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Balanço sobre a #RevoltadoBusão; Polícia, plenárias e comunicação

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Polícia x manifestantes

405776_446964918682139_1193093956_nO excesso policial se tornou mais evidente, em parte, devido aos avanços em relação à utilização de imagens em benefício próprio por parte dos manifestantes. Houve um número maior de imagens denunciando os abusos ocorridos durante o ato. É possível observar, em um vídeo, a tentativa de prender um manifestante apenas porque ele perguntou ao policial qual era seu nome, ou ainda, ouvir um policial que bradava: “bora arregaçar”, enquanto manifestantes sentavam pacificamente. Esses abusos ficaram evidentes devido a dois fatores: haviam mais câmeras e houveram mais abusos policiais. Como evidenciam as imagens de policiais confiscando câmeras. O que significa que a polícia também teme às imagens.

Na rua a força policial sempre prevalecerá, na internet impera a força da imagem e do discurso. O ato de rua serve para pôr em pauta o aumento, nesse sentido, embora criticável, o enfrentamento com a polícia ajuda a colocar o aumento da passagem em pauta na mídia. Mas não esperem que o debate seja qualificado na imprensa ou na rua. Aliás, não esperem que alguém qualifique o debate, seja uma pessoa ou organização, qualifique você mesmo.

Houve melhoras em relação ao vandalismo, embora tenham feito um buraco, na pista em frente ao Midway, para juntar pedras. Mais buracos é o que não precisamos em época de chuva. Entendo o frenesi causado pelo enfrentamento com a força policial. Assim como o gosto estético por pichações e camisas no rosto. Mas utilizar manifestantes pacíficos como escudo para se proteger das consequências desses atos é covardia. Separem-se e formem um pelotão de resistência quando forem atuar dessa forma. Garanto que o frenesi será ainda maior.

Definitivamente as plenárias, nos moldes do #Foramicarla, estão sendo inúteis. Nesse contexto, informar torna-se mais eficiente do que deliberar. Na plenária que pretendia organizar o ato, na UFRN, estavam presentes pouco mais de vinte pessoas. Para organizar um ato que tinha mais de três mil pessoas confirmadas até então. Plenárias são importantes para criar consensos e direcionar forças, mas se não estão sendo eficientes, deve-se primeiro buscar entender o motivo, para em seguida fazer com que elas de fato funcionem. Desejo sucesso para a plenária que acontecerá na UFRN, que me parece será mais numerosa, assim como o entendimento dos presentes de que são apenas uma fração do movimento, as pessoas que não compareceram devem ter um papel maior do que apenas seguir um script deliberado em plenária. E, principalmente, deve haver transparência nas discussões e decisões. Por que não fazer uma ata?

Há um receio em se articular pela internet por medo do monitoramento da polícia. De fato, houve uma investigação da polícia civil no ano passado, em relação a alguns ativistas, muitos deles atuavam com frequência na internet. De certa forma isso assusta, faz-nos lembrar de tempos, não muito remotos em nossa história, em que a polícia possuía também um papel político. Mas a investigação não resultou em nada, além, claro, da perca de tempo dos policias que deviam estar solucionando os inúmeros casos de crimes e homicídios não solucionados no Estado, ao invés de bisbilhotar o Facebook alheio.

Se a polícia monitora o movimento, o movimento deve monitorar a polícia. Isso inclui: expor as ameaças, filmar os policiais que se exaltam no uso da força, denunciar os abusos. De fato, houve um avanço considerável nesse sentido esse ano. Além disso, deve-se conscientizar os policiais da importância e da necessidade em se debater o transporte público na capital. Afinal de contas, muitos policiais utilizam o transporte público. É necessário que haja um diálogo constante com a polícia. Embora a própria cultura militar da categoria dificulte esse diálogo.

O movimento não pode se perder nesse dualismo entre policiais e manifestantes, não são eles os inimigos. Ao contrário, se o movimento souber se utilizar dessas falhas em proveito próprio, poderá utilizar a ação truculenta da PM em seu benefício, angariando apoio entre a população e forçando a polícia a rever sua ação repressiva. Isso já acontece em atitudes como a divulgação de um modelo de BO para a corregedoria da polícia, destinado àqueles que sofreram agressão policial, possibilitando com isso que as vítimas realizem o exame de corpo e delito no ITEP. Isso é importante para que os excessos sejam coibidos e os responsáveis punidos. Afinal de contas, um disparo de bala de borracha na cabeça e em lugares como o peito e o pescoço pode ser fatal, por isso, os disparos devem ser efetuados exclusivamente nas pernas. As imagens dos manifestantes feridos e dos policiais atirando, mostram que essa recomendação não foi seguida.

http://www.youtube.com/watch?v=76FGK1BTDkA

A batalha fora das ruas

O movimento precisa se comunicar. Não através de comissões burocratizadas ou partidarizadas, mas, sobretudo, através de iniciativas espontâneas, no contato direto com amigos, familiares, através das redes sociais. Informando que o transtorno de uma manifestação passa, mas os benefícios advindos dela ficam. Como o congelamento da passagem conseguido pelas manifestações ocorridas no ano passado. Ou ainda, o requerimento aprovado ontem pela Câmara Municipal que solicita ao prefeito a revogação do aumento da passagem, que lamentavelmente foi negado . São vitórias conquistadas na rua.

A população precisa ser convencida a se engajar na causa. Aceitar chegar mais tarde em casa, por um motivo justo, é uma forma de participação tão importante e dispendiosa quanto os que marcham nas ruas. Não era rara a cena, durante o #Foramicarla, de pessoas nos ônibus e nas paradas aplaudindo os manifestantes, ou ainda, de motoristas nos carros dando sinais de apoio, ou até mesmo descendo dos carros e pulando com a multidão. Não se vê imagens como essas tão frequentemente nos protestos atuais.

O fato é que uma parte considerável da população compra a imagem que a imprensa local faz dos manifestantes, veiculando apenas imagens de jovens encapuzados e pichações, associadas a imagens de policiais atirando bombas e balas de borracha. Isso não é em vão, trata-se de vender os manifestantes como rebeldes sem causa e criar um clima de medo e insegurança nos protestos. Imagens assim atraem pessoas que buscam o enfrentamento e depredações, afastando aquelas que buscam apenas manifestarem sua indignação.

A guerra de imagens fica evidente no depoimento maliciosamente alterado no telejornal da InterTV Cabugi, que retirou da veiculação todo o testemunho positivo que a repórter deu sobre o caráter pacífico da manifestação e a atitude desproporcional da polícia. Mostrando apenas trechos curtos e desconexos do relato do manifestante e da repórter. Além de discursos lamentáveis como o de Marco Carvalho no Novo Jornal.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=n7CXrFrtJEg

Portanto, troquem pedras por câmeras, filmem as equipes de filmagem, gravem depoimentos. Potencializem o protesto através do lúdico. Troquem xingamentos por risos. Criem conteúdo. O protesto não é essa guerra que mostram. Divirtam-se…