.
Em 1967, gente como Vandré já percebia que o resultado final da luta pelo poder de quem, na instituição, recorre à violência é uma inevitável derrota.  E os que apanham vão somando as contas até o dia em que o cipó de aroeira volta do lombo de quem mandou dar.  Simbolicamente, 2014 está aí.
E de que adianta ameaçar quem está na luta?  O espírito de luta de nosso tempo pode garantir que, quando um morre, mais brotam em seu lugar.  Além da falta de visão política, falta a compreensão dos movimentos sociais do ambiente cibercultural.
É ele quem garante o que belamente afirma O Teatro Mágico:
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro.