Do blog do Daniel Dantas
Experimento realizado em Natal por equipe de @miguelnicolelis uniu mentes de ratos em dois continentes
Experimento publicado hoje pelo neurocientista Miguel Nicolelis e sua equipe promete uma revolução: dois ratos foram capazes de se comunicar “telepaticamente”.
Parte desta pesquisa foi realizada em Natal.
A experiência já foi notícia nos seguintes sites e portais brasileiros:
Folha (Débora Mismetti)
http://app.folha.com/m/noticia/217912
EBC Tecnologia
http://www.ebc.com.br/tecnologia/2013/02/cientistas-criam-rede-de-informacoes-ao-conectar-cerebros-de-ratos
Correio Popular (Campinas)
http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/02/capa/nacional/34239-brasileiro-conecta-cerebros-de-ratos-em-continentes-diferentes.html
No exterior, a pesquisa já é destaque nos seguintes veículos:
Wired:
http://www.wired.com/wiredscience/2013/02/rodent-mind-meld/
The Guardian
http://www.guardian.co.uk/science/neurophilosophy/2013/feb/28/brain-to-brain-interface
The Washington Post
http://www.washingtonpost.com/world/report-rats-collaborate-telepathically-in-neurotechnology-research-project/2013/02/28/112771b8-81c4-11e2-b99e-6baf4ebe42df_story.html
http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-21604005Abaixo, o texto da Folha de São Paulo:
Informações motoras e táteis foram transferidas do cérebro de um roedor para o outro por meio de uma interface criada por pesquisadores da Universidade Duke, nos EUA, liderados pelo neurobiólogo brasileiro Miguel Nicolelis.
Para o experimento, foram usados pares de roedores, nos quais um era o codificador e o outro, o decodificador.
Em uma das etapas, o codificador deveria pressionar a alavanca certa para obter água, de acordo com o acionamento de uma luz de LED. Havia duas alavancas: quando a luz se acendesse acima de uma delas, a da esquerda ou a da direita, ele deveria acioná-la.
Durante a tarefa, os cientistas registravam a atividade elétrica das células de seu córtex motor por meio de microeletrodos implantados no cérebro do roedor codificador.
Essa informação foi transmitida ao córtex motor do decodificador por meio de pulsos elétrico inseridos no cérebro do animal. Segundo Nicolelis e colegas escrevem na “Scientific Reports”, o animal decodificador conseguiu acertar qual era a alavanca certa em cerca de 70% das tentativas, lembrando que ele não teve a dica da luz dada ao primeiro roedor.
Quando o decodificador acertou, ele recebeu a recompensa e, ao mesmo tempo, foi enviado um feedback ao codificador, que recebeu de novo a gratificação. Com isso, é estabelecida uma colaboração entre os animais. “Essa foi a grande surpresa. Não sabíamos o que ia acontecer, já que isso nunca foi feito antes”, afirmou Nicolelis à Folha, por telefone.
Em vídeo divulgado junto com o estudo, o neurocientista disse ainda que, quando havia uma falha na realização da tarefa e o codificador ficava sem a recompensa, ele realizava a tarefa de forma mais clara, “limpando” seu sinal cerebral, para receber a gratificação.
“Isso mesmo sem ele saber que, em outra caixa, havia outro animal realizando a tarefa.”
Uma segunda etapa do experimento usou informações táteis: o roedor codificador tinha que perceber, com seus bigodes, qual era a abertura larga e qual era a estreita e indicar, virando o focinho para a esquerda ou direita, qual era qual. De novo, a informação foi transmitida em tempo real entre os roedores com sucesso. O decodificador, mesmo sem ter encostado nas aberturas, soube indicar em 65% das ocorrências, qual era a largura percebida pelo codificador.
Com o treinamento do uso da interface cérebro-cérebro, diz Nicolelis, o decodificador conseguiu criar uma representação dos bigodes do primeiro animal.
“Vimos que, quando os animais interagem, ocorrem modificações em ambos. Estamos começando a realizar esse trabalho em macacos, e os resultados se amplificam, dada a maior complexidade”, disse Nicolelis à reportagem.
O trabalho com primatas deve ser apresentado ainda neste ano em um congresso científico.
Uma terceira parte do estudo com roedores demonstrou que é possível enviar essa informação a uma grande distância: um roedor no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, no Rio Grande do Norte, realizou a tarefa, captada por um segundo roedor em Duke, na Carolina do Norte, EUA.
Um laboratório foi preparado ao longo de dois anos para realizar o experimento, e a equipe brasileira recebeu treinamento específico. “Hoje, além de Duke, só há um outro local onde é possível reproduzir esse trabalho, em Natal.”
Para o neurocientista, o trabalho é uma demonstração de que é possível criar um novo tipo de computação, no qual cérebros de diferentes animais podem colaborar em um só pensamento para resolver uma tarefa.
“Queremos estudar a possibilidade de um sistema de computação orgnânico, usando as características únicas aos cérebros de mamíferos que não podem ser reproduzidas por um computador. Ainda não sabemos qual é a capacidade disso, mas agora vamos medir objetivamente.”