A figura do Bruno Giovani mereceria um livro. Acho que em Natal ainda não apareceu uma vítima maior do ressentimento das pessoas do que o autor do Blog do BG.
Antes de abrir o debate, ressalto contra os maniqueístas que a crítica a sua maneira de fazer jornalismo é válida. Mais. Necessária. O professor universitário Daniel Dantas empreendeu uma boa análise sobre o “fenômeno” Blog do BG. O jornalista Alex de Souza, colunista do qualificado substantivo plural, também.
Mas ao contrário de Daniel Dantas e Alex de Souza, que criticaram o referido Blog preservando a pessoa do produtor e o seu direito de escrever aonde bem entender – todo mundo pode escrever, dominando ou não a ortografia, não é? –, os jornalistas de Natal se irritam, às vezes, muito mais com a grana que ele está ganhando, às vezes, muito mais com o sucesso que um cara sem diploma faz.
Na leitura nada interessante, mas interessada, o jornalismo estilo BG é contraposto a um suposto modo idealizado de trabalhar a informação no RN, que parece existir apenas quando o objetivo é malhar o dito cujo e praticar a auto-exaltação. Ora, é fato que o Bruno Giovanni queima, digamos, etapas, que ele copia o conteúdo de terceiros sem nenhum tipo de contextualização e com a fonte bem escondida lá no término do texto. Nesses tempos de internet, aonde o leitor entra e sai de um site muito rapidamente, deveria ser regra publicizar o crédito do trabalho de outrem em cima, logo no início, para que fique bem claro quem, realmente, produziu a nota, a informação, a análise.
Mas o Blog do BG não age muito diferente daqueles que se apresentam como o lado bom da moeda. A Tribuna do Norte, principal jornal do RN, plageia com frequência o labor dos outros. No chamado escândalo do Trem da Alegria da AL-RN, furo do jornalista Dinarte Assunção, a Tribuna do Norte disse: “surgiu nas ‘redes sociais’, bla, bla, bla”. Capturaram aquilo que foi gerado pelo Dinarte sem maiores constrangimentos.
A ação não se restringe ao mundo da internet. Um jornalista de Tv me contou que, sistematicamente, “coincide” do jornal da Inter-Tv veicular reportagens semelhantes, com a mesma argumentação de outras emissoras em relação aos acontecimentos da cidade. Por exemplo, o referido períodico televisivo trouxe matéria sobre os 10% cobrados por bares e restaurantes de Natal dois dias depois de outro jornal de bem menor porte. A cópia, segundo o jornalista, era evidente. “Só não repetiram as minhas falas”, me disse. A desonestidade intelectual é menor? Na ânsia de mostrar que nunca é pautado, se tornou prática corrente apenas fazer Control C – Control V e posar de vanguarda, de portador de informantes exclusivos. Bruno Giovanni só exacerba a corrente.
O conteúdo propagado pelo Blog do BG, frequentemente, é sensacionalista, preconceituoso em relação aos homossexuais e mulheres e se aproxima perigosamente de uma visão fascista quando o assunto são os movimentos sociais. A temática dos Direitos Humanos vira, quase que diariamente. motivo de insinuações obscurantistas. Entretanto, mais uma vez, no que isso difere do que é praticado em Natal? Além do Blog do BG, quantos jornalistas, jornais, blogs, portais e ditos “formadores de opinião” não incitaram a polícia a bater nos manifestantes da Revolta do Busão, que tomou as avenidas da cidade para protestar contra a assintosa interação entre empresas patrocinadora de políticos, concessões públicas e um grande prejuízo social? Quantos jornalistas não inventaram verdadeiras inverdades sobre o ocorrido? Para defender o Seturn que estampa o seu blog, quantos não deram crédito a estórias de velhinhas sendo atacadas por estudantes e gente supostamente morrendo a caminho do hospital, em decorrência das manifestações? Hoje todo mundo é oposição a Micarla, mas é bom não esquecer que a grande imprensa local se mostrou contrária à movimentação política promovida pelo #ForaMicarla. Quantos herdeiros de Gutemberg não vibraram e publicaram textos, defendendo a ação de um médico justiceiro que deu seis tiros num ladrão já de costas e cambaleando? Pelo que me lembro, BG não foi o único. O Blog do BG é regra, não exceção.
Outro dia, num tolo e preconceituoso debate matutino no Twitter, alguns jornalistas falavam dos erros gramaticais do BG. No final, o seguinte argumento de fundo: ele tem sucesso porque escreve mal e atende as massas incultas da cidade (ou seja, inteligente é quem acompanha o jornalista que mobilizou o magnânimo raciocínio). No final, só lobby, com um racismo da inteligência colorindo a paisagem e dizendo: um cara desses, sem diploma, não deveria nem ter um blog. Prestígio? Só para o intelectual aqui. Mas criticar os figurões do jornalismo que dão a linha de como se produz no campo e com quem notoriamente BG aprendeu com o mau exemplo, nada.