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Dia Internacional da Mulher 2013

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womens_by_hiperaktifkoalaReconhecendo a Mulher Locomotiva

Por Ivenio Hermes

Ato I

Cena I

O convívio com as notícias diárias sobre a crescente onda de cometimento de crimes está banalizando as programações de televisão, não existe mais nenhum critério sério de censura e comenta-se sobre crimes bárbaros nos horários mais inconvenientes da televisão.

A degradação humana atinge tal intensidade que para conviver com essa realidade cruel as pessoas passam a se habituarem às cenas de violência e as cores da morte que tingem os jornais impressos e televisionados, mas ainda conseguindo atingir os mais preparados para essas situações.

A violência antes estilizada para conter seu potencial agressivo, agora está fugindo das telas da TV, saltando dos monitores de computador, escapando das páginas dos jornais e livros e caindo nas calçadas da vida real.

Cena II

Uma estudante chegara bem cedo na faculdade e dentro da sala vazia ela encontrou sossego para tentar reordenar seus pensamentos embaralhados pela preocupação. Essa estudante não era uma aluna comum, ela já era mãe de 3 filhos, vovó de dois netinhos e que mora longe de seus queridos devido a essas muitas circunstâncias da vida.

Sempre motivada para os estudos e incentivadora dos alunos mais jovens, naquela manhã ela estava quebrada por dentro diante do possível diagnóstico de uma doença em sua filha. A mãe-estudante-vovó estava acorrentada às preocupações e para não sucumbir à depressão, levantara cedo e agora dentro da sala de aula, enquanto tentava estudar para um trabalho que apresentaria logo mais, desabou em lágrimas.

Cena III

A professora/administradora chegava sempre cedo em seu atual trabalho e estava sempre disponível para buscar soluções para os problemas de seus colegas.

Possuidora de uma larga experiência, oriunda de habilidades desenvolvidas num dos ambientes mais inóspitos do convívio humano, um presídio, onde ela teve a chance de cuidar de pessoas que haviam perdido tudo e, portanto não tinham mais nada a perder, ela não parecia medir esforços para ajudar ninguém.

No trabalho que ela realizou com as pessoas privadas de sua liberdade por que haviam cometido algum crime e precisavam ficar afastadas do convívio com a sociedade livre e obediente, ela não deixava de trata-los com a maior humanidade possível, proporcionando dignidade e respeito aos párias sociais que muitos sequer se importam como vivem.

Numa certa manhã, um de seus alunos estava realizando um trabalho e ela se aproximou dele. Seu olhar feminino captou diversas falhas na área de convivência daquela instituição e ela começou a falar de suas ideias e planos para tornar o ambiente mais propício para o desenvolvimento das atividades que ela queria ver acontecendo.

International Women's Day by Life SeductionAto II

Cena I

Os homens gabam-se de sua natureza mais rústica e consequentemente de sua capacidade de enfrentamento dessas cenas cotidianas. Eles fazem piadas, anedotizam a vida, ocultando as feridas que a insegurança geral causa em suas mentes aparentemente inabaladas. Com o tempo, alguns desses mesmos homens fortes, acabam se entregando às fugas costumeiras do álcool, do vício em jogos e, às vezes, da recrudescência dessas dores ocultas em forma de violência doméstica cuja principal vítima é a mulher.

Enquanto isso, as mulheres, por sua conhecida natureza mais sensível, reagem com lágrimas, arroubos de ação emocional, mas que por reconhecerem aquilo às fragiliza, desenvolvem uma tenacidade de raciocínio que somente a inteligência emocional de seres ímpares pode despertar.

Cena II

Era muito cedo e um professor chegara inusitadamente antes do tempo e caminhava pelos corredores quando notou a aluna e entrou na sala para cumprimenta-la. Ao deparar-se com as lágrimas da aluna e sendo colocado a par da situação dela, ele que já a conhecia de algum tempo na atividade acadêmica, ofereceu a ela seu apoio, e num gesto pleno de amizade, chorou com ela.

Aquele foi o gesto de amizade que aquela guerreira mais precisava naquele dia.

Mas em 8 de março de 2013 mais um Dia Internacional da Mulher é comemorado, e todos se enchem de emoções para prestar suas homenagens, mas nem todos conseguem manter até o ano seguinte, a apologia suscitada nesta data.

Cena III

Ao se inteirar da atividade que seu aluno estava desenvolvendo ela prontamente o incentivou e até compartilhou sentimentos sobre melhorias que ela deseja implantar.

Num determinado momento, o aluno mencionou como era difícil ver um certo colega sorrindo, e ela, pensativa, disse: “Ele é muito contido.”

