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Ditadura Militar: O aeroporto Aluizio Alves e o estádio Castelo Branco

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Originalmente publicado no Nominuto.com

 

sao-jose-do-amarante1Quando eu nasci – quando entrei pela primeira vez em um estádio de futebol, aos 6 anos – o nome de nosso estádio era Castelo Branco, homenagem ao presidente-ditador.

Não levou muito tempo, após a redemocratização, para que, com justiça, a homenagem prestada por quem construiu o estádio fosse substituída: saiu o general ditador e entrou em seu lugar o ex-presidente da Federação de Futebol, João Claudio de Vasconcelos Machado, falecido em 1976.

O estádio começou a ser construído na gestão de Agnelo Alves (1966-1969).

A história do estádio me lembra, agora, a nomeação do aeroporto de São Gonçalo do Amarante.  Comissão na Câmara dos Deputados aprovou que o nome do aeroporto seja Aluizio Alves.  Lamentável.

Quando o golpe de 1964 chegou encontrou na prefeitura de Natal Djalma Maranhão e no palácio Potengi, do outro lado da rua e da praça, o governador Aluizio Alves.  Enquanto as trevas se abatiam sobre a prefeitura e o prefeito – que morreria, depois, no exílio uruguaio -, Aluizio foi apoiador de primeira hora do golpe que retirou do poder o presidente João Goulart – e nos lançou em 21 anos de ditadura militar.

Não satisfeito com o puro apoio, Aluizio se tornou o único governador a instaurar um inquérito, de imediato, para investigar os esquerdistas e “subversivos” em atuação no RN.  É o Relatório Veras, recentemente lançado no formato de livro pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular.

Esse aspecto da história de Aluizio Alves – o governador que ajudou a derrubar João Goulart e promoveu a primeira perseguição do novo regime a esquerdistas e “subversivos” no RN – é reiteradamente esquecido ou apagado.  Vende-se a imagem de Aluizio democrata.  E justifica-se tal com a cassação sofrida por ele e seus irmãos no fim dos anos 60.  Engraçado é que, como exemplo, Carlos Lacerda, apoiador do golpe, também foi cassado posteriormente.  Mas o papel de Lacerda na insurreição cívico-militar de 1964 nunca é questionada – ou apagada – como fazem no RN com Aluizio.

A meu ver, homenagear o aeroporto com o nome de Aluizio Alves representa o mesmo que chamar o estádio de Humberto de Alencar Castelo Branco. Ambos significam a entrada do país no período de arbítrio, tortura, trevas, mortes, dor.

As vezes, as pessoas, no entanto, escorregam.  Recentemente, a Câmara devolveu, simbolicamente, o mandato de deputado a Aluizio.  O atual presidente da Câmara, Henrique Alves, seu filho, se referiu ao movimento de 64 como “Revolução”.

O DNA não pode ser negado.