Os detratores de Nicolelis, dentre outras coisas, demonstram desconhecimento sobre o funcionamento da produção do conhecimento. Uns por ignorância, outros por má fé. Na verdade, a questão de fundo é o que Nicolelis representa para a ciência brasileira, para um discurso de afirmação do Brasil, que sempre foi próprio da esquerda e que o neurocietista endossou.
A tentativa de desqualificar Nicolelis é a busca de descaracterizar um trabalho pioneiro de investimento que o governo do PT fez na academia brasileira, algo que a coalizão de centro-direita puxada pelo PSDB considerou ser secundário, ou que deveria ser capitaneado pela dita iniciativa privada (imagine, caro leitor, o que representará o sucesso das pesquisas de Nicolelis para a disputa eleitoral em 2014. É o que incomoda).
Nicolelis, além disso, comete a impostura de criticar a mídia hegemônica, de mostrar suas incongruências, algo inaceitável para o Estadão, Folha e cia.
O palmeirense também pratica outro desaforo inconcebível. Além de seus estudos, Nicolelis produz um trabalho de educação científica e atendimento de mulheres grávidas fantásticos. Mas não faz disso uma plataforma política, nem permite que outros oportunistas se aproveitem desse legado.
Diante de tal contexto, os inconformados com os recursos que Nicolelis e seu grupo vêm legitimamente recebendo, utilizarm de estratégias torpes de desqualificação, jogando com o desconhecimento das pesoas em relação ao modo de funcionamento do campo científico, com insinuações e ações golpistas.
São cidadãos que se apresentam como cientistas, mas que atuam nos bastidores com um objetivo claro – anular qualquer possibilidade de um projeto nacional e validar um entreguismo típico de outras eras.
É a disputa sobre o que o Brasil deve fazer que está em jogo. Se continua se comportando como um país periférico, ou lidera uma ciência tropical.
CIÊNCIAS SEM AS FRONTEIRAS DA CASA GRANDE
O governo brasileiro está subsidiando os estudos de 15 mil cientistas no exterior. A imprensa internacional está tratando o investimento como uma verdadeira revolução para as próximas décadas. No Brasil, no entanto, pouco se ouve falar sobre o assunto. É a atitude reativa típica que aparece toda vez que um país tenta se afirmar como autônomo.
Com o retorno desses brasileiros, possivelmente não teremos mais de pagar patente para o uso de tecnologias e passaremos a produzir computadores, agrotóxicos, celulares, materiais hospitalares, remédios, etc, tudo aqui no Brasil.
Isso quebrará com uma cadeia comercial que privilegia empresas internacionais e uma burguesia atravessora que lucra com a intermediação desses negócios. Enfim, algo bem complicado de engolir.