A sensibilidade daquela mulher quase a levara às lágrimas em outra ocasião posterior. Foi um momento de transparência total de um ser humano que estava imbuído de querer realizar o que melhor fosse possível para aqueles de sua área de influência.

Women's Rights Are Human Rights by Why NotAto III

Cena I

Dia 06 de março houve uma sessão solene do Congresso Nacional, onde algumas mulheres foram nominadas para serem agraciadas com o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz no Dia Internacional da Mulher em comemoração a esta data.

Em sua 12ª edição, o prêmio destacou cinco mulheres com atuação em áreas como assistência social, direitos femininos, saúde e educação. Dentre elas a educadora Adélia Moreira Pessoa e a missionária Luzia Santiago receberão o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz.

O prêmio foi instituído pela Resolução do Senado Federal nº 2/2001 para homenagear mulheres cujas contribuições para a defesa dos direitos da mulher tenham sido relevantes. A cerimônia de premiação ocorre sempre em março, como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher, mas as indicações costumam ser feitas no final do ano anterior, e julgadas por uma comissão instituída para tal fim.

Cena II

Bertha Lutz, que empresta seu nome ao diploma, nascida em 1894 e defensora do voto feminino em seus dias, foi uma das pioneiras na defesa dos direitos da mulher no Brasil. Ela foi deputada federal, quando lutou pelos direitos trabalhistas da mulher e do menor. Bióloga de profissão, formada pela Sorbonne, trabalhou como pesquisadora do Museu Nacional por mais de 40 anos. Ela faleceu em 1976, sempre honrando sua palavra e suas lutas.

Mas existem milhares de mulheres que em seu universo de influência lutam pelos direitos de todos, vivem em constante combate para garantir igualdade de tratamento, mais humanidade, mais fundamentação das garantias individuais.

Cena III

As guerreiras anônimas, não recebem prêmios, não são ovacionadas em suas aparições públicas, não são reconhecidas pela dor e sofrimento que passam, para garantir a felicidade de outros.

Como premiar pessoas cuja vida já é um prêmio para quem com elas convivem?

O Brasil é o 12º país com maior taxa de homicídios femininos, isso sem falar no enorme índice de violência contra a mulher. Portanto, impedir o contínuo aumento desses índices, deveria ser a maior homenagem que o cidadão brasileiro poderia prestar às mulheres, mas ocorre uma verdadeira enxurrada de textos emotivos para tornar as mulheres mais sensíveis ainda, através da apologia sentimental.

No restante do ano, a violência sofrida diariamente pelas mulheres, a discriminação ainda sofrida quanto às condições de trabalho e apelo sexual utilizando a mulher contínua se fazendo presente.

Cena IV

A teledramaturgia disfarçadamente ensina as próprias mulheres a serem machistas ao incentivarem seus filhos e maridos às práticas que as subvertem a categoria de objeto, pois o modelo do profissional bem sucedido geralmente é o de um homem, que também é o cientista inteligente, o corajoso herói. Enquanto o modelo feminino estereotipado de beleza e sucesso é de uma mulher com nádegas exageradas, meio burra, de fala cantada, que recebem nomes de frutas para alimentarem mais ainda as fantasias sexuais.

Programas como Big Brother Brasil mostram o apelo erótico geralmente tendencioso para o lado masculino, expondo o corpo e as curvas das frutas.

A mulher locomotiva, aquela que arrasta pessoas pela sua capacidade de incentivar e motivar todos ao seu redor, não possui mais valor.

A coisificação da mulher como sendo objeto do homem a reduz a uma condição de submissão que não possui poder de decidir sobre suas próprias roupas, pois vive em função das tendências modistas que agradam aos homens.

Ato Final

Desculpem se o texto alusivo ao dia das mulheres de 2013 não esteja tão carregado de emoção como os outros que estão alimentando a internet. Mas é preciso dizer o que precisa ser dito.

A aluna do Ato I Cena II tinha aquele professor como o ministrador da disciplina mais desgastante para ela, mas ele e ela souberam desenvolver a empatia necessária para se tornarem grandes amigos.

A professora/administradora do Ato II Cena III sabia reconhecer a dor contida no sorriso de seu aluno.

Bertha Lutz do Ato III Cena II foi um exemplo de ser humano que merece ser lembrado todos os dias.

Respeitar uma mulher é isso. O justo reconhecimento das atitudes diárias, algumas vezes notórias, outras nem tanto, mas todas dignas de valor.

Quando os homens do Ato II Cena I deixarem de homenagear as mulheres somente no dia 8 de março, eles poderão com a ajuda de pequenas cenas reais do cotidiano, reconhecer a mulher locomotiva, despertando para um entendimento melhor da natureza feminina e buscar inspiração nela, para serem melhores seres humanos.