Por Alisson Almeida, Jornalista
O deputado Felipe Maia (DEM-RN) parece ter herdado do pai, o senador José Agripino Maia, presidente nacional do DEM, o dom do cinismo. Agripino, vocês se lembram?, é aquele que, na década de 1980, mais precisamente em 1985, tentou eleger Wilma de Faria, sua então aliada, prefeita de Natal na base do “rabo-de-palha”.
O DEM, partido de Agripino e Felipe, tem ligações históricas com a ditadura militar. O sistema que vigorou de 1964 a 1985 no Brasil, entre outros feitos, cassou mandatos parlamentares, fechou veículos de imprensa, torturou e matou em seus porões centenas de militantes de esquerda.
Na época que dava sustentação ao regime de exceção, a legenda se chamava Arena. Mudou para PDS e, depois, PFL antes de ser DEM. Imaginavam que, trocando de nome, reescreveriam a história e apagariam suas digitais desse período sombrio do passado brasileiro.
O DEM de Agripino e Felipe tentou melar, ontem, a exposição, organizada no corredor de acesso ao plenário da Câmara dos Deputados, em comemoração aos 33 anos do PT. Os filhotes da ditadura colocaram um painel com capas de jornais sobre o “mensalão” na frente das fotos históricas do Partido dos Trabalhadores.
A provocação infantil e desrespeitosa, claro, terminou em confusão. O deputado Amauri Teixeira (PT-BA) enfrentou Felipe Maia e seus colegas democratas (?!), arrancou o painel do corredor e trocou insultos com a turma do líder José Agripino.
No “Jornal de Hoje”, Felipe Maia acusou o PT de demonstrar “repúdio pela liberdade de expressão”. Não há outro adjetivo para isso a não ser cinismo. Por tudo que mencionei antes sobre o DNA político do filho de Agripino, acusar os petistas de serem inimigos da liberdade de expressão é imaginar que somos todos idiotas de carteirinha.
Felipe Maia quer inverter os papéis. A atitude no DEM não tem nenhuma ligação com liberdade de expressão. Foi, isso sim, provocação barata. Imaginem vocês o que aconteceria se o PT fizesse um painel sobre a história do DEM na ditadura militar, ou sobre o “rabo-de-palha” de Agripino… A multiplicação de editoriais, colunas e artigos no PIG condenando o abuso petista duraria, pelo menos, uma semana.
Antes de falar em liberdade de expressão, Felipe Maia deveria sugerir ao seu partido que fizesse uma mea culpa por ter dado sustentação, durante 21 anos, ao regime responsável pela morte de centenas de brasileiros que lutaram contra os abusos dos generais de plantão. Enquanto não reconhecerem, humildemente, sua própria história, Felipe e seus correligionários não têm o direito de meter o dedo na história dos outros